Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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sábado, abril 18, 2009

Paraíso Perdido XII

Os papagaios

Há papagaios que têm sorte. Basta fazer tudo o que lhes mandam que terão sempre comida à farta e lugar de destaque. Com a sua plumagem nobre até inspiram respeito, mas costuma ser só fachada. Desses papagaios não se vislumbra espírito de iniciativa: repetem o que aprenderam e empoleiram-se nos ombros de quem verdadeiramente manda só para parecer o que realmente não são. Por estas alturas de compromissos eleitorais, nunca vi tantos papagaios a saírem das suas gaiolas quando, há algum tempo atrás, não passavam de aves mudas.

Sempre me disseram que não há almoços grátis. Sempre me disseram que quando alguém dá alguma coisa é porque também pretende outra em troca. Como Amigo da Terceira, sempre reclamei por parte dos governantes a maior atenção e o maior carinho por esta terra.

Por isso, quando vejo o próprio Presidente do Governo Regional a lançar primeiras pedras para futuras obras e a anunciar futuros investimentos a curto prazo, só me posso regozijar com esse facto. No entanto, olho com atenção para quem o acompanha em tão solenes actos e percebo a razão da súbita preocupação para com a ilha.

Este é um dos defeitos da Democracia. E este defeito bem podia ter como lema: "político-papagaio; não faz nada, mas aparece de soslaio".

Assim sendo, interrogo-me: se os terceirenses não fizerem o que Carlos César lhes diz, subliminarmente, para fazer, serão eles castigados?

A pobreza mora ao lado

O Banco de Portugal deu uma deu uma notícia deveras aterradora: Portugal tem mais de dois milhões de pobres e os Açores, a par com a Madeira, são as regiões mais pobres do país.

Dá que pensar. Dá que pensar regiões que se advogam ser autênticos paraísos para quem as visita terem afinal pobres em cada esquina. Regiões que são politicamente autónomas, que recebem milhões em fundos europeus mas que na verdade só contribuem para criar ainda mais desigualdades na sociedade. Por mais iniciativas de cariz social que se crie - que culminam com o famigerado Rendimento Social de Inserção -, a pobreza não só desapareceu como aumentou. Se eu fosse Alberto João Jardim ou Carlos César tinha vergonha. Mais ainda, com vergonha, demitia-me do cargo.

Mas, afinal, porquê tanta revolta da minha parte se as pessoas estão felizes com o pouco que têm? Para quem quer mais, subsiste a solução de sempre: emigrar.

O cozinheiro de Saddam

O emigrante português sempre me surpreendeu pela sua natureza aventureira e, por vezes, descarada. Diz a imprensa que um açoriano, natural de São Jorge, foi cozinheiro de Saddam Hussein, no Iraque, na década de 80.

Em entrevista à Lusa, lá foi contando algumas das suas peripécias em terras árabes, mas sempre com o cuidado de não se alongar muito, pois jurou que iria guardar segredo do que lá viu. Ao ler o seu testemunho, imaginei-o na cozinha sorridente com a bandeira dos Açores ou de Portugal, mas não. Andava, o nosso açoriano, com a foto do ditador pregada na gola do casaco ou ao peito. Verdade seja dita, naquele tempo, a nossa selecção ainda não tinha nem o Scolari nem o Ronaldo. Mas o que me surpreendeu mais nessa entrevista, não foi a relação próxima que se criou entre a gastronomia portuguesa e Saddam Hussein, foi o fascínio que um ditador provoca nas pessoas. Aliás, será fascínio ou medo? O culto da personalidade que os ditadores cultivam é a prova de uma demência profunda que desencadeia nas outras pessoas sentimentos de adulação e até comiseração.

Quando Armando Sequeira lamentou a forma triste como Saddam Hussein tinha morrido, lembrei-me de outras milhares de pessoas que foram assassinadas sob a sua ordem e também lamentei. Mas, pelos vistos, não se deve comparar um mortal com um ditador.

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