Empreendedorismo e Agricultura Farmville
Muitos se indignaram quando o
Primeiro-ministro sugeriu a emigração como uma alternativa ao desemprego e à
precariedade dos jovens. De facto, este governo tem sido exímio em declarações
provocatórias. Há, contudo, políticos mais subtis. Quando um político desafia a
juventude a ser empreendedora, no atual contexto social e económico, só está a
reconhecer que nada pode fazer por ela.
Circula uma ideia errada acerca do
que é ser empreendedor. Empreender não é só abrir uma empresa ou trabalhar por
conta própria. Empreender é arriscar, é lutar pelos seus objetivos sem depender
de alguém ou de uma entidade para os concretizar. Por isso, não há sombra de
dúvidas de que quando alguém decide emigrar está a ser empreendedor. E esta
geração é a mais empreendedora de sempre. Sair do país é uma decisão extrema
que comporta riscos fáceis de imaginar. Mas basta um pequeno contacto no
exterior, o domínio do inglês, e um CV bem elaborado, e a juventude portuguesa
parte sem remorosos e, sim, com alguma esperança. “Mais vale a miséria de lá,
do que a de cá”: este lema, cada vez mais repetido, ilustra bem a situação
dramática a que chegamos.
Questiono-me se, mesmo sem crise, o
movimento migratório que se verifica na juventude não teria lugar na mesma,
pois a precariedade nos jovens tornou-se um fenómeno europeu. Esta geração, a
mais bem preparada de sempre, não pode esperar por dias melhores para
concretizar aquilo que sempre desejou ao longo dos seus estudos.
Outra situação digna de registo é o
chamado regresso à agricultura. O Ministério da Agricultura indica que mais de
200 jovens voltam para a terra todos os meses. Este é mais um exemplo de
empreendedorismo que não espera pela sugestão de um político. No entanto,
também aqui manifesto as minhas dúvidas. Haverá assim tanto jovem que de um
momento para o outro se tornou especialista na arte de cultivar? Ainda há
pouco, o que vinha logo à mente das pessoas quando se falava em cultivar era o
jogo Farmville. Pela primeira vez,
passou-se do virtual para o real, e não o contrário.
O desespero e a impaciência têm
levado a juventude portuguesa (e europeia) a tomar medidas difíceis e
arriscadas. Muitas delas têm sido felizes. Infelizmente outra parte da
juventude - de que ainda não se fala, mas que em breve será alvo de notícias - é
aquela que saiu do país, mas que voltou de mãos a abanar. São cada vez mais as
empresas estrangeiras, pressionadas pelos respetivos governos numa tentativa
demagógica de controlar a xenofobia, a recusar trabalhadores estrangeiros
qualificados.
Não consigo ver solução para este
problema. Penso que a sociedade europeia- e, em particular, a portuguesa - está
a sofrer transformações cujos resultados ainda não são percetíveis. Mas que Portugal
não voltará a ser igual, isso não.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial