A Cimeira Atlântica – 10 anos depois
Estava uma manhã ventosa e
fria no Domingo 16 de Março de 2003.
A pista da Base das Lajes tinha ainda pouco movimento, contrastando
com a azáfama vivida nos seus bastidores, mais concretamente no Clube dos
Oficiais Americanos, local onde se reuniriam os líderes da Cimeira.
Às 11h30, chegava o Falcon da Força Aérea, vindo de Lisboa
que transportava o Primeiro-ministro português. As cerimónias protocolares, à
chegada de cada líder, foram apressadas e simples. Os quatro líderes da Cimeira
levaram poucos minutos a fazer o trajeto entre o avião e o Terminal Militar. O
último avião a aterrar, o Air Force One,
chegara a horas (15H50). A meio caminho entre o Terminal Militar e o avião
presidencial, estava Durão Barroso para receber George W Bush como o fizera
anteriormente com José Maria Aznar e Tony Blair.
Durante o trajeto, George W Bush
acenou para os manifestantes que se situavam fora da base, a cerca de 500 metros do local onde
se encontrava. Ainda no exterior, nas escadas de acesso ao edifício, os quatro
líderes cumprimentavam-se, possibilitando uma breve “foto de família” que iria
imortalizar o dia da Cimeira.
Os quatro líderes
reuniram-se à porta fechada com os seus principais colaboradores. George W Bush
iniciou as conversações resumindo as razões por que se encontrava nos Açores:
“Talvez se faça luz e Chirac concorde com a nossa resolução apadrinhada
conjuntamente, mas não haverá negociações”, disse ele. O presidente americano
deixava assim claro a sua posição de que a guerra era inevitável e teria início
numa questão de dias. Tinha perfeita consciência do risco da sua decisão: “A
opinião pública não ficará mais favorável e até piorará nalguns países, como no
caso da América.” Tony Blair tomou a palavra informando os presentes de que
Chirac através de uma entrevista dada à CBS, no programa 60 MINUTES, que iria ser transmitido nessa mesma noite, pediria que
fossem dados mais 30 dias no Iraque aos inspetores de armas da Nações Unidas.
Bush recusou veementemente, justificando que era uma tática de protelação.
Segundo ele, a França recorria a todos os meios para adiar a guerra. Na sala,
todos pareciam concordar. Fazendo um balanço dos esforços diplomáticos feitos
até então, os quatro líderes concordaram em dar mais 24 horas à diplomacia
embora tivessem consciência de que qualquer progresso nesse sentido seria muito
improvável.
Reviram a Resolução 1441 da
ONU para decifrar um ponto que lhes desse legalidade na entrada em guerra e
consideraram que, em caso de incumprimento das suas obrigações perante a
organização mundial, o Iraque sujeitava-se a sofrer “graves consequências”, o
que, neste prisma, lhes dava autoridade em optar pelo conflito bélico. Em
seguida, consideraram a hipótese de a França ou a Rússia apresentarem uma
contra-resolução para adiar a sua proposta de guerra. Tony Blair estava
incomodado, pois, segundo a sua perspetiva, um país que apresentasse uma nova
resolução com essa pretensão só podia encarar esse ato como diplomaticamente
hostil. Bush sorria porque nada o deteria das suas intenções e o encontro só
servia na verdade para informar os seus parceiros mais chegados de que a
decisão já tinha sido tomada. Para ele, o trabalho diplomático fracassara e até
adiantara-se dizendo que seria preciso planear o futuro do Iraque após a guerra
com as ajudas humanitárias e aproveitando o programa da ONU “oil for food”, que, como agora sabemos,
foi um autêntico desastre com atos graves de corrupção no país e na própria
organização. O encontro caminhava para o fim George Bush encerrava a discussão finalizando:
“Temos de construir um consenso internacional para o Iraque, um novo Iraque, em
paz com os seus vizinhos, e regressaremos às Nações Unidas para uma nova
resolução, depois da guerra. A ONU pode ajudar em muitos aspetos mas não deve
governar o país.” Deixava assim claro que seria a coligação a gerir o Iraque
depois do conflito. “Vou ter de discursar”, continuava, “Vou ter de lançar um
ultimato a Saddam”. O ditador teria assim 48 horas para deixar o Iraque.
A guerra durou nove anos. Depois
da morte de 4.500 soldados americanos, 30 mil feridos, pelo menos 100 mil
iraquianos mortos e um número incalculável de vitimados pela guerra por outras
formas, em outubro de 2011, o presidente Barack Obama declarou o fim do
conflito e anunciou a retirada dos soldados americanos ainda remanescentes.
Presentemente, o Iraque
ainda continua instável e perigoso, mas já não é problema da América.
Naquele dia, todos os olhares se fixaram
na Terceira com a transmissão de emissões em direto nos principais canais de
televisão do globo. Numa altura de profunda consternação por causa da redução
da presença americana na ilha, evocar este acontecimento dez anos depois serve
sobretudo para relembrar a importância geoestratégica dos Açores, nomeadamente
da Ilha Terceira.
1 Comentários:
Fiгst off I would liκe to say gгeаt blog!
I hаd а quick quеstion in which I'd like to ask if you don't
mind. I was interesteԁ to know hoω уou centeг
yourѕelf and clear уour thоughts before writing.
I've had a hard time clearing my mind in getting my ideas out there. I truly do take pleasure in writing however it just seems like the first 10 to 15 minutes are usually wasted simply just trying to figure out how to begin. Any recommendations or tips? Thank you!
My site: click the next web site
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial