O fim da adolescência dos Açores
Até agora, os Açores passaram por
duas fases. A primeira, que se iniciou após a Revolução de Abril e que conferiu
ao arquipélago a sua autonomia política, foi a fase da Infância. A segunda, com
a ascensão dos socialistas à governação e o fortalecimento da União Europeia,
foi a fase da Adolescência.
Nos primórdios da sua autonomia, as
prioridades que se estabeleceram foram a de prover a Região com estruturas
básicas para cada uma das ilhas. O atraso dos Açores era brutal, fruto do
isolamento a que o Estado Novo lhe tinha votado. Faltava fazer tudo.
O PSD de Mota Amaral governava. A
oposição era praticamente única e exclusiva da responsabilidade do PS. É
verdade que existia uma relação forte entre os governos de Cavaco Silva e os
das Regiões Autónomas, todas do PSD. Para o bem da Democracia portuguesa, o PS
conquistava cada vez mais câmaras, preparando assim os seus altos dirigentes
para altos voos que daí adviriam.
Findos os mandatos de Cavaco Silva,
António Guterres ascendia ao poder. O PSD acusava desgaste e o PS era uma
lufada de ar fresco. Entretanto, Mota Amaral batia com a porta de forma
inesperada. Carlos César ganhava as eleições. Os Açores despediam-se do seu
primeiro ciclo político, da sua infância enquanto autonomia.
A União Europeia, fulgurantemente
rica, permitia que os Açores dessem um salto no seu desenvolvimento económico e
social. O mundo ficava mais perto, as tecnologias permitiam torná-lo plano e
acessível às ilhas perdidas no meio do Atlântico. Isto já não era a Lua, era
mesmo na Terra. O PS Açores conquistava tudo e todos, mas ao mesmo tempo, uma
nova geração de políticos aparecia com ideologias distintas. Novos partidos
ganhavam assento no Parlamento Regional. Parecia que a Democracia estava de boa
saúde na Região. Mas, na realidade, não era bem assim.
A Região importava demasiado, o seu
PIB crescia pouco, mantendo-se como uma das regiões mais pobres da União
Europeia. Os custos sociais aumentavam; o número de pessoas que viviam de
apoios estatais e, em consequência sem atividade profissional, eram desproporcionados
em relação a um arquipélago tão disperso e pouco populoso. Politicamente, havia
um sufoco por parte do Governo Regional que se imiscuía demasiado na vida das
empresas, tentando controlar todas as atividades económicas. A cunha e os
favores políticos abafavam qualquer tentativa de autodeterminação empresarial.
As famílias açorianas mais ricas e influentes ficavam de fora desse sistema,
mas aproveitavam-se do seu poderio económico para crescerem ainda mais. Quando
algo corria bem, era graças ao Governo. Quando algo corria mal, o Governo
Regional reclamava junto do Governo da República. Se esse último fosse de
Direita então os protestos eram a dobrar. A mensagem era simples: os Açores são
uma região pobre e isolada, por causa disso, precisa de ser sempre ajudada. A República
só tem obrigações, a Região somente direitos. A solidariedade deve sempre
partir do continente, nunca ao contrário. E ai de quem se meta na vida dos
açorianos. “Na Região, mandam os que cá estão!”
Os Açores mais pareciam aqueles
adolescentes mimados que pedem constantemente dinheiro aos pais, mas que nunca
os deixam entrar no quarto.
Entretanto,
uma crise sem precedentes chegava a Portugal. E tudo mudou.
Os Açores tiveram anos para criar
condições para serem mais autossustentáveis, em todos os aspetos. A autonomia
política foi uma espécie de pacto de responsabilidade. O continente já não
consegue sustentar as suas ilhas. O tempo da lamúria acabou. O tempo do
discurso do coitadinho esgotou-se. O segundo ciclo político dá-se por encerrado.
Os
Açores vão precisar de se emancipar economicamente, porque a dependência
financeira das verbas do Estado e da Europa criou vícios, preguiça, atitudes essas
que não se coadunam com o verdadeiro espírito autonómico. E as dívidas
contraídas põem em causa a liberdade política da Região. Por uma questão de
sobrevivência, os Açores têm de depender cada vez mais de si próprios.
Chegou o momento de os Açores
entrarem na fase adulta. O terceiro ciclo político começa agora.
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