O que temos feito pela nossa autonomia?
Muitos consideram, e com cruel razão,
que a autonomia da Madeira se encontra suspensa. Em aparente contraposição, os
Açores são elogiados por apresentarem uma vitalidade autonómica exemplar, muito
devido à sua situação financeira. Mas a realidade revela-nos uma grande discrepância
entre as conquistas da autonomia na esfera jurídico-política e a melhoria na qualidade
de vida dos açorianos. Por isso, se nos Açores a autonomia não está suspensa, ela
é, pelo menos, virtual.
Volvidos anos de investimentos de
todo o género, no progresso dos meios de transportes aéreos e marítimos, na
aposta no “promissor” setor do turismo, na modernização dos serviços públicos,
na melhoria nas áreas da saúde e da educação, no combate à pobreza e ao
desemprego, chegados a 2014, os resultados são, no mínimo, dececionantes.
Nalguns
pontos, como o turismo ou na educação, os Açores precisam de voltar à estaca
zero e começar tudo de novo. Será que foi tempo perdido? Evidentemente que para
uma boa parte da população não foi. Contudo, para muitos outros, as últimas
duas décadas não representaram nada a não ser o mesmo de sempre: uma dependência
extrema dos serviços de ação social. Para milhares de açorianos, a palavra autonomia
foi meramente sinónimo de emprego nas obras, bairro social, RSI e Pauleta a “voar”
pela seleção.
Falando
contra mim, porque sou um dos beneficiários. A tão falada remuneração
complementar, uma suposta vitória da autonomia, não é mais do que um paliativo
à atual crise, que não fortalece a autonomia, antes pelo contrário, reforça a ideia
de discriminação entre os insiders (funcionários
e pensionistas públicos) e os outsiders.
Como se pode defender que esta medida é uma vitória dos Açores quando há açorianos
que a consideram injusta?
Desde que começaram a receber os
dinheiros da UE, os Açores têm-se comportado como um adolescente que recebe as
primeiras mesadas. Gastou em extravagâncias, foi atrás de modas, mas nunca pensou
no médio e longo prazo. O pai - como quem diz a República - foi dando o
dinheiro sem nunca interferir; o tio rico da América - como quem diz a Europa -
também ajudou à festa com grandes quantias, sem nunca pedir nada em troca. O
dinheiro de pouco serviu para a emancipação do “adolescente”; mais depressa
contribuiu para negar a dura realidade da vida.
2014
é o ano de os Açores entrarem na vida adulta. É tempo de se emanciparem; é
tempo de se criar condições para que a autonomia seja sobretudo económica,
porque só assim existirá desenvolvimento e prosperidade. Não se pode continuar
a depender tanto do exterior.
E
para isso, não é preciso aprofundar mais a autonomia – mesmo que a Região o mereça
-. Precisamos de usar as ferramentas de que dispomos e sermos criativos o
suficiente para renovar, ou quiçá, reinventar o conceito de autonomia. Mais não
seja para provar aos outros e a nós próprios que não só podemos fazer
diferente, como melhor do que o poder central. Muitos discordarão de mim,
achando que não temos de provar nada a ninguém. Eu defendo que uma autonomia assim
inepta não serve aos Açorianos.
Depois
de andarmos anos e anos a questionarmo-nos sobre o que é que a autonomia podia
fazer por nós, chegou o momento de perguntarmos o que podemos fazer pela nossa
autonomia.
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