Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Quando a democracia não dá jeito

No Ocidente, ninguém concebe um país democrático sem liberdade. As grandes vitórias que a democracia trouxe foram as da liberdade de expressão e separação entre Igreja e Estado. No entanto, o planeta é grande e existe países, nomeadamente do Médio Oriente, que aderem à democracia, mas sem liberdade. As leis têm por base uma interpretação religiosa de teor islâmico. Irão e Palestina mostram como a democracia pode ser complexa e antagónica: como responder perante um povo que legitima nas urnas governos que exercem violência e apoiam o terrorismo?

A vitória do Hamas nas eleições palestinianas chocou a comunidade internacional. Até ao resultado final, ninguém suspeitava que poderia acontecer. Agora, as análises feitas para explicar tal vitória mostram até que ponto os palestinianos estão atentos e activos no que concerne a actividade política do governo cessante. A Fatah era um governo corrupto que pouco fez pela população. O Hamas centrou a sua campanha na política interna, prometendo um maior apoio social e emprego aos cidadãos. Esta estratégia resultou e, por mais que Israel, Estados Unidos e União Europeia tenham dificuldades em aceitar, o futuro governo palestiniano será formado por apoiantes de terroristas. O processo de paz entre Israel e a Palestina poderá, em breve, ter novos contornos. Perante a ameaça de perder todos os fundos de apoio à causa palestiniana e a própria sustentabilidade do país, os governantes do Hamas terão de provar ao mundo que têm intenções pacíficas e conciliadoras para com o seu inimigo. Nada disto é novo, pois Arafat, antes de ser uma lenda, fora um terrorista.

No Irão, a situação é bem diferente e muito preocupante. O actual presidente é um radical como já não se via há muito. Eleito democraticamente e amado pelo seu povo, as suas intenções nucleares tornaram-se um desígnio nacional, apoiada por toda a população. Como é um país do qual todos desconfiam, a ONU decidirá o que fazer para impedir a prossecução da actividade nuclear que o Irão quer retomar.

Se estas são as duas regiões actuais mais problemáticas, o pior ainda está para vir. Após a divulgação dos cartoons do suposto Maomé, a Dinamarca sofre as consequências da fúria dos muçulmanos radicais que são cada vez mais numerosos e perigosos. Os seus líderes políticos recorrem ao populismo demagógico acentuando ainda mais esta fúria. Ao condenar simplesmente os desenhos sem explicar às populações que da liberdade de imprensa resulta, por vezes, a insensibilidade e a estupidez dos autores, os tais líderes prestam um mau serviço à democracia. Por mais que custe admitir, trata-se de uma questão civilizacional, de um novo choque de culturas. A apreciação crítica, sob todas as formas, é algo de comum na civilização ocidental; faz parte da liberdade individual de exprimir opiniões. Porém, no Médio Oriente, o respeito pelo sagrado é intocável. Esta polémica é interessante porque deveria debater-se quais os limites da liberdade de imprensa ou de opinião. No entanto, é actualmente impossível conduzir esta discussão de forma isenta. A violência contra as embaixadas da Dinamarca e da Noruega e a “mão leve” dos respectivos governos envolvidos contra estas manifestações impedem tal discussão. Querem, antes, um pedido de desculpas, nem que seja à força.

Nestes países, tem-se assistido à manipulação da democracia. Sendo a população altamente religiosa, os dirigentes políticos usam e abusam da crença dos cidadãos para ganhar votos. Depois de chegar ao poder, torna-se fácil orientar as pessoas para um só caminho, uma só visão. É verdade que a democracia existe, mas a liberdade não.

Nos vários atentados que a Al Qaeda já realizou, não me lembro de nenhum desses países ter pedido desculpas pelo facto de um grupo de fanáticos terem usado o nome de Alá para matar milhares de pessoas.

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