Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, março 05, 2006

As lágrimas do Presidente


Após uma década como presidente da república, Jorge Sampaio despede-se do país e passa o testemunho a Cavaco Silva, o primeiro presidente de centro-direita a ser eleito no Portugal democrático. Saber se o país se encontra melhor dez anos passados é uma pergunta pertinente, mas cuja resposta não depende só da avaliação da magistratura de Jorge Sampaio. Ainda é cedo para fazer um balanço histórico isento da sua presidência, no entanto, já se pode tecer algumas considerações.

Jorge Sampaio ficará na memória dos portugueses como um presidente sensível, que se emociona facilmente e até chora em frente à população. Esta imagem é positiva e fomenta carinho dos cidadãos para com ele. Esteve atento aos problemas que o país enfrenta, apelando, diversas vezes, para pactos de regimes entre os partidos políticos de forma a resolver questões de ordem estrutural. A justiça será a questão mais polémica e em que o presidente mais insistiu no referido pacto. Não deixando de mostrar a sua preocupação, não foi, porém, capaz de tratar do assunto, nem de ajudar a resolvê-lo. Exemplo disso é o recente caso do “Envelope 9”, em que pressionou o Procurador-Geral da República para investigar o caso urgentemente e, passado um mês e meio, ainda nada se sabe de concreto. Os limites dos poderes presidenciais dependem da forma como o presidente em exercício os interpreta e os exerce. No passado, Mário Soares formara uma autêntica oposição ao então governo de Cavaco Silva. Por isso, é de considerar que houve alguma tibieza por parte de Jorge Sampaio na tentativa de solucionar as questões mais delicadas. Numa perspectiva geral, teve dois mandatos muito diferentes um do outro, mas ambos marcantes para a história da política portuguesa.

O primeiro mandato ficará marcado pela sua intervenção na política internacional. Com a questão de Timor e toda a luta diplomática em prol da independência, ficou visto como um herói pelo povo maubere e reconciliou-se o país colonizador com o colonizado. O segundo mandato, o pior como o próprio diz, teve mais uma perspectiva nacional, em que as crises políticas começaram a sucederem-se umas às outras. Começando com a demissão do primeiro-ministro António Guterres depois das eleições autárquicas de 2002, da saída inesperada de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia, da consequente formação de um novo governo chefiado por Santana Lopes e do respectivo “despedimento deste com justa causa” por suposta incompetência, estes últimos anos foram atribulados para o presidente, bem como para todos os portugueses. Numa altura em que o país precisava de estabilidade para ultrapassar a crise em que se encontrava, os seus governantes mergulhavam-no num abismo de incertezas. Concordando com a maioria das deliberações tomadas pelo presidente, a decisão de destituir Santana Lopes ficará um mistério até Jorge Sampaio escrever as suas memórias. Mistério, porque demitir um governo após quatro meses em funções (tempo esse em que não se prova praticamente nada) foi um exercício temerário, em que jogou a sua autoridade política. O bom disto tudo é que o novo governo, chefiado por José Sócrates, está a dar-lhe razão: para ir para a frente, o país queria e fez uma mudança para a Esquerda.

No dia da investidura do novo presidente da república, veremos novamente Jorge Sampaio com a lágrima no olho a despedir-se dos portugueses. Muito terá dado a Portugal, mas ainda muito mais terá ele para dar ao mundo como defensor de causas humanitárias.

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