As mentes brilhantes da DRE
A
escola pode ter muitos defeitos. Mas o que não pode de maneira nenhuma é
discriminar qualquer aluno por razões étnicas, religiosas ou económicas. A
escola pública pode estar nas ruas da amargura, mas ao longo da sua história
sempre criou oportunidades para as crianças e jovens subirem na vida. Alguns
iluminados da Direção Regional da Educação resolveram levar este pressuposto ao
extremo e criaram o programa Oportunidades.
Já
muito se falou sobre este programa alternativo ao currículo regular para os
segundo e terceiro ciclos. Dos Conselhos Executivos aos Sindicatos dos Professores,
existe consenso sobre a matéria: este programa fomenta mais desigualdades,
anulando as “oportunidades” que supostamente deveria criar. De um currículo
restrito a um número muito reduzido de alunos, os “OP’s” têm-se transformado
num autêntico sistema paralelo ao ensino regular cujo número de turmas aumenta
a cada ano que passa. Neste momento, há alunos que nunca conheceram o ensino
regular, ao invés, foram frequentando progressivamente o nível um, dois e três
dessa aberração pedagógica.
Quando
as
mentes brilhantes da Secretaria Regional da Educação criaram o
programa “Oportunidades” para combater o insucesso e o absentismo escolares,
nunca pensaram que estavam a erigir os primeiros guetos das
escolas açorianas. A intenção era boa, mas os resultados são desastrosos. O
programa “Oportunidades” é justamente a transposição da pobreza endémica dos
Açores para o meio escolar. Nem os responsáveis pelo casting da “Casa
dos Segredos” fariam melhor. E se alguém na DRE pensa que, ao juntar os alunos
com dificuldades de aprendizagem ou com problemas de absentismo, está a
salvá-los bem se engana: o problema amplifica-se. À luz da DRE, a única
vantagem, talvez, seja a de eles não participarem nos Exames Nacionais para não
piorar os já tristes resultados da Região.
A
esmagadora maioria dessas turmas é constituída por alunos ou de famílias
carenciadas ou com problemas graves de negligência parental, acabando
por serem marginalizados pelas suas escolas. Os professores do quadro encaram essas
turmas como
um “castigo” a evitar, fazendo com que a responsabilidade recaia nos
professores contratados que estão completamente fora do contexto ou nalguns
professores-heróis. Os programas escolares são tão subjetivos e
ligeiros que se torna difícil perceber o que se pretende com esses alunos.
Alguns professores têm por missão ensinar miúdos com 15 anos a
ler, e outros a saber comportarem-se dentro da sala de forma respeitosa e
civilizada. Acabando-se o programa, alguns alunos optam por
regressar aos currículos regulares, mas não conseguem acompanhar o ritmo dos
seus colegas porque a sua preparação é muito deficiente. No final, temos alunos
impreparados para o futuro que se agarram aos cursos profissionais
disponibilizados na sua ilha. E, como se sabe, as escolas profissionais
dão-se ao luxo de escolher os seus alunos. E esses alunos, devido às suas
parcas competências, não interessam a ninguém.
Não
me cansarei de falar sobre o assunto até que alguém com responsabilidades faça
alguma coisa. Tenho esperança no Secretário Regional Fagundes Duarte. Pelo
menos, já demonstrou alguma sensibilidade social desde que tomou posse.
PS: faz sentido obrigar um jovem com 17
anos a ficar na escola, ameaçando-o com CPCJ e tribunais, só porque alguns iluminados
da política assim o quiseram? O debate sobre o alargamento da escolaridade
obrigatória será feito, nem que seja à força.
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