Gli italiani sono stupidi?
Na Europa, instala-se o temor
relativamente às eleições legislativas de Itália. O fantasma de Berlusconi
paira no ar e as sondagens alimentam o medo de ele ganhar as eleições e
tornar-se assim Primeiro-ministro de Itália; uma vez mais. A campanha
jornalística contra “il cavaliere” está ao rubro, mas acredito que o alvo está errado.
Afinal, em democracia, quem é que escolhe os seus governantes?
Este é que é o verdadeiro problema.
Toda a vida de Sílvio Berlusconi é do conhecimento público, mesmo a mais
sinistra. Não há segredos para a opinião pública; e, se os há, só podem ser
piores do que aqueles que conhecemos. Em abono da decência, o empresário
italiano não deveria voltar à vida política. Mas legalmente pode. Assim sendo,
a moral transformou-se numa questão irrelevante. Sabendo os problemas legais e
criminais que Berlusconi enfrenta, sabendo o tipo de empresário que é, o cargo
que pretende ocupar permite-lhe tornar-se inimputável e, por isso, intocável. Se
os italianos não percebem isso, não vale a pena culpar Berlusconi. Se ele
vencer, quem deverá lamentar o sucedido serão os próprios italianos.
Aliás, o mesmo acontece em Portugal.
A polémica sobre a recandidatura de políticos que já cumpriram três mandatos à
frente de uma autarquia apresenta algumas semelhanças com o que acontece em
Itália. A lei sobre a limitação de mandatos em eleições autárquicas e regionais
faz todo o sentido e é salutar para a nossa democracia. No entanto, querer
estendê-la a todo o país é, no meu ver, errado. Mesmo que se critique a lei por
ser dúbia, ela nunca deveria impossibilitar alguém de concorrer a uma autarquia
onde não tenha exercido nenhuma função política, mesmo que tenha completado
três mandatos consecutivos noutro concelho.
Em democracia, não se pode
infantilizar os eleitores, tirando-lhes quaisquer responsabilidades sobre os seus
atos, para garantir supostamente transparência e renovação políticas. Os
eleitores devem ser levados a confrontar estas situações, pensando pelas suas
cabeças: se aquele político pode fazer tão bem ou melhor do que no concelho
anterior; se, numa questão mais bairrista, há legitimidade moral para este
candidato, não pertencendo ao concelho, o poder chefiar; se deve dar
oportunidade a outros candidatos mais novos e com menos experiência política. Estas
são algumas das questões que os munícipes devem equacionar, decidindo com base
nas suas respostas e inclinações políticas.
A
democracia deve responsabilizar os eleitores. Nas boas e nas más decisões. Uma
boa democracia só funciona com um povo informado, instruído, esclarecido mas
sobretudo livre para fazer as escolhas que entender.
Nota: saúdo a resposta de Maria
Teresa Amaral e Hermano Oliveira, no artigo do dia 8 deste mês, publicado no DI.
Não sendo detentor da verdade absoluta, estava à espera que refutassem o meu
artigo com dados concretos sobre o programa Oportunidades: absentismo, casos de
sucesso e de reintegração social. No entanto, não passou de um texto repleto de
bons princípios, cuja realidade trata de demonstrar que nem tudo o que idealizamos
se concretiza.
O princípio de tratar
diferente quem é diferente nem sempre resulta. O Ensino Especial é de facto uma
medida acertada para quem realmente é diferente. No caso dos “OP”, a diferença
tem que ver com a situação socioeconómica e/ou familiar do aluno. Assim, a
estratégia passaria por criar igualdade de oportunidades e não diferenciação que
acentua ainda mais a situação dos alunos já de si desigual face à restante
sociedade. Por isso, a DRE, para criar um programa que respondesse realmente ao
problema desses alunos, precisaria de uma equipa multidisciplinar, com
assistentes sociais, psicólogos e IPSS habituados a lidar com famílias
carenciadas ou problemáticas. E, sim, o ensino vocacional é mesmo indicado para
alunos com pouca consideração pela escola. Mas para isso, é preciso dar
condições às escolas e orientações precisas sobre o que se pretende.
Tirar os jovens da rua é
louvável. Porém, trazer os problemas da rua para a escola não resolve nada: de
um problema passa-se a ter dois.
1 Comentários:
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