Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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quinta-feira, abril 21, 2011

Os ajustamentos da Globalização






Muitos se interrogam sobre a triste sina de Portugal. Outros manifestam desalento por terem alertado no passado a inevitabilidade desta crise. Mas uma dúvida persiste: será o problema ainda mais grave do que aparenta? Será que a situação económica e financeira dos países mais pobres da zona Euro só é resolvida com medidas de austeridade? Não estará em causa, na realidade, um certo padrão de existência adoptado e que se tornou insustentável?




Presentemente, toda a riqueza mundial está nas mãos de 2% da população. Como se percebe, a riqueza está mal distribuída no mundo - e em cada país -, e a situação piora quando se sabe que há um fosso cada vez maior entre ricos e pobres. Mas nem tudo é mau.




A globalização permitiu que países outrora pobres prosperassem graças às suas riquezas naturais ou graças à sua mão-de-obra. Os países emergentes entraram no mercado global competindo contra o monopólio financeiro detido pela Europa e pela América do Norte. Pensava-se que a “abolição” das fronteiras – com o advento das tecnologias de informação e comunicação e a diversificação dos meios de transporte - iria trazer uma prosperidade segura e duradoura a todos os povos do planeta. A Paz Mundial parecia tornar-se realidade. Porém, praticamente vinte anos depois de o mundo se ter tornado plano, descobrimos aos poucos, mas de forma dura, as primeiras falhas da globalização.




Tenho uma certeza. Depois do resgate a Portugal, à Grécia e à Irlanda, outros países virão. Não é uma conspiração das agências de rating. Mais do que um efeito dominó, trata-se de uma consequência daquilo a que chamo ajustamento da globalização. O facto de o défice dos Estados Unidos se ter transformado num problema internacional comprova o quanto as economias dependem umas das outras. Agora a má notícia: considero que a solução não passa por nós. Aliás, acho que nem tem solução porque este ajustamento obriga a uma mudança de paradigma dos países desenvolvidos localizados na sua maior parte no Ocidente, à qual nenhum povo está preparado.




O progresso das nações desenvolvidas obrigou-as a criar encargos sociais que se foram acumulando com o tempo. O Estado-providência foi crescendo imparavelmente. Os salários foram aumentados graças à força dos sindicatos e à circulação do dinheiro muito dele virtual, mas na verdade nunca acompanharam a inflação. Os bens essenciais e os de luxo aumentaram o seu custo de forma desproporcional. A sociedade de consumo pressionou as pessoas a adquirir bens de todo o género e muitos deles irrelevantes para as suas vidas. A riqueza de alguns era (e ainda é) elogiada e admirada pela maior parte das pessoas com um misto de inveja à mistura. O mundo dos sonhos, criado e alimentado pela indústria cinematográfica e musical, conseguiu distrair as pessoas do essencial: como é que alguém podia enriquecer tanto sem ter contribuído de forma real para o bem da sociedade?




É preciso perceber a amplitude e as repercussões no futuro da actual crise que está focada principalmente nos países ocidentais. Os países emergentes estão com altos índices de crescimento em todas as vertentes porque partiram do nada, de uma extrema pobreza. Porém, não só existe milhões e milhões de novos clientes como as multinacionais se deslocam para esses países porque o preço da sua mão-de-obra e as suas políticas fiscais são imbatíveis. É verdade que em Portugal os nossos salários são na sua maioria baixos, mas mesmo assim demasiado altos para competir com os da Índia ou da China.




Apostar na qualidade dos produtos, na prestação dos serviços e na formação dos trabalhadores constitui, à primeira vista, uma estratégia sensata. Contudo, não é suficiente porque estes países asiáticos têm uma demografia elevadíssima, o que lhes permite dispor não só de mão-de-obra barata e pouca qualificada como também de pessoal com altas habilitações técnicas e científicas. O ajustamento da globalização passa por isto: a Europa e a América do Norte estagna, enquanto os países emergentes vão crescendo. Uma espécie de balança da globalização que acerta o peso ideal do desenvolvimento mundial, ora pendendo para um lado, ora para outro.




O défice do nosso crescimento não se deve à falta de produtividade (veja-se os Estados Unidos e a Alemanha), mas à concorrência que se diversifica e se intensifica por todo o globo. Para colmatar essa falha, os governos vêem-se a obrigados a desvalorizar os salários e a reduzir drasticamente os direitos adquiridos e os apoios sociais. Por isso, falar em falta de produtividade é falacioso. Alguns países emergentes não se regem pelas mesmas regras. Os governos pouco podem fazer. Apesar de o dinheiro ser em papel, ele não é infinito.




Como temos visto, a competição económica entre os países tornou-se agressiva porque é assimétrica, isto é, encontram-se todos no mesmo patamar, mas aplicam regras do jogo diferentes. O proteccionismo ganha nova força e o egoísmo entre as nações aumenta. Os partidos extremistas e xenófobos tornam-se vozes activas porque aproveitam-se das fragilidades do sistema e dos receios dos cidadãos. Não é de estranhar que a esperança de vida possa diminuir nos países desenvolvidos por causa da crise. A insegurança e a violência também. Este é o terreno ideal para os populistas; Hitler foi o exemplo perfeito.




Os países emergentes têm uma oportunidade para não ir pelo mesmo caminho do Ocidente. Contudo, o mesmo filme repete-se: lá também os ricos são cada vez mais ricos e os pobres mantêm-se na sobrevivência. Deviam aprender com os nossos erros.




Quanto a nós, resta-nos aceitar este destino, alterando os nossos padrões de vida, reforçando os laços de solidariedade e de respeito para com o outro, e impedindo a relativização dos nossos valores seculares. Humildade e altruísmos serão as palavras de ordem. Fiscalizar a acção política e empresarial será umas das nossas maiores batalhas para os próximos tempos. O rastilho da convulsão social já arde.

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