Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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domingo, janeiro 15, 2012

Um bairro social dentro da escola



Dizer que a escola é o espelho da sociedade é admitir, de certa maneira, o seu fracasso. A escola deveria ser precisamente o contrário da sociedade, porque nela as classes sociais deveriam ser atenuadas, permitindo que todos, realmente, todos os alunos pudessem adquirir conhecimentos e competências que lhes fossem proveitosos para o seu futuro, independentemente de serem ricos ou pobres, de terem pais atenciosos ou negligentes.

O primeiro problema é que a escola não consegue – e não deve – substituir-se aos pais. Este é o primeiro desafio da escola: receber crianças de todos os estratos sociais e culturais, e esbater essas diferenças no momento da aprendizagem. Esta missão é particularmente difícil porque nem todas as crianças e jovens têm as mesmas aptidões e capacidades. A boa notícia é que, para progredir, uma sociedade não precisa de ser só constituída por génios.

Quando a Secretaria Regional da Educação criou o programa “Oportunidades” para combater o insucesso escolar – que nada tem que ver com Ensino Especial nem com Novas Oportunidades -, nunca pensou que estava a erigir os primeiros bairros sociais das escolas açorianas. A intenção era boa, mas os resultados são, até agora, preocupantes. O programa “Oportunidades” é justamente a transposição da pobreza endémica dos Açores para o meio escolar. Onde há maior pobreza, há mais turmas com o dito programa. Concelhos como a Ribeira Grande, Vila Franca do Campo, em São Miguel, ou a Freguesia da Terra Chã, na Terceira, são exemplos perfeitos do erro que está a ser cometido com essa iniciativa pedagógica.

A esmagadora maioria dessas turmas é constituída por alunos de famílias carenciadas e são turmas marginalizadas pelas suas escolas. Os professores dos quadros encaram-nas como um “castigo” a evitar, fazendo com que a responsabilidade recaia nos professores contratados que estão completamente fora do contexto. Os programas escolares são tão subjectivos e ligeiros que se torna difícil perceber o que se pretende com esses alunos. Alguns professores têm por missão ensinar miúdos com 14 anos a ler, e outros a saber comportarem-se dentro da sala de forma respeitosa e civilizada. Acabando-se o ciclo, alguns alunos optam por regressar aos currículos regulares, mas não conseguem acompanhar o ritmo dos seus colegas porque a sua preparação é muito deficiente. No final, temos alunos impreparados para o futuro que se agarram aos cursos profissionais disponibilizados na sua ilha. Porém, é preciso reconhecer que serão profissionais com fraca competência e cujos rendimentos serão sempre baixos. Isso, numa acepção optimista, porque muitos abandonam simplesmente a escola, criando-se assim todas as condições para eles caminharem para a delinquência ou para a pobreza.

A meu ver, o programa “Oportunidades” ainda existe porque não se quer encontrar uma alternativa, o que é inaceitável.

O problema do insucesso escolar não é uma particularidade portuguesa. Por isso, em vez de inventar, mais valia olhar para os países com bons índices nesse campo e perceber como o conseguiram. Sim, uma visita de estudo dos nossos governantes à Coreia do Sul, à Suécia ou até ao Canadá seria mais proveitoso do que as “experiências” até agora realizadas.

É óbvio que a educação diferenciada é imprescindível para dar resposta aos alunos com dificuldades de aprendizagem. Contudo, para essas crianças é preciso criar mecanismos de detecção e de diagnóstico precoces de maneira a corrigir ou adaptar o ensino atempadamente. Isto quer dizer que logo no primeiro ciclo é necessário dispor dessas ferramentas e respectivos recursos, impedindo assim que o problema se prolongue e prejudique gravemente o futuro da criança em causa. A dispersão de disciplinas e conteúdos nessas idades é também um factor contraproducente, e por isso, a evitar. Tal como numa casa, os alicerces do conhecimento devem ser robustos e seguros. Criar momentos suplementares de apoio pedagógico individualizado é uma forma de recuperar as crianças que demonstrem dificuldades. Tal como diz o provérbio popular “O que nasce torto jamais se endireita”.

Nota: Enquanto vigorou na Região o Currículo Nacional para o Ensino Básico, os alunos açorianos realizaram a prova regional chamada PASE. Agora que os Açores dispõem do seu Currículo Regional, eis que os alunos participam nos Exames Nacionais. Anda tudo ao contrário? Não, depois de anos de experiências e de resultados desastrosos, mais vale parar com as aventuras pedagógicas. E, tal como está elaborado, o Currículo Regional também é uma infeliz aventura…

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