2008:o ano da verdade
As próximas eleições regionais estão à porta. O actual governo desdobra-se em obras públicas pelas ilhas com um calendário estrategicamente calculado. Em 2008, não faltarão inaugurações e festas de júbilo para mostrar aos açorianos o trabalho feito. Perante esta supremacia estratégica, pouco pode fazer a oposição senão dar contas das derrapagens, dos dinheiros públicos mal empregues ou de possíveis situações duvidosas no que respeita a aplicação de certos fundos. A política pura e dura é mesmo assim. Resta saber o que pensam os eleitores sobre a prestação deste governo, sobre a oposição existente e, em consequência, conhecer a sua inclinação de voto: PS ou PSD?
Havendo uma maioria de deputados do PS na Assembleia Regional, o que inviabiliza qualquer iniciativa legislativa por parte dos outros partidos, cabe ao PSD a missão de mostrar trabalho nas autarquias que lidera. Das principais câmaras municipais dos Açores, só a de Ponta Delgada é que é laranja. Á partida, parece que esta situação desigual complica as coisas; no entanto, este município é o mais povoado, possuindo um grau de desenvolvimento muito superior à de qualquer outra cidade da região. Muito se deve à actual presidência da câmara. Contudo, o governo tem a sua quota-parte de responsabilidade neste sucesso. No princípio, aquilo que parecia augurar uma relação conflituosa entre a autarquia e o governo acabou por favorecer o progresso da principal cidade açoriana, beneficiando assim os seus munícipes. Quem mais lucra com estas políticas de elitismo cosmopolita é a edil de Ponta Delgada, Berta Cabral. Muito se tem escrito sobre a possibilidade de ela se tornar presidente do PSD Açores e concorrer às eleições contra Carlos César. Não há dúvidas que este cenário é interessante. Com a emergência de mulheres candidatas à presidência em países como a França ou os Estados Unidos, a ideia torna-se ainda mais sedutora. A verdade é que, por enquanto, não há indicações para que tal aconteça – não quer isto dizer que não exista movimentos em São Miguel que estejam nos bastidores do partido a preparar secretamente uma possível sucessão ao actual presidente do PSD, Carlos Costa Neves.
Seguindo este prisma, o que levará este governo socialista a dar a possibilidade ao “inimigo” de ganhar a simpatia dos eleitores, prejudicando a sua imagem para as próximas eleições? Porque não escolheu apostar nas ilhas da Terceira ou do Faial, premiando assim os votantes socialistas? As câmaras da Ribeira Grande ou da Praia da Vitória, que passaram recentemente para as mãos de dirigentes locais do PS, não têm tido a devida atenção por parte do governo como seria de pensar. Porquê? Dir-me-ão que não se deve misturar poder local e poder governamental. Mas então não é isso que tem acontecido em Ponta Delgada? O facto de os dois poderes serem representados por forças políticas diferentes permitiu um salto qualitativo na vida dos habitantes da “capital” açoriana. Não será isto paradoxal? Por esta lógica, se os dois poderes fossem do mesmo partido, a situação deveria ser ainda melhor. Mas a realidade mostra-nos que não. Basta sondar os habitantes de Angra do Heroísmo para perceber a insatisfação que por lá se vive. Mesmo com o antigo presidente da câmara, Sérgio Ávila, promovido a vice-presidente do governo, a situação parece ter piorado. Agora, sabe-se que a câmara passa por grandes dificuldades financeiras o que impossibilita o cumprimento de muitas promessas eleitorais feitas pelo actual presidente. Pasme-se. A Terceira assiste incrédula ao desenvolvimento sem precedentes da sua cidade “arqui-inimiga” do grupo oriental. No passado, esta rivalidade, que considero em certos pontos saudável, permitiu uma espécie de jogo ao despique. Actualmente, por ter sido criada uma situação injusta, a arrogância de um lado anula completamente o outro. Quanto ao Faial, as coisas são bem piores. Quem vem de fora até pensa que a edilidade da Horta foi castigada. O PS do Faial, completamente subordinado, só lamenta, mas não contesta o PS Açores. Pasme-se.
Pode-se argumentar que a ilha de São Miguel é aquela que mais habitantes/eleitores tem, daí a prioridade do investimento. Mas o governo, com esta política, poderá ter contribuído para a desertificação das outras ilhas. Resta deduzir que, pelo facto de os principais governantes serem de São Miguel, nomeadamente, Ponta Delgada, acabam, inconscientemente, por favorecer a sua terra.
Para quem não se resigna com a actual situação e acha que pode fazer melhor, deve então preparar eleições desta envergadura com muita antecedência, ponderação e organização estratégica. Na partida, a luta é desigual. Mas, pior do que isso, seria dar a sensação à população que, internamente, algo ainda não está completamente resolvido.
É de saudar o sucesso diplomático do governo regional na sua deslocação ao Uruguai e à Argentina. As palavras de Carlos César que enaltecem Portugal e os portugueses junto das comunidades emigrantes são salutares. Este “novo” papel de representante da república em terras sul-americanas acaba por sugerir a ideia de criar, tal como o governo autónomo da Catalunha que abriu uma representação “diplomática” em Lisboa, sedes de representação nos países onde existe uma maior diáspora açoriana, com vista à promoção empresarial, cultural e turística do arquipélago.
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