Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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segunda-feira, novembro 25, 2013

Ser professor contratado é fixe




            Há quem esteja há cinco anos, oito anos, ou há mais de uma década como professor a contrato. Professor contratado é uma raça muito sui generis. Portugal tem o privilégio de deter os direitos dessa criação. Chegou-se a colocar a hipótese de um professor contratado sê-lo durante toda a sua carreira, até chegar à idade da reforma. Infelizmente, a União Europeia decidiu pôr cobro a esse sonho.

            O professor contratado é aquele professor com características muito peculiares: desempenha as mesmas funções que os outros professores; tem as mesmas responsabilidades e obrigações, mas recebe o salário mais baixo e, todos os anos, tem de concorrer para arranjar um lugar numa escola - uma espécie de totoloto onde se põe cruzes com a esperança que lhe saia o prémio, a saber, a colocação numa escola. 

            Nos Açores, vencer esse concurso pode dar direito a viajar de avião, de ilha em ilha, conhecendo assim novas pessoas e novas localidades. É, de facto, uma jornada enriquecedora sob todos os pontos de vista. Alguns professores contratados cometeram o dislate de namorar, comprar casa ou, pior ainda, constituir família, o que transforma essas deslocações num calvário devido à separação dos seus. Na verdade, cada um tem o que merece; como dizem políticos: a dedicação à causa pública é o bem mais gratificante de todos.

            Nesse sentido, e para mostrar alguma benevolência, o governo Regional dos Açores tornou prática comum que, quando aproximam-se eleições legislativas, a Secretaria da Educação abre mais vagas para os professores contratados. Estes agradecem votando no partido certo, pelo menos assim espera o Governo. A inspiração insular, o cheiro a basalto aliados ao contrato de trabalho a termo resolutivo são uma benesse dos deuses que ninguém se atreve a pôr em causa. Afinal, todos têm vivido felizes assim. 

            Sempre com o objetivo de dignificar a carreira do professor contratado, o atual Ministro da Educação decidiu instituir uma prova de conhecimentos para que os mesmos confirmem as suas capacidades pedagógicas e científicas. Não há dúvidas de que ser-se professor há mais de dez anos não significa rigorosamente nada e que a realização de uma pequena prova, pelo contrário, esclarece indubitavelmente sobre as competências de um professor. Para alguns, professor contratado é uma estranha forma de vida. Como dizia Fernando Pessoa: primeiro, estranha-se; depois, entranha-se. 

            Porém, a vida seria boa de mais para continuar assim. Perante as queixas dos “malfadados” sindicatos, a União Europeia tomou conhecimento do estatuto de professor contratado em Portugal e deu um ultimato ao governo português para integrar essa espécie (agora em vias de extinção) nos quadros da Administração Pública. São milhares de professores que poderão integrar a dita outra carreira, aquela que a União Europeia reconhece como única existente. Tal pena, a experiência sociológica estava a dar frutos. A escola portuguesa foi uma festa com certeza e, de tanta festança que houve, quase pareceu um circo. 

Lá de Bruxelas, acabaram com a palhaçada dos professores contratados. Maldita Europa.

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