Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

A minha foto
Nome:
Localização: Praia da Vitória, Terceira, Portugal

sábado, março 18, 2006

Aprender a empreender


Entre os distúrbios que ocorreram nas banlieues de Paris no passado mês de Novembro e as presentes manifs em plena capital francesa, há um ponto comum: o descontentamento da juventude. A precariedade do emprego nos jovens é uma triste realidade dos países desenvolvidos devido à competição engendrada pela globalização. Como pode um país como a França, que se orgulha das suas políticas sociais, querer ser um dos motores do progresso na Europa se a sua juventude sente que o seu futuro se encontra hipotecado?

O governo francês pretende aprovar uma lei sobre o Contrato Primeiro Emprego (CPE). O Primeiro-ministro francês alega que, com esta lei, os jovens terão mais oportunidades para entrar no mundo do trabalho. Os jovens, pelo contrário, defendem que ficam mais desprotegidos relativamente aos patrões visto estes últimos terem a possibilidade de despedirem sem justa causa ao fim de dois anos de contrato. O mal-estar está instalado, mas esta lei não é a sua causa principal; é simplesmente mais uma acha para a fogueira que se acendeu no mês de Novembro, nos subúrbios parisienses.

Já não se pode argumentar que é a juventude de origem estrangeira que não se sente integrada em França. Na verdade, é toda uma geração, jovem, que não se revê no país que a viu nascer. Esta geração teve acesso ao ensino obrigatório, os pais a ajudas económicas para os seus filhos estudarem. A maior parte desta juventude tem diplomas e tem mais habilitações académicas do que os seus progenitores. Porém, não consegue vencer na vida ou, se consegue, é tarde, por volta dos trinta anos. O problema é mais profundo e mais complexo. Estas manifestações, de que alguns se aproveitam para as transformarem em lutas de rua, não são um grito de alarme. São um grito de desespero, desespero esse que se irá estender pela Europa, incluindo Portugal.

A França sempre foi pioneira em revoluções. Revolução francesa de 1789, Maio de 68 e, agora, Março de 2006. Os outros países padecem das mesmas dificuldades, no entanto parecem resignados. Em Espanha, existe uma nova geração: os “mileuristas”. Representam uma classe social jovem com formação superior, mas cujo ordenado não ultrapassa os 1000 euros. Arquitectos, engenheiros, gestores dividem apartamentos como se de estudantes se tratassem ou permanecem em casa dos pais, pois o dinheiro não dá para se emanciparem como verdadeiros adultos. Se antigamente a juventude abandonava bem cedo a casa dos pais para se “lançar na vida”, actualmente ela permanece no seu quarto de infância, ou com medo ou impossibilitada de enfrentar o mundo real.

Todo o conceito educativo, desde o ensino primário até ao superior, deve ser repensado. A vontade politicamente correcta de colocar em pé de igualdade crianças com competências cognitivas diferentes e a pressão das estatísticas sobre o insucesso escolar obrigaram os governantes a diminuírem o grau de exigência e a fazerem batota nos resultados, criando assim um cancro educativo que se alastra para um cancro social de maior envergadura. Toda a exploração do potencial de uma pessoa foi desprezada para dar lugar ao ensino de um conjunto de saberes inúteis, criando uma geração de cidadãos que nem sequer sabe preencher um formulário. De há trinta anos para cá, o sistema de ensino europeu falhou porque deu prioridade à quantidade – muitas vezes manipulada – em detrimento da qualidade. A França foi a primeira a acender um rastilho que se alastrará pelos outros países.

Juventude é sinónima de ousadia. A escola deveria despertar o espírito empreendedor dos alunos. Os governos deveriam estimular este espírito. Mas não, o subsídio é a arma de arremesso para calar as possíveis contestações. Não é de estranhar que num estudo sobre as pretensões profissionais dos jovens franceses, 76% declararam querer entrar na função pública.

Juventude deveria ser sinónima de esperança. No entanto, como explicar aos pais que, por mais que tenham feito sacrifícios para o bem dos filhos, estes últimos terão uma vida mais difícil para entrar no mundo do trabalho?

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial