Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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terça-feira, abril 04, 2006

Uma oposição escondida


Passado um ano de governação socialista, temos de admitir que José Sócrates deu um novo alento à economia do país ao anunciar semanalmente medidas para tirar Portugal da crise em que se encontra. Muitas dessas propostas, pelo teor e pela forma propagandística de apresentação, são polémicas e provocam debates acesos na opinião pública e publicada. Mas, talvez, pelo facto de termos batido tão fundo, a população aceita as decisões mais controversas. O maior partido de oposição, o PSD, tem tido imensas dificuldades em criticar o Governo. Não pelo facto de ter sido governo antes desse, mas sim pela simples razão de apoiar a maioria das decisões do actual. Porquê? Porque este é um governo socialista de centro-direita.

Enquanto governo, o PSD e o CDS/PP não foram tão ambiciosos. Agora, custa ser-se contra aquilo que se defende. Toda a gente notou, daí estes partidos não se conseguirem impor como alternativas credíveis. Por um lado, ainda bem. A estabilidade é meio caminho andado para a recuperação do país. Da Esquerda nem se fala. O PCP e o Bloco de esquerda não estão à altura de enfrentar os actuais problemas. Refugiam-se ou na utópica luta dos trabalhadores contra os patrões “capitalistas” ou andam a desfilar em manifestações contra o demónio americano e a favor dos casamentos gays. Mas existe uma verdadeira oposição que está escondida ou, talvez, adormecida. A oposição feita pelo próprio Partido Socialista.

O actual governo, chefiado por socialistas, tem políticas que se distanciam da sua esfera ideológica, aproximando-se daquilo que a Direita portuguesa defende. Daí Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, ter acusado o Governo de ser liberal. Algumas das políticas reformadoras encetadas vão mesmo contra os princípios tão queridos do PS: a reforma da Segurança Social, a da Administração Pública, por exemplo. A própria postura do Primeiro-Ministro, aflorando a arrogância, distancia-se do princípio conciliador e dialogante dos socialistas. Não é que a atitude de José Sócrates seja reprovável, pois os portugueses, depois de uma vida folgada mas inconsciente, precisam de alguém que imponha alguma autoridade e mostre determinação. Mas o problema reside nos socialistas que votaram no seu partido e se vêem defraudados. Provavelmente, alguns dirigentes estão a ficar descontentes com algumas medidas, nomeadamente na forma como são propagandisticamente anunciadas. No entanto, o silêncio reina porque, por enquanto, o apoio ao governo deve ser incondicional. A única voz discordante é a de Manuel Alegre que depressa deixou de ter impacto. E isso por uma razão: a Comunicação Social. Esta última tem ficado ofuscada com a catadupa de anúncios ou de decisões tomados pelo executivo. Quando se debate e discute uma nova proposta, aparece logo outra, anulando assim uma possível polémica à volta da mesma. Para ilustrar esta ideia, convém não esquecer que, para “apagar” a controvérsia sobre a demissão do anterior Ministro das Finanças, foi apresentada a candidatura de Mário Soares à presidência da república.

Até agora, o executivo tem anunciado, proposto, decidido. Dentro em breve, se verá o impacto das decisões tomadas. Não obstante dar-se o mérito a quem tome uma atitude activa e determinada, veremos se as políticas terão sido as mais acertadas. Se muitos socialistas esconderam a sua insatisfação (e o seu voto) pelo partido ter apoiado Mário Soares, a partir do momento em que um dos seus ministros se tornar demasiado incomodativo e a contestação social for mais forte, aparecerão vozes internas a apelar para o regresso do governo à sua origem política: o socialismo.

Quanto à oposição de Direita; há que ter paciência. De nada serve piscar o olho aos socialistas descontentes. O PS voltará a ser o que era.

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