A Queda da União Europeia
A União Europeia está desmoronar-se.
Esse desfecho é cada vez mais provável mas a sua origem não é de agora. Remonta
aos seus primórdios, quando se criaram as regras que definiram o
estabelecimento do Euro e aquelas que alargaram a União Europeia aos países de
leste. A Europa vai-se tornando o epicentro dos problemas financeiros mundiais,
mas cujas repercussões ainda não atingem as outras nações, a tempo de se
protegerem. Contudo, o retrocesso civilizacional está em curso: a queda da
Europa, tal como a queda da Roma Antiga, tem a mesma causa: a impossibilidade
de conciliar as diferentes culturas dos seus países-membros.
Quando Espanha e Portugal entraram
na CEE, havia o perigo de não acompanharem o ritmo de desenvolvimento dos outros
países. A vantagem era a proximidade com o centro da Europa e o facto de os
índices de corrupção serem relativamente baixos e as instituições políticas e
judiciais confiáveis, com uma separação de poderes bem instituída. No entanto,
houve erros inaceitáveis. A atribuição de milhões em fundos estruturais de
desenvolvimento sem a devida fiscalização e monitorização contribuíram para
assimetrias sociais e regionais. Apesar das diferenças fiscais, laborais e
sociais que existiam entre os países que constituíam a CEE, a prioridade foi
dado ao apetrechamento de infraestruturas. Ninguém queria ouvir falar em
federalismo; o dinheiro é que importava.
Com o tempo e a evolução de CEE para
UE, o processo parecia imparável, mesmo que lento à luz dos cidadãos. Porém, o
discurso oficial falava em “política dos pequenos passos”. Depois do
desmoronamento da URSS, os novos países do leste batiam à porta da Europa,
pedindo para os deixar entrar. Abria o debate sobre o que era a UE, sobretudo
quando a Turquia manifestou grande interesse em nela aderir. Afinal, os
pequenos passos davam lugar a uma corrida desenfreada para unificar
politicamente uma Europa profundamente dividida e assimétrica. Compreende-se
que a boa vontade dos governantes se sobrepôs ao bom senso político. Contudo, os
países de leste eram diferentes entre si, o que obrigaria a um processo de
adesão diferente do que fora feito com Portugal e Espanha. Mas não interessava:
em 2004, aderiram de uma só vez 10 novos países.
Se a República Checa e a Polónia
adaptaram-se e cresceram, a Bulgária e a Roménia foram o oposto. Outro erro de
visão estratégica. Nunca deveriam ter aderido à UE sem primeiro fortalecer as
suas instituições políticas e judiciais e criar um rumo sustentável para as
suas economias. Com a abolição das fronteiras, incentivaram ao fluxo migratório
e, com ele, as redes mafiosas alimentadas pela pobreza desses países. A
xenofobia europeia instala-se novamente - ilustrada pelos tristes episódios dos
“Rome” em França.
Com a atual crise, os governantes
europeus andam desamparados. Uns dividem esta União em duas categorias: os
países do sul, laxistas e preguiçosos; e os países do norte, espartanos e
sensatos. Dizer, como o Ministro das Finanças alemão, que temos inveja do
sucesso da Alemanha traduz a inconsciência de quem devia zelar pela Europa como
um todo. A secessão está em vias de acontecer porque a Europa já não faz parte
da solução, mas sim do problema, enquanto vigorar a filosofia política que
defende o ajustamento como um castigo a ministrar a quem não anda à mesma
velocidade dos grandes.
Chipre foi mais uma vítima do
pensamento alucinado e vingativo que paira em Bruxelas e na Alemanha. Quando a
ilha aderiu à UE e ao Euro já era um paraíso fiscal. A sua posterior adesão somente
serviu para alimentar a ganância dos grandes depositantes russos. Na altura, nenhum
governante europeu se queixou desse problema, demonstrando, pelo contrário, falta
de coerência e de respeito pelos ideais democráticos da Europa. A Europa
enterrava os seus valores com a premissa de que bastava integrar qualquer país para
que a transformação ocorresse como que por magia. Como se vê agora, um tremendo
erro.
Mais uma vez, o problema das discrepâncias
inconciliáveis entre os países da União. Sejam elas, políticas, sociais,
económicas e até culturais (ou sobretudo culturais), é impossível unir países
sem antes ter dirimido essas diferenças. O facto de os países terem culpa pelas
suas crises domésticas tornou-se irrelevante para o grande problema que a
Europa doravante enfrenta.
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