Os verdadeiros privilegiados
O país avança nas reformas e a contestação social continua. “Juízes e magistrados estão a convocar a greve por um único motivo: não querem ter um sistema de protecção na doença igual ao que eu tenho e os funcionários públicos.” Palavras do primeiro-ministro sobre a greve dos funcionários judiciais, que ocorreu na semana passada. Eis mais uma prova de que este governo, em vez de optar pelo discurso pedagógico que consistiria em apelar ao espírito de sacrifício dos portugueses, prefere declarar “guerra” aos ditos privilégios de certas classes profissionais.
No entanto, a demagogia barata e mentirosa parece funcionar melhor. Se alguns portugueses caíram na armadilha, então é bom que sejam esclarecidos sobre quem são os verdadeiros privilegiados.
O que José Sócrates disse sobre o seu sistema de segurança social não é verdadeiro. Não interessa saber se o primeiro-ministro se enganou ou se faltou à verdade; o que interessa é que, com estes propósitos, conseguiu dividir ainda mais a sociedade civil ou, por outras palavras, o povo. Todos os ministérios, assim como os agregados familiares dos funcionários do Estado, podem ter um sistema de protecção social e de saúde alternativo para além da ADSE. Toda a gente concorda que os sacrifícios devem ser feitos por todos. Porém, como se pode constatar, a demagogia venceu. Na verdade, quem é que acredita que um primeiro-ministro possa ter um sistema de protecção social e de saúde pior que outros funcionários públicos?
Nos primeiros meses de governação, o Governo, com apoio da maioria socialista, reformulou a lei das subvenções dos políticos. Em nome de uma certa justiça moral e com espírito de missão patriótica, os políticos também prescindiriam das regalias a que tinham direito. Esta lei teria, em teoria, aplicação visível já nas eleições autárquicas de Outubro. Contudo, por um atraso pouco compreensível, a dita lei demorou a ser enviada para promulgação por parte do Presidente da República. Esta demora fez com que os autarcas recém empossados já não sejam abrangidos pela dita alteração legislativa. As tomadas de posse dos novos executivos camarários foram feitas ainda no mês de Outubro. A partir de Novembro, a nova lei entra em vigor.
Se não fosse a leitura dos jornais, eu acharia perfeitamente normal o facto de os políticos eleitos quererem trabalhar o mais rapidamente possível. Às vezes, ainda me rio da minha ingenuidade.
Em França, aquando de uma greve dos transportes públicos, jornalistas entrevistavam pessoas que se encontravam retidas nas estações de comboio. Essas pessoas lamentavam o facto dessa greve afectar a sua vida pessoal. Todavia, diziam que estavam solidárias com os grevistas. Em Portugal, o povo não é uno. Nas televisões, rádios e jornais vêem-se pessoas a contestar qualquer greve, alegando a obrigação de todos serem tratados por igual.
Em democracia, trata-se por igual quem é igual e diferente quem é diferente. Nem todas as profissões, mesmo dependentes do mesmo patrão – o Estado, por exemplo –, podem ser comparadas e ter um tratamento por igual. Um militar e um funcionário dos Correios devem ter o mesmo sistema de protecção social?
Chegou a altura da Revolução Francesa chegar a Portugal.
No entanto, a demagogia barata e mentirosa parece funcionar melhor. Se alguns portugueses caíram na armadilha, então é bom que sejam esclarecidos sobre quem são os verdadeiros privilegiados.
O que José Sócrates disse sobre o seu sistema de segurança social não é verdadeiro. Não interessa saber se o primeiro-ministro se enganou ou se faltou à verdade; o que interessa é que, com estes propósitos, conseguiu dividir ainda mais a sociedade civil ou, por outras palavras, o povo. Todos os ministérios, assim como os agregados familiares dos funcionários do Estado, podem ter um sistema de protecção social e de saúde alternativo para além da ADSE. Toda a gente concorda que os sacrifícios devem ser feitos por todos. Porém, como se pode constatar, a demagogia venceu. Na verdade, quem é que acredita que um primeiro-ministro possa ter um sistema de protecção social e de saúde pior que outros funcionários públicos?
Nos primeiros meses de governação, o Governo, com apoio da maioria socialista, reformulou a lei das subvenções dos políticos. Em nome de uma certa justiça moral e com espírito de missão patriótica, os políticos também prescindiriam das regalias a que tinham direito. Esta lei teria, em teoria, aplicação visível já nas eleições autárquicas de Outubro. Contudo, por um atraso pouco compreensível, a dita lei demorou a ser enviada para promulgação por parte do Presidente da República. Esta demora fez com que os autarcas recém empossados já não sejam abrangidos pela dita alteração legislativa. As tomadas de posse dos novos executivos camarários foram feitas ainda no mês de Outubro. A partir de Novembro, a nova lei entra em vigor.
Se não fosse a leitura dos jornais, eu acharia perfeitamente normal o facto de os políticos eleitos quererem trabalhar o mais rapidamente possível. Às vezes, ainda me rio da minha ingenuidade.
Em França, aquando de uma greve dos transportes públicos, jornalistas entrevistavam pessoas que se encontravam retidas nas estações de comboio. Essas pessoas lamentavam o facto dessa greve afectar a sua vida pessoal. Todavia, diziam que estavam solidárias com os grevistas. Em Portugal, o povo não é uno. Nas televisões, rádios e jornais vêem-se pessoas a contestar qualquer greve, alegando a obrigação de todos serem tratados por igual.
Em democracia, trata-se por igual quem é igual e diferente quem é diferente. Nem todas as profissões, mesmo dependentes do mesmo patrão – o Estado, por exemplo –, podem ser comparadas e ter um tratamento por igual. Um militar e um funcionário dos Correios devem ter o mesmo sistema de protecção social?
Chegou a altura da Revolução Francesa chegar a Portugal.
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