Paraíso Perdido T2C15
Para que servem os livros?
Todos vocês conhecem a resposta. Até aquele aluno que detesta livros consegue escrever uma dissertação de cinco linhas em que, numa atitude tipicamente portuguesa “faz o que digo…”, descreve os benefícios da leitura. No entanto, esta pergunta faz todo o sentido porque vivemos num período da Humanidade bastante complexo no que respeita ao conhecimento: há cada vez mais pessoas com instrução mas com pouca vontade de aprender.
Nos últimos quatro anos, Portugal perdeu uma oportunidade única para redefinir o seu sistema educativo. Os governantes têm apregoado que o mundo é cada vez mais competitivo e que Portugal não pode ficar para trás. O último governo defendeu, e bem, que a educação é fundamental para tornar o país mais competitivo. O mesmo governo acabou por defraudar todas as expectativas, pois os pontos mais discutidos foram a avaliação e o estatuto dos professores, como se o problema da educação fosse isso. Maria de Lurdes Rodrigues, a anterior Ministra da Educação, ficará na história como a pior ministra dos últimos 30 anos. Não digo isso por causa do mal que fez aos professores – pois, sou suspeito -; digo-o por causa das consequências que as suas medidas terão no futuro: a total impossibilidade de debater e de reformar a sério o sistema educativo português. Doravante, qualquer político pensará duas vezes antes de falar sobre o assunto por medo dos sindicatos.
Temos uma juventude que está bastante distante dos estudos. Por causa deste mundo moderno, tecnológico e livre os jovens não conseguem encarar os estudos com seriedade e responsabilidade. Criam-se alternativas curriculares, cursos profissionais, novas oportunidades que a bem dizer não aumentaram o grau de conhecimentos dos alunos, mas engrossaram as estatísticas para inglês ver (literalmente). Com base em estudos internacionais, Portugal continua longe dos primeiros lugares em termos de literacia e conhecimento matemático (para mim, as estatísticas nacionais deixaram de ter credibilidade). O problema não reside na motivação dos alunos para o estudo. O problema tem três vertentes. Por um lado, centra-se na falta de consciencialização dos jovens para a importância dos estudos na sua vida pessoal e profissional. Por outro, o acesso à carreira docente deve obedecer a critérios rigorosos de selecção, permitindo que só os melhores ingressem na carreira. Por fim, é preciso definir os padrões de exigência que se pretende que os jovens alcancem. E esses padrões não devem continuar a cingir-se às competências (subjectivo), mas sim à aquisição de conhecimentos (objectivo). Para desfazer o mito das competências, basta apresentar o exemplo daquela mulher que conduz há anos sem carta e que nunca sofreu nenhum acidente. Ela adquiriu as competências para conduzir. Falta-lhe o conhecimento para passar a prova que lhe confere a licença; e porquê? Porque provavelmente tem graves problemas de literacia. Aqui, muito se joga nos programas escolares. É preciso reformulá-los não quanto aos aspectos didácticos, mas quanto aos conteúdos - a essência da coisa.
A falta de preparação dos alunos já chegou à universidade. Já é banal ouvir-se professores universitários a lamentar o facto de os seus alunos não saberem escrever correctamente, nem expor uma ideia de forma fundamentada e organizada. Muitos alegarão que a democratização do ensino permite que todas as classes sociais tenham as mesmas oportunidades, daí o nivelamento baixar consideravelmente. O cariz ideológico subjacente a esta teoria demonstra o equívoco em que estamos atolados. Primeiro, não é verdade que todos tenham as mesmas oportunidades. O aumento do número de escolas privadas desfaz essa ideia. Segundo, é falso pensar-se que as pessoas com menos recursos têm menos capacidade de aprender do que aquelas mais abastadas. Aliás, a natureza humana ensina-nos que o Homem sempre lutou de todas as formas para atingir o progresso e melhorar a sua qualidade de vida. O Comunismo tentou colocar todos por igual. Resultou no que se sabe. Quem parte em desvantagem, tem de se esforçar mais para conseguir. Quem conseguir tem de ser premiado. Deste modo, não é o sistema que deve nivelar por baixo. O sistema deve criar mecanismos para que todos cheguem aonde é pretendido e sem batota.
Falando, em concreto, da Literatura Portuguesa por ser meu domínio. Quem é o político que tem a coragem de colocar nos programas de Língua Portuguesa uma peça de Molière ou de Shakespeare em vez de autores portugueses de teatro totalmente desinteressantes? Quem é o político que reconhece que José Saramago tem obras bem mais cativantes para alunos do 12º do que o Memorial do Convento? Por que razão se lecciona Os Maias, que nenhum aluno lê por causa das suas 800 páginas, em vez de se preferir uma obra mais pequena mas tão rica e polémica como é O Crime do Padre Amaro? Ao invés, nos programas de Português inclui-se receitas de culinárias e cartas de reclamação.
Actualmente, em Portugal o problema da Educação reside na avaliação dos professores. Parabéns aos políticos por terem dado cabo do nosso país.
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