Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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Localização: Praia da Vitória, Terceira, Portugal

domingo, março 30, 2008


O poeta Manuel Alegre esteve nos Açores para o lançamento do belíssimo livro intitulado Escrito no Mar, no qual colaborou com poemas, por sua vez, ilustrados com fotografias de Jorge de Barros. No seu discurso, Alegre enalteceu o serviço público de saúde açoriano e elogiou Carlos César, dizendo que nos Açores existe um socialismo que deve servir de inspiração aos socialistas do continente.



Enquanto poeta, Alegre é impressionante, irrepreensível e unificador. Enquanto político de pertença socialista, Alegre provoca discordâncias e alguma surpresa consternante. Os Açores socialista de César podem parecer melhor do que o continente socialista de Sócrates. Contudo, a realidade é outra; pelo menos na minha acepção de realidade. Os Açores ainda são muito pobres, díspares, centralizados e pouco dados à libertação individual. Isso, Manuel Alegre não deve ter visto. No meio da paisagem rude e majestosa do Pico, Alegre “encontrou” poemas escondidos nas entranhas do basalto negro, mas não viu que o socialismo de César fez com que o açoriano deixasse de ser uno para se subdividir em dois: o açoriano e o micaelense.



Perante a ruptura disfarçada que Manuel Alegre assumiu para com o Partido Socialista – desde a sua candidatura à presidência da república até à sua luta contra as políticas de saúde empreendidas pelo actual governo –, com os recentes elogios ao governo açoriano, interrogo-me sobre os desígnios socialistas que o deputado-poeta defende, as reformas políticas do governo de Sócrates e o futuro do Partido Socialista. Qual deles toma as melhores decisões para o país? Qual deles é o melhor socialismo para o século XXI?



Sendo de Direita, esta análise será sempre facciosa. À partida, para mim, o socialismo não deixa de ser um equívoco, porque nasce de uma base utópica, com a premissa de que as pessoas aspiram a serem iguais e que o Estado é o único garante dessa aspiração. O problema do socialismo, e da Esquerda em geral, é de ter medo do liberalismo. E aqui trata-se do liberalismo económico e não dos costumes e valores. Nesta segunda vertente, os partidos de Esquerda são bastante liberais, porque se abordarmos este conceito literalmente, liberal é quem, por exemplo, defenda a liberalização do aborto ou das drogas chamadas leves. Vemos que abraçam a liberdade dos costumes, mas, na liberdade económica, já se distanciam e até a ligam ao capitalismo americano pintando-a como uma selva, onde é cada um por si e onde o mais fraco é sempre prejudicado. Esta é uma visão estereotipada que conquista muitos seguidores. Mas, pelo contrário, o liberalismo implica uma intervenção cuidada do Estado que trata de arbitrar as regras, criando normas, impedir monopólios, permitindo que o mercado funcione livremente. O socialismo, segundo Sócrates, percebeu esta possibilidade e esta obrigatoriedade no mundo globalizado de hoje. Porém, não foi capaz de se libertar da sua raiz socialista, pois implicava uma cisão com o partido. Este socialismo de centro-direita acabou defraudar as expectativas dos socialistas e deturpar o conceito liberal, denegrindo a ideologia dos partidos da Direita portuguesa.



É interessante reparar que nas reformas empreendidas, o governo socialista teve sempre problemas de consciência social e só se sentiu menos culpado quando atribuiu “pequenas esmolas” às classes mais desfavorecidas. Medidas como os complementos de reforma e os apoios à natalidade serviram para dizer à Esquerda que continuava a ser um governo socialista, mas, na verdade, não resolvem a questão da pobreza e das diferenças entre as classes. Este é o primeiro erro que o socialismo do século XXI comete. O dinheiro não resolve tudo, sobretudo se for às pinguinhas. O segundo erro do socialismo do século XXI está nos ideais de Manuel Alegre. Defende um Estado muito presencial em vários sectores de actividade e da vida das pessoas. Mas esta questão, reconheço, é ainda muito subjectiva em Portugal. Antes de mais, é preciso redefinir o papel do Estado na sociedade. Ao dizer que se estivesse no poder desmantelava o Estado em seis meses, Luís Filipe Menezes assustou as pessoas e aniquilou o debate que falta para reequacionar as ideologias políticas dominantes.



Em tempos de crise e de incertezas quanto ao futuro, é óbvio que o primeiro a defender que o Estado tome conta de tudo terá a simpatia de todos. Agora, não se pode ter os dois: impostos baixos com um Estado-providência.

1 Comentários:

Blogger Carolina Almeida disse...

Dai-nos de novo o Astrolábio e o Quadrante
Velas ao vento venha a partida
Há sempre um Bojador perto e distante
Nosso destino é navegar para diante
Dobrar o Cabo dobrar a vida
Dai-nos de novo a rosa e o compasso
A carta a bússola o roteiro a esfera
Algures dentro de nós há outro espaço
Chegaremos ainda a outro lado
Lá onde só se espera
O inesperado.

MANUEL ALEGRE

Fica a pergunta: quem dobra esta nossa crise?

11:02 da tarde  

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