Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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sábado, novembro 06, 2010

A Cimeira da NATO



Na próxima semana, Lisboa irá receber uma cimeira decisiva da NATO. Esta cimeira é crucial porque nela será aprovado o novo Conceito Estratégico da organização e serão abordados temas como a Guerra no Afeganistão, o futuro das relações com a Rússia e o novo sistema de defesa antimíssil.


É sempre entusiasmante saber que Portugal estará no centro das atenções do mundo mediático por receber altas figuras de Estado como o Presidente americano Barack Obama ou da Rússia Dimitri Medvedev. As medidas de segurança serão impressionantes e, por isso, merecem uma despesa adicional nas contas públicas, pois o prestígio e a imagem do país estarão em jogo. Podemos até dizer que se trata de um investimento diplomático que trará notabilidade ao país, precisamente num momento em que Portugal está deprimido devido à crise.


Definir o futuro da NATO e o seu relacionamento com o mundo será o ponto essencial da reunião dos seus 28 membros e é possível adiantar que este futuro não é risonho. A participação da NATO na guerra no Afeganistão após o 11 de Setembro foi inédita porque esta se deu fora do seu âmbito geográfico e ao abrigo do artigo 5º que não só legitima o uso da força contra um inimigo externo, como implica uma solidariedade bélica por parte dos outros membros. Como se sabe, a guerra encontra-se num momento alto de intensidade, mas baixo em termos de progressos em favor dos aliados, acabando por desgastar a organização e virar contra si a opinião pública. A pacificação do país parece impossível, ainda para mais com provas de corrupção no seio do governo afegão. Esta guerra perdeu credibilidade e muitos países envolvidos, como Portugal, já pretendem uma retirada definitiva.


As recomendações do Grupo de Peritos, que foi convidado para elaborar o relatório para a Cimeira, confluem com a nova estratégia dos Estados Unidos. Assim, os Estados Unidos pretendem ter um papel menos preponderante e activo no sistema internacional e desejam que as regras de ordem internacional regressem aos valores pós-1945. Na verdade, existe um desejo disfarçado da primeira potência mundial em reduzir a relevância da NATO. Se olharmos para o actual mapa do mundo e para as novas forças de poder emergentes é fácil entender esta mudança de paradigma.


As novas potências emergentes, como a China, a Índia ou o Brasil não podem ser somente avaliadas em termos económicos. São, sem sombra de dúvidas, novos actores na política internacional cuja influência não pode ser menosprezada. Tal como o jornalista americano Fareed Zakaria defendeu, encontramo-nos actualmente num “mundo pós-americano”. Na verdade, prefiro a expressão pós-hegemónico do que pós-americano. Isto porque os Estados Unidos ainda continuam a ser a primeira potência mundial em diversos domínios, mas na política internacional já não podem actuar sozinhos como o fizeram nos tempos de George W Bush. Pelo menos, assim definiu a Administração Obama. Como vemos, esta perda relativa do poder americano é deliberada face à nova conjuntura internacional. Se é verdade que há valores que aproximam os membros da NATO, como a Democracia e a Liberdade, muitas das potências emergentes são também democracias consolidadas que partilham esses valores. As únicas diferenças residem nas prioridades geopolíticas. Com Obama, o unilateralismo acabou; bom para o mundo, mau para a Europa que sempre se acomodou ao poder militar da América e da Inglaterra.


Na verdade, a NATO depara-se com o problema da sua perda de relevância no contexto internacional. E é bom sublinhar que os países da NATO sempre se submeteram à agenda dos Estados Unidos. Havendo um retraimento da América, os restantes membros ficarão diminuídos. Provavelmente, muitos deles agradecem.


Por isso, a nova Estratégia passará para um sistema internacional “mais flexível e polarizado” segundo a estudiosa Diana Soller. Isto significa que o interesse já não será na inclusão de novos membros, mas sim numa maior projecção da ONU, esta sim uma organização de âmbito planetário na qual estão incluídas as novas potências. Percebe-se que qualquer missão de carácter bélico só terá verdadeira legitimidade mediante a aprovação da ONU e com a anuência de países como a China ou a Rússia.


Em suma, é interessante verificar que o futuro da NATO está intimamente ligado à história da Base das Lajes: a progressiva perda de relevância no contexto geopolítico. O centro político do mundo já não se situa no Atlântico norte.

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