A escola é minha mãe
E
o governo é meu pai. Perante o estado de crise em que vivemos assolados, os deputados
regionais servem-se da fome nos Açores, mais precisamente da das crianças, como
arremesso político, como se o crescente descrédito que os cidadãos nutrem pelos
políticos não abrangesse os Açores. No entanto, se levarmos a discussão para um
nível mínimo de seriedade, a necessidade de recorrer às escolas para colmatar a
fome em casa de certas crianças mostra o falhanço das políticas sociais do
Governo Socialista dos Açores.
Com
o tempo e a democratização do ensino, a esfera de atuação das escolas tem
aumentado substancialmente, e com isso o poder de intervenção dos professores,
que não passa somente pelo ato de ensinar, mas também atender aos contextos
sociais e familiares dos alunos, por forma a responder melhor às suas
necessidades e anseios.
Apesar
de todas as políticas de apoio social desenvolvidas na última década, a miséria
nunca deixou de existir no arquipélago. Com a atual crise, o problema
agudizou-se e a forma como os responsáveis políticos respondem a essa situação
passa por responsabilizar cada vez mais as escolas, obrigando-as, por exemplo –
e a meu ver mal -, a facultar pequenos-almoços aos alunos carenciados. Apesar
da insistência do Bloco de Esquerda para que o mesmo suceda na atribuição de
almoços em período de férias, o Secretário da Educação tem sabiamente refutado
esse pedido. Na verdade, até onde deve ir a escola na sua missão de educar
crianças e jovens? Não estará ela a ir já para lá das suas competências?
Resolver
o problema da fome nos Açores é fácil. Não estamos em África onde há escassez
de bens alimentares e de água. Mas, para tal, há que fazer escolhas. Os políticos
não podem fazer de conta e usar a velha máxima do pão e do circo para entreter
o povo. Como se viu nesta última semana, quem nos representa prefere usar os
seus dotes circenses ao invés de resolver os problemas dos açorianos, sobretudo
mais carenciados. Quem governa não pode andar com a consciência tranquila
quando é confrontado com a miséria vivida por algumas famílias açorianas.
Assumam-no de uma vez por todas: se há pais que não sabem cuidar dos seus
filhos nas coisas mais básicas como dar de comer, então retirem-lhes a custódia.
Afinal, para que servem os milhões gastos em apoios sociais? Para que serve a
construção de bairros sociais ou a concessão de rendas sociais se há famílias
inteiras a dormir no mesmo quarto ou em condições deploráveis?
Tenho-o
defendido há muito: enquanto houver fome nos Açores, não há condições para o
governo ou as câmaras andarem a gastar o dinheiro dos contribuintes em festas e
efemérides culturais. Não há moral em pertencer à União Europeia, mas haver
cidadãos a viverem como se estivessem no terceiro mundo.
A
escola açoriana tem falhado redondamente na sua primordial missão que é a de
instruir e formar crianças e jovens. Não pode haver melhoria dos resultados se
a escola faz tudo menos combater o insucesso escolar. A escola não deve ser o
espelho da sociedade; antes pelo contrário, deve acautelar que todos tenham as
mesmas oportunidades de vencer na vida a partir dos estudos e da aprendizagem. Na
escola, se for digna desse nome, não interessa a origem dos alunos; interessa é
para onde vão e se esta os prepara devidamente para trilhar esse caminho.
E
a fome, nem devia ser motivo de discussão nas escolas. A não ser para os
palhaços da política.
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