Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, agosto 28, 2005

Mais Democarcia Significa Mais Liberdade?

Na Odisseia, a famosa epopeia de Homero, Ulisses, ao passar pela terra das Sereias, obrigou os seus companheiros a taparem os ouvidos de forma protegê-los dos belos mas funestos cânticos das sereias. Por seu lado, Ulisses foi amarrado com cordas ao mastro para gozar do prazer de ouvir as suas vozes sem, no entanto, ser seduzido até à condução da sua própria morte. Os políticos de hoje em dia tendem para serem uns Ulisses que, seduzidos pela voz dos eleitores e das sondagens, cortam as amarras que os protegem, caindo para o abismo da demagogia e do populismo levando-os à destruição da própria democracia.
Nos países em que a democracia se encontra bem enraizada e fortalecida, verifica-se um novo problema: é preciso debater novamente se o sistema democrático produz resultados positivos na melhoria da qualidade vida dos seus cidadãos. O prémio Nobel português, José Saramago, já escreveu diversos artigos de opinião sobre o tema e, inclusive, no seu último romance Ensaio sobre a Lucidez esta questão é abordada. Não se pode negar; existe uma crise nas instituições que representam a democracia, tais como os partidos políticos ou até os parlamentos, entre outros. Basta perguntar na rua: “O que acha dos políticos que temos?” para verificar o desprestígio destes na opinião das pessoas, cada vez mais desiludidas com os responsáveis do seu país. De quem é a culpa, afinal?
Seria demasiado fácil e redutor dizer que a culpa pertence exclusivamente à classe política. Realmente, muitos políticos deixaram-se “embriagar” pelo poder; outros, por falta de coragem, deixaram os seus princípios serem guiados pela opinião pública, muitas vezes distorcida ou manipulada pela opinião publicada. Contudo, outros agentes, menos transparentes, minam a democracia: os grupos de interesse. Sejam eles económicos, culturais ou religiosos, estes “lobbies” conseguem perturbar os responsáveis políticos na sua actuação. Elaborar um programa político para um país tornou-se fácil. Concretizá-lo é bem mais difícil. Nos últimos anos, têm tido sucessos aqueles que falam em nome do povo, orientando o seu discurso para os problemas mais prementes culpando o sistema político em que o país se encontra. Em França, Jean-Marie Le Pen, ia ganhando as eleições presidências. Na Áustria, Jörg Haider, com o seu pensamento de extrema-direita, abriu hostilidades com a União Europeia que, sobre a presidência portuguesa, decidiu impor algumas restrições no relacionamento com a Áustria. Na Venezuela, Hugo Chavez, com a sua política de esmolas para os pobres à custa do petróleo, fez com que “quatro em cada cinco venezuelanos vivem abaixo no limiar da pobreza”, devido a uma má gestão económica (há vinte anos atrás, o país tinha os padrões de vida mais altos da América Latina). Todos estes homens foram eleitos (ou quase) pelo povo, graças ao sistema democrático. Uma pergunta surge: se o povo os quer, qual é o mal? Chegar ao poder por via democrática torna-se um pretexto para restringir a liberdade da população em próprio proveito.
O analista político americano, editor da revista Newsweek, Fareed Zakaria, escreveu O Futuro da Liberdade, no qual demonstra que mais democracia não significa obrigatoriamente mais liberdade. Neste livro, o autor defende que a democracia não corre riscos se a separação dos poderes das instituições democráticas for fortalecida sempre com independência. Segundo Fareed Zakaria, devem ser criados mecanismos que isolem essas instituições dos interesses externos e perniciosos para a democracia.
Os dirigentes políticos vivem hoje em dia dominados por “considerações políticas e eleitorais de curto-prazo”. Quando se cria um programa eleitoral, é imperativo segui-lo, porque os eleitores, quando votam, querem a aplicação do que foi supostamente “prometido” e não em decisões tomadas a reboque de acontecimentos, sejam eles faits divers, que ocorram durante o cumprimento do mandato. Mas, talvez, o mais importante é o de designar uma estratégia governamental de médio/longo-prazo em áreas consideradas fulcrais para o desenvolvimento de um país. Contudo, é preciso coragem porque tais políticas levam muito tempo a produzir efeitos e requerem uma mão inflexível.

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