Em defesa da velha
Já se sabe que Portugal não é um país para velhos. O abandono ou a morte “solitária” de idosos transformaram-se num assunto banal, com os portugueses a encolherem os ombros por impotência. A novidade prende-se com a argumentação política do PS sobre a adversária Berta Cabral. Por ser “velha” e “caduca”, a líder do PSD Açores não merece o voto dos açorianos.
Este discurso, obviamente dissimulado, está cada vez mais presente não só nos panfletos que vão chegando a casa das pessoas, como também pela voz de diversos socialistas que divulgam a sua opinião pelos meios da comunicação social. O PS constrói a narrativa com base na dualidade “o novo contra a velha”, esquecendo-se das vezes em que apoiou dois “velhos” conhecidos da política portuguesa para as eleições presidenciais: Mário Soares e Manuel Alegre. Apesar de serem bem mais velhos do que Berta Cabral, a diferença é que eles são socialistas, por isso, na pior das hipóteses, são idosos, e Berta Cabral é Social-democrata, por isso é velha. De facto, para os socialistas tudo reside no valor semântico e ideológico das palavras.
Uma questão que, à primeira vista, parece inofensiva acaba por ganhar proporções embaraçosas. Quer queiramos quer não, estas alegadas afirmações são insultuosas para os açorianos mais velhos. Segundo o discurso socialista, os Açores só podem progredir com gente nova. A experiência, o currículo e a credibilidade não contam porque o que interessa é a idade. Numa Região cada vez mais envelhecida, resta então a solução do cartão partidário: se forem socialistas, serão idosos bem tratados e úteis; se forem de outro partido, serão velhos caducos e, por isso, descartáveis.
Claro que é fácil contrapor esta minha interpretação, dizendo que o PS defende que velhas são as políticas de Berta Cabral e não a pessoa em si. Mas, por saber o que a casa gasta no PS Açores, o uso da palavra “velha” tem tanto de subtil como a mulher vítima de violência doméstica que, para disfarçar o motivo das nódoas negras, afirma ter escorregado da banheira.
Assim vai a estratégia do PS para as eleições. O que interessa é votar no candidato Vasco Cordeiro que conseguirá nos seus primeiros 100 dias de governo aquilo que o Secretário da Economia Vasco Cordeiro não conseguiu em quatro anos. Mas eu, ao contrário da JSD, dispenso as bandeiras políticas de estágios para jovens - pagos pelo contribuinte - ad aeternam.
Já agora, por causa daqueles que de repente deram conta da minha existência, apesar de escrever regularmente para a imprensa açoriana desde 2003 e que me têm chamado de lambe-botas e outras coisas parecidas por se sentirem, provavelmente, incomodados, aproveito para dizer que se enganaram quanto às expressões utilizadas. Na verdade, eu até vendo o meu silêncio.
Do PSD não quero nada, porque estou do lado deles. Para o PS, se quiserem que eu me cale, basta comprar-me. E, se não quiserem ver mais a minha fronha, mandem-me, por exemplo, para os Estados Unidos junto da diáspora açoriana, assim terei a oportunidade de assistir a festivais de música Country. Acho que mais claro do que isto não existe. Afinal, na política tudo não passa de uma questão de semântica.
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