Ser professor contratado é fixe
Há quem esteja há cinco anos, oito
anos, ou há mais de uma década como professor a contrato. Professor contratado
é uma raça muito sui generis.
Portugal tem o privilégio de deter os direitos dessa criação. Chegou-se a
colocar a hipótese de um professor contratado sê-lo durante toda a sua
carreira, até chegar à idade da reforma. Infelizmente, a União Europeia decidiu
pôr cobro a esse sonho.
O professor contratado é aquele
professor com características muito peculiares: desempenha as mesmas funções
que os outros professores; tem as mesmas responsabilidades e obrigações, mas
recebe o salário mais baixo e, todos os anos, tem de concorrer para arranjar um
lugar numa escola - uma espécie de totoloto onde se põe cruzes com a esperança que
lhe saia o prémio, a saber, a colocação numa escola.
Nos Açores, vencer esse concurso pode
dar direito a viajar de avião, de ilha em ilha, conhecendo assim novas pessoas
e novas localidades. É, de facto, uma jornada enriquecedora sob todos os pontos
de vista. Alguns professores contratados cometeram o dislate de namorar,
comprar casa ou, pior ainda, constituir família, o que transforma essas deslocações
num calvário devido à separação dos seus. Na verdade, cada um tem o que merece;
como dizem políticos: a dedicação à causa pública é o bem mais gratificante de
todos.
Nesse sentido, e para mostrar alguma
benevolência, o governo Regional dos Açores tornou prática comum que, quando
aproximam-se eleições legislativas, a Secretaria da Educação abre mais vagas
para os professores contratados. Estes agradecem votando no partido certo, pelo
menos assim espera o Governo. A inspiração insular, o cheiro a basalto aliados
ao contrato de trabalho a termo resolutivo são uma benesse dos deuses que
ninguém se atreve a pôr em causa. Afinal, todos têm vivido felizes assim.
Sempre com o objetivo de dignificar
a carreira do professor contratado, o atual Ministro da Educação decidiu
instituir uma prova de conhecimentos para que os mesmos confirmem as suas
capacidades pedagógicas e científicas. Não há dúvidas de que ser-se professor
há mais de dez anos não significa rigorosamente nada e que a realização de uma
pequena prova, pelo contrário, esclarece indubitavelmente sobre as competências
de um professor. Para alguns, professor contratado é uma estranha forma de
vida. Como dizia Fernando Pessoa: primeiro, estranha-se; depois, entranha-se.
Porém, a vida seria boa de mais para
continuar assim. Perante as queixas dos “malfadados” sindicatos, a União
Europeia tomou conhecimento do estatuto de professor contratado em Portugal e
deu um ultimato ao governo português para integrar essa espécie (agora em vias
de extinção) nos quadros da Administração Pública. São milhares de professores
que poderão integrar a dita outra carreira, aquela que a União Europeia
reconhece como única existente. Tal pena, a experiência sociológica estava a
dar frutos. A escola portuguesa foi uma festa com certeza e, de tanta festança
que houve, quase pareceu um circo.
Lá
de Bruxelas, acabaram com a palhaçada dos professores contratados. Maldita
Europa.
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