RTP: a “solução” de Vasco Cordeiro
Vasco
Cordeiro, o candidato socialista à presidência do Governo Regional, reuniu-se
na semana passada com a nova Direção da RTP Açores. As declarações que proferiu
após o encontro, nas quais traça uma suposta solução para o problema da
televisão regional, merecem-me uma reação: A solução que o candidato do PS
propõe não passa de uma imitação barata da proposta de Berta Cabral e do que eu
defendo há muito.
Em que consiste a proposta do
socialista? Que sejam os Açores, através do seu Governo Regional, a tomar conta
da RTP/A, transformando-a num canal exclusivamente açoriano, sem dependências em
relação a Lisboa (como acontece nalguns canais regionais do continente). É
óbvio que não há nenhum açoriano minimamente informado que não deseje este
caminho, nomeadamente os profissionais do canal televisivo. Até agora, só o PS
é que defendia a continuação do canal açoriano sob a tutela da RTP nacional. E
isto é que é ofensivo.
O PS era contra a regionalização da
RTP Açores, recorrendo ao argumento de que a própria Constituição Portuguesa inclui
a existência de canais regionais das regiões autónomas sob a dependência do
Governo da República. De repente, Vasco Cordeiro acordou para a vida e o PS,
não sei se todo, mas parte dele, muda o discurso e defende maior
responsabilidade naquilo que é realmente representativo da autonomia, como é uma
televisão totalmente açoriana.
Até agora, nada de novo. O PS acorda
para a vida quando outros já o fizeram há muito tempo.
Contudo, o espanto prende-se nos
detalhes da solução que o PS propõe para a regionalização da televisão. As contrapartidas
são muito simples: o Governo da República manda para cá os 11 milhões de euros necessários
para o financiamento da televisão, acresce a receita da taxa audiovisual e o
Governo Regional cria uma empresa pública, ficando com todos os direitos sobre
o canal. Mais, segunda as palavras de Carlos César, perdão, Francisco César: "Esta proposta assegura que para além
desta transferência financeira, devem ser assegurados ao novo canal regional um
acesso gratuito aos direitos de transmissão de programas nacionais produzidos
no âmbito do serviço público de rádio e televisão, o arquivo da RTP\Açores, bem
como acautelar junto da RTP os interesses dos trabalhadores que, eventualmente,
não sejam contratados por esta nova empresa pública regional.".
Esta solução milagrosa ainda dá o direito ao Governo Regional
de suprimir postos de trabalho e de não ficar com responsabilidades nos
possíveis despedimentos. O Governo da República tem de acautelar tudo e os
interesses dos Açores ficam assim assegurados. E, acrescenta ele, a proposta é
séria. Já que vivemos o euro 2012, apetece-me
perguntar: “E o burro sou eu?”
Em
Setembro de 2011, quase há um ano atrás, publiquei um artigo que falava do
tema. Como não mudei de opinião sobre este assunto, vou citar novamente parte
dele: "Infelizmente,
o que sinto é que os políticos são uns adeptos daquilo que chamo “autonomia
fácil”: defendem aguerridamente toda a legislação que aprofunda as autonomias
regionais, mesmo que isso vá contra o ideário da coesão nacional; reclamam
todos os cêntimos que a República lhes possa dever, mas são incapazes de
defender a aquisição de instituições ou organismos, a cargo da República, que
existem para promover ou fortalecer as autonomias (coloco neste leque a RTP
Açores, como também os aeroportos regionais que pertencem à ANA).
Há sempre o risco de um canal detido pelo Governo Regional ser
governamentalizado. Mas esse risco deve ser corrido se houver margem para criar
uma comissão política de acompanhamento do canal, um provedor do espectador e
transparência na nomeação ou eleição da administração e da direção de
informação. Os privados açorianos bem como a sua sociedade civil deverão ser
convidados a participar no projeto televisivo. Apesar do acréscimo no orçamento
da Região será de todo pertinente ponderar a possibilidade de instituir uma
taxa para ajudar ao financiamento do canal nos mesmos moldes em que funciona a atual
taxa audiovisual.”
A grande
diferença entre o meu texto e o que o PS agora defende é que o Governo Regional
deve participar no financiamento, o que significa uma transferência progressiva
de poderes, de competências e de orçamento da República para os Açores.
A ideia do
PS é totalmente descabida porque ninguém, nem o mais lorpa dos empresários, dá
de mão-beijada o que é seu, ainda para mais pagando para tal.
Chamei-lhe de imitação barata, mas antes
devia chamar-lhe de proposta desonesta.
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