Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, janeiro 08, 2012

Defender as ilhas de baixo até morrer



Tal como em muitos meios de comunicação social do mundo, a imprensa açoriana optou por encerrar 2011 com a eleição do facto e da figura mais importantes desse ano. Este exercício de jornalismo, que à partida seria isento e interessante, acabou por se transformar numa manifestação de bairrismo profundo e de provincianismo desolador.

De São Miguel, a escolha do Açoriano Oriental recaiu sobre a obra SCUT considerada como o facto mais importante e sobre o piloto de rallies Ricardo Moura para a figura do ano. Por mais impressionante que seja a nova rodovia, ela só tem importância para São Miguel, não alterando em nada a vida quotidiana dos açorianos das outras ilhas. Já acontecera no passado recente com o cais de cruzeiros de Ponta Delgada, cuja pomposa inauguração fora alvo de muitas críticas. Da Ilha Terceira, o Diário Insular optou por destacar a tourada terceirense realizada no Campo Pequeno, em Lisboa, e escolheu Carlos César como figura do ano.

Como se pode ver, as escolhas são sempre discutíveis mas não deixam de ser caricato como uma imprensa açoriana, que se diz imparcial no que concerne ao tratamento das notícias da Região, não consiga olhar para lá da sua ilha, abrangendo os Açores como um todo, não sendo sensível às coisas que de facto influenciem tanto a vida de um micaelense, como de um jorgense ou de um corvino.

Esta é a mesma imprensa que, por outro lado, critica ferozmente os políticos por não actuarem a uma só voz quando se trata de defender os Açores junto de Lisboa. Neste caso, muito estranhamente, estou do lado dos políticos. É óbvio que qualquer partido sediado nos Açores porá a Região em primeiro lugar. Alegar o contrário é ser-se intelectualmente desonesto.

Quero que haja diferenças entre os partidos. Se todos defendessem a mesma coisa não faria sentido eles existirem. Quero que haja apresentação de propostas divergentes para a resolução de um mesmo problema. Tem de haver debate político para os eleitores poderem escolher qual o partido que melhor os defende. Em questões determinantes, o consenso político é perigoso. Na política, o acto negocial deve ser constante, mas não pode ser confundido com intriga política.

Exemplo disso é o actual debate sobre o futuro da RTP Açores. Existe um consenso – penso eu -: o canal de televisão açoriano deve existir. A partir daqui, cabe aos partidos proporem como deve ser o seu formato, o seu financiamento, a sua autonomia, isto é, a sua perspectiva de como deverá funcionar a televisão regional.

Qualquer açoriano tem consciência de que não é ao fomentar uma espécie de “guerra” com Lisboa que se consegue alcançar vitória alguma. Presentemente, todo o país se encontra numa encruzilhada. A crise tem afectado muito as pessoas, sobretudo as de menor rendimento. No continente, as coisas tomaram uma proporção dramática. Infelizmente, dos Açores à Madeira ainda impera algum discurso egoísta quando deveria haver contenção.

Não se trata de ilibar os responsáveis políticos que provocaram tal desaire, nem de menosprezar quem soube gerir a coisa pública com sensatez. Trata-se de reconhecer que a perda de alguma soberania de Portugal implica a perda de alguma autonomia das duas Regiões. Uma perderá mais do que a outra, admito. Caberá a cada partido apresentar propostas para que essa perda seja a menos dolorosa possível.

Não tenho dúvidas: está em curso um novo processo de autonomização das Regiões insulares. Ganhará aquela que souber criar condições para aumentar a sua autonomia financeira. O caminho passa por depender menos do poder político de Lisboa - e não é com mais leis autonómicas.
Reafirmo: defender a sua ilha não é pecado nenhum. Aliás, num momento em que está cada vez mais à vista que algumas ilhas estão a ser preteridas em favor de outras só reforça esta ideia. E o que mais me preocupa é que alguns políticos não têm defendido a sua ilha de forma clara e assertiva, ficando a dúvida se o acatamento das decisões do partido se deve à salvaguarda dos interesses pessoais ou à simples falta de visão estratégica.

Por isso, este despique tacanho entre jornais, este “insularismo” alimentado por algumas figuras públicas é lamentável. Mas ele reflecte o que os Açores são: um arquipélago cada vez mais dividido e desproporcional. E o pior é que eu não sei se isto tem remendo.

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