Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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sexta-feira, outubro 05, 2012

A geração perdida


    Este é um tema de que não me canso de falar. A juventude está na iminência de se transformar numa geração perdida, cujo destino, mesmo que incerto, a remete cada vez mais para a pobreza e a inutilidade. Sim, perdida é o termo mais apropriado; não há motivo de orgulho ou de festa para esta situação. O desemprego ou a precariedade que se arrastam e alastram não parecem ter fim. E eu a pensar que a possibilidade de uma guerra ou de um cataclismo seria o verdadeiro motivo de apreensão para o futuro.

    Na União Europeia, a taxa média no desemprego jovem atinge mais de 20%, havendo países em que ela ultrapassa os 40%. Isto significa que chega a ser três vezes mais alta do que a taxa global da população ativa. Em Portugal, a taxa está quase nos 40%; em Espanha e na Grécia, já ultrapassa os 50%; em Itália, está nos 35%; em França, nos 25% e assim sucessivamente. Somente na Alemanha, na Holanda e na Áustria é que as taxas se encontram abaixo dos 10%. Do outro lado do Atlântico, o cenário é igualmente preocupante: no Brasil, no Canadá e nos Estados Unidos, as taxas variam entre os 15 e os 18%.


    Como se pode verificar, o problema do desemprego jovem é estrutural. Algo falhou quando, há vinte e trinta anos atrás, os governos dos diversos países implementaram políticas para a educação. Os objetivos pareciam corretos: predominava o incentivo aos estudos superiores ou técnico-profissionais; democratizava-se o ensino, tornando-o acessível e até gratuito para todas as crianças, independentemente da sua proveniência social; criavam-se bolsas de estudo, alargavam-se os programas de oferta cultural e de intercâmbio escolar.


É verdade que o ensino, nomeadamente nos países democráticos, tornou-se demasiado complacente para com os alunos e pais irresponsáveis; é verdade que o ensino ministrado nas escolas ficou menos exigente, o que inevitavelmente se repercutiu na qualidade dos estudantes nas universidades; é verdade que o fenómeno de exclusão social dos jovens oriundos dos subúrbios ou de classes pobres aumentou de forma explosiva em certos países, mas, mesmo assim, como é possível que esta juventude, supostamente a mais bem qualificada de sempre, não consiga emancipar-se, não consiga obter ou criar um trabalho duradouro e pago decentemente, não consiga prosperar, não consiga, de facto, contribuir para o progresso da sua região ou do seu país?


No princípio, argumentava-se que a juventude tinha de se mentalizar de que não existiriam mais empregos para o resto da vida, de que a precariedade no início da carreira profissional seria uma inevitabilidade. Depois, argumentou-se que a globalização tinha abolido as fronteiras, proporcionando a oportunidade de os jovens concretizarem as suas ambições fora do seu país. Porém, não só o desemprego, como a durabilidade no desemprego aumentaram; mais jovens no desemprego e por mais tempo.


Não há dúvidas de que muitos conseguiram vingar e são bem-sucedidos. Mas, agora, com a atual crise, é impossível negar o que desde o início alguns observadores vaticinaram: se, por um lado, apesar dos seus altos estudos, muita juventude não tem competências técnicas nem emocionais para fazer frente a esta dura realidade; por outro, o Ocidente não se preparou devidamente para enfrentar a sua perda da hegemonia no mundo.


No final do século XX, perante o crescimento económico do Ocidente, alguns economistas e sociólogos teorizaram sobre um futuro risonho em que o cidadão não trabalharia tantas horas, teria uma vida social e familiar mais rica, onde os trabalhos manuais seriam quase todos substituídos pelas máquinas e onde as novas tecnologias dariam mais conforto à sua vida. O Estado Social permitiria viver sem preocupação em relação a doenças e reformas; o dinheiro deixaria de ter tanto valor, pois todos salários seriam na generalidade altos e os bens de consumo a preços acessíveis.


De facto, nesta utopia, fazia todo o sentido perspetivar que o mundo estaria repleto de taxistas com doutoramentos em Psicologia e empregados de restaurante licenciados em História.


Mesmo que as estatísticas mostrem que um jovem com licenciatura tenha mais probabilidades de arranjar emprego do que um com poucos estudos, o problema mantém-se: há falta de trabalho. Se ter poucas habilitações significa pobreza quase certa, muitas habilitações deixou de garantir prosperidade e sucesso.


Não consigo ser otimista. Não consigo transmitir esperança. Sinto que o desespero das famílias se adensa, que a inveja social cresce, que o individualismo aumenta, que a corrupção se estende como os tentáculos de um polvo. Os casamentos desaparecem, os divórcios multiplicam-se, os bebés são espécies em vias de extinção, a ideia de família desmorona-se, as árvores genealógicas vão sendo desbastadas para dar lugar à desflorestação social e genética. Nunca estivemos tão próximos do nosso extermínio. E, incrivelmente, sem ter recorrido ao uso de bombas atómicas.


Perante este flagelo, os governos desdobram-se em manobras políticas bem-intencionadas, mas inconsequentes. Programas de estágios aos milhares na administração pública, regional e local; uma forma enganar as estatísticas, mas desviando sempre a cara do verdadeiro problema. 

Tudo o que os nossos pais ganharam no famoso período dos “direitos adquiridos” estão agora a gastá-lo para cuidar dos filhos. Filhos com idade para serem pais. Pais que nunca o serão.

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