Orçamento da Região – o plano B
O até então discreto Representante
da República para os Açores, Pedro Catarino, despertou da sua inércia e lançou
uma espécie de bomba quando remeteu o Plano e Orçamento da Região para o
Tribunal Constitucional afim da sua fiscalização preventiva. Num ápice, o
embaixador passou de bom a besta quando usou das suas competências para
“tramar” a Região.
As reações não se fizeram esperar e
é normal que, no calor do momento, a palavra “independência” irrompesse da boca
de alguns açorianos mais indignados. O pedido de fiscalização preventiva é
inédito e rompe com uma tradição bastante pacífica na promulgação do Orçamento
da Região por parte da República.
O
Presidente da República tem sido criticado por não ter pedido a fiscalização
preventiva do Orçamento da República; mas agora é criticado por ter permitido
que o seu Representante o fizesse com o Orçamento da Região. Há, sem sombra de
dúvidas, dois pesos e duas medidas para um mesmo assunto. Contudo, em termos
puramente jurídicos, as dúvidas apresentadas por Pedro Catarino fazem sentido à
luz da Constituição. Veremos se os Juízes do Tribunal Constitucional trarão
alguma novidade na forma como encaram as regiões autónomas. Mesmo que o passado
deste órgão de soberania se tenha pautado por uma visão mais centralista.
Mas
que não haja dúvidas: as reservas apresentadas pelo Presidente do Governo
Regional, Vasco Cordeiro, são politicamente muito pertinentes.
Passado
o choque, resta ao Governo Regional duas atitudes: ou aguarda até à decisão do
Tribunal Constitucional, preparando-se para a choraminga do costume que
consiste em acusar a República e o Presidente de serem contra as autonomias, ou
então prepara um plano B - assumindo a grande probabilidade de chumbo das
normas que geraram dúvidas -, demonstrando com tenacidade a vontade genuína de
apoiar as famílias açorianas.
Até
agora, vimos, por várias vezes, medidas do Governo de Passos Coelho chumbadas
pelo Tribunal Constitucional, mas mesmo assim, a persistência do
Primeiro-ministro não se deixou abalar pelos sucessivos reveses, quando muitos
defendiam a consequente demissão.
Se
Passos Coelho foi criativo o suficiente ao encontrar alternativas para fazer “mal”
aos portugueses, o Governo de Vasco Cordeiro arranjará sem problemas medidas
diferentes para fazer “bem” aos açorianos.
Mas
os Açores têm de retirar uma conclusão muito importante: em matéria de
autonomia, uma possível revisão da Constituição está fora de qualquer projeto
político-partidário para os próximos anos. Por causa do descalabro das contas
da Madeira e da sombra do desmembramento de Espanha, o receio de dar mais
poderes às Regiões Autónomas portuguesas tornou-se uma realidade, mesmo que
escondida.
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