Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, outubro 23, 2005

O ranking das escolas

Há cinco anos para cá, o Ministério da Educação tem divulgado uma lista com os resultados dos Exames Nacionais das escolas secundárias do país. Mais conhecida por “Ranking das escolas”, esta lista permite, a todos os interessados na matéria, saber quais são e onde estão as melhores escolas do país. Será mesmo assim? Que a partir do resultado de um único exame se possa catalogar todo o trabalho de anos dos alunos e, consequentemente, de uma escola com todos os seus intervenientes?
Ao ver o ranking, logo nos primeiros lugares surgem as escolas privadas das cidades principais. Esta conclusão acaba por ser óbvia tendo em conta a classe social a que pertence os respectivos alunos. Uma classe média alta e, nalguns casos, bem abastada. A única escola pública que se encontra nos dez primeiros lugares tem em comum com as escolas privadas o facto de também ela ser constituída por alunos de classes privilegiadas. Alias é interessante verificar que a Ministra da Educação salienta que, no próximo ano, a tutela pretende “recolher indicadores sobre a composição social dos alunos”. O facto de se ser rico ou filho de pessoas cultas não é sinal de sucesso escolar garantido, mas, no entanto, é um factor determinante.
No cômputo geral, a média de todos os exames é negativa, o que acaba por dar uma perspectiva pessimista do panorama educativo português. Contudo, se muitos pedagogos são contra este tipo de “Top Mais”, algumas escolas, perante resultados pouco animadores, tomaram rédeas e estudaram formas de subir no “Top”. Por outras palavras, os alunos acabaram por ter melhores resultados. É o que interessa? O historiador Ramos do Ó defende que este processo é errado alegando que “as pessoas não estudam para saber, estudam para exibir o conhecimento no exame”. À primeira vista, este reparo parece certeiro. Porém, é preciso ver que os Exames Nacionais têm evoluído na sua concepção, em que privilegiam cada vez mais competências que só podem ser adquiridas ao longo de anos de estudo. Também é preciso analisar a forma como as “melhores escolas” organizam os currículos oficiais, acompanham o processo educativo dos seus alunos e aplicam regras de conduta no estabelecimento. Os factores exigência e rigor são usados diariamente e em todas as aulas. E, na minha opinião, esta é a receita para que haja sucesso nas escolas públicas, sejam elas de zonas ricas ou pobres. A democratização do ensino baixou o nível de exigência. É um facto, mas permitiu que milhares de pessoas vencessem na vida, quando lhes estava predestinado um futuro árduo e pouco risonho. Importa é subir gradualmente o nível de exigência nas escolas e impedir a facilitação com que é encarada a escola quer do ponto de vista curricular, como também disciplinar. Educar para a cidadania é um papel cada vez mais presente nas escolas. As escolas públicas, motor de desenvolvimento do país, devem ser acarinhadas por todas as pessoas e devem ter os meios para fomentar a esperança e não a resignação de que só o esperto ou o filho de fulano se pode “safar”. Importa encontrar mecanismos que levem os alunos a melhorarem o seu desempenho intelectual e escolar.
A alteração do horário de trabalho dos professores dentro da escola tem de ser profícua. Não se pode, em nome de uma sociedade que é levada por comentadores ignorantes no que respeita às escolas, obrigar um professor de inglês a substituir um professor de matemática. O sucesso desta medida só acontece se o professor der a sua própria matéria à sua própria turma. Não se pode obrigar um professor a fazer de vigilante nos pátios, como se de um segurança se tratasse. Primeiro, porque assim fica mais caro ao erário público do que contratar uma empresa especializada, mas sobretudo, porque a sensação de despromoção e consequente desmotivação levará ao insucesso não só do aluno como do docente.
Apoiar os alunos em dificuldade com aulas “extras” é uma medida louvável. Verdade seja dita, esta medida é aplicada, há largos anos, em muitas escolas. Servindo quase como explicações, pagas e bem pelo ministério, estas aulas não demonstraram ainda o potencial que têm. Devem servir para tirar dúvidas, para exercitar determinado conteúdo que foi leccionado numa determinada disciplina ou para recuperar alunos com falta de pré-requisitos. Para o seu bom funcionamento, devem ter um número limite de alunos.
Ultimamente, a tendência perante o fracasso é ir fazer comparações com os países nórdicos, como a Finlândia, que apresentam taxas de sucesso escolar exemplares. Contudo, a comparação incide sobre o número de horas laborais entre o professor finlandês e o português e os respectivos salários. Não deixando de ser um lugar-comum, importa referir que é a qualidade que interessa e não a quantidade. A cultura nórdica é totalmente diferente da nossa. Exemplo, quanto tempo passa, em média e por dia, um jovem finlandês em frente à televisão? Será relevante dizer que em países como a Suécia, a Dinamarca, a Holanda se reduziram as horas de leccionação dos professores “para melhor se poder planificar, preparar e avaliar as aulas”?

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