Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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segunda-feira, novembro 28, 2005

A coerência do Papa

A Igreja Católica Apostólica Romana encontra-se, mais uma vez, envolvida em polémica. Não; desta vez, não se trata de uma nova interpretação de O Código da Vinci. O Papa, Bento XVI, “decretou” a exclusão de homossexuais dos seminários e do sacerdócio. Esta decisão indignou a minoria em causa e reacendeu o debate sobre o suposto conservadorismo intolerante da Igreja. Sabendo que todos os homens, que encetam pela devoção à causa de Deus, fazem um voto de castidade, não se entende o porquê da polémica.

O argumento da indignação, para além da discriminação sexual, é deveras simples: uma igreja, com dois mil anos de existência, não compreende ou faz por não compreender o mundo que a rodeia e as alterações que a modernidade provocou. E mais, já se fazem prognósticos quanto ao seu futuro: assim, a instituição vai por um caminho que a levará ao total descrédito e à sua consequente extinção. O que é interessante é que muitas das pessoas que defendem esta posição não são católicas mas são, pelo contrário, agnósticas.

A Igreja católica vai para lá do nosso tempo, por isso é que muitos de nós – comuns mortais – não a entendemos. Muitos dos cépticos em causa admiram os seus rituais, os seus monumentos e sua história, mas gostavam que ela se adaptasse aos tempos modernos. Contudo, a Igreja não é um partido político que apresenta um programa eleitoral. A Igreja é o pilar de valores perpetuados ao longo do tempo mas, em abono da verdade, nem sempre de forma pacífica. Num mundo em que as questões da modernidade são debatidas de forma aberta e democrática, em que as chamadas minorias de todo tipo têm uma voz cada vez mais importante na sociedade, mas, porém, em que a população se sente cada vez mais desconfiada e assustada com essas tais mudanças, a Igreja Católica serve de amparo para aqueles que procuram algo que só pode ser encontrado na Fé. Parafraseando Vasco Pulido Valente, ao ouvir a decisão do Papa “não se percebe por que razão isso ofende, ou irrita quem não é católico”.

O mesmo se poderá dizer em relação ao uso do preservativo, às questões do aborto e da inseminação artificial. A Igreja defende a fidelidade, a monogamia e a procriação natural. É tão simples quanto isto. Pode-se não concordar mas, num mundo tão díspar, a Igreja está em perfeita consonância e coerência com os seus princípios. No passado, esta discordância podia levar à morte. Actualmente, quem não concorda tem a liberdade de se retirar. A Igreja já não é o Estado. E os seus representantes, como o sumo-pontífice, sabem-no muito bem.

Não cabe à Igreja viver em função do “ar do tempo”. A sua missão é trazer conforto, segurança e, sobretudo, esperança aos crentes que crêem à maneira dela. As seitas servem para outras crenças.

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