Um contrato-programa por cada desempregado
1. Já perdi a conta aos inúmeros
programas que o Governo Regional tem vindo a implementar nos Açores. Há
programas para todos os gostos: de ocupação, de formação, de reinserção ou,
simplesmente, de apoio. Compreende-se que, num momento dramático para milhares
de açorianos, os governantes se multipliquem em ações para atenuar as
dificuldades dos seus concidadãos, mas é legítimo questionar se este tipo de iniciativas
contribui realmente para resolver o problema do desemprego e para relançar a
economia da Região.
Um dos programas mais emblemáticos
do Governo é o chamado Recuperar. A adesão das câmaras municipais é
significativa. A possibilidade de aumentar os recursos humanos com um custo
reduzido é sempre aliciante para qualquer autarca. Mas este programa encerra
algo de polémico, pois há uma questão moral que se coloca. Será correto usar o
dinheiro dos contribuintes para pagar salários a pessoas que não são
consideradas funcionárias públicas, apesar de trabalharem para o Estado? Será
que para combater o desemprego se deve multiplicar situações de precariedade dentro
do Estado, seja a nível regional ou local? Há quem diga que a medida vai ser
alargada ao setor privado…
A
dinamização da economia açoriana passa pelo estímulo às empresas e pelo
incentivo à criação de emprego que aumente a capacidade exportadora da Região, bem
como a circulação interna de bens e serviços entre as ilhas. E esta não é a
vocação do Estado. Ao Estado cabe facilitar, regulamentar, fiscalizar a
atividade empresarial e não substituir-se a ela. Transformar tudo o que é
instituição pública em sorvedouro de “pseudo-empregos” fragiliza ainda mais a
economia regional.
Numa altura em que o Governo anda a
prestar contas do seu mandato, apresentando, com regozijo, as medidas avulsas
de combate ao desemprego, pelos Açores, anda-se a debater o futuro da Região
num plano macroeconómico e numa perspetiva abrangente. A precarização da
sociedade açoriana, nomeadamente da sua juventude, não é o caminho para a
prosperidade dos Açores.
2. A caixa de Pandora
Muito se tem falado sobre a polémica
do concurso para os professores contratados. De tanto ruído que tem havido, há
uma outra situação grave que quase tem passado despercebida. Trata-se daquela
manigância regimental que consistiu em o PS apoderar-se de uma proposta de lei
apresentada por um partido da oposição, e adulterá-la de cima a baixo.
É grave porque abre um precedente
entre a maioria e a oposição. A partir de agora, qualquer partido da oposição
terá de pensar duas vezes antes de apresentar uma proposta legislativa.
3. O Parlamento é meu
Já dissera que os deputados do PS são
um pau-mandado do Governo. Ainda a propósito da polémica sobre o concurso de
professores, Vasco Cordeiro, na qualidade de presidente dos socialistas – a ubiquidade
dá tanto jeito –, mandou repetir a votação do polémico diploma para dissipar
qualquer dúvida.
Claro que a culpa, segundo Vasco
Cordeiro, é da demagógica oposição, mas nunca de quem aprovou uma lei cuja
versão final difere da versão votada. Não foi ilegal; tratou-se de um lapso.
Com estas jogatanas políticas, a
maioria absoluta deixou de ser uma virtude e transformou-se num absolutismo perigoso.
Já agora, com essa lei, a reposição
da legalidade junto dos professores contratados fica resolvida? Ou aqui também pegou
a moda da insensibilidade social?
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