Ascensão e queda do PS Açores
Afinal,
quem anda a dividir os Açorianos? Quem anda a pôr os açorianos uns contra os
outros? Basta de hipocrisia. Sempre houve vozes que reclamaram por mais
investimento para a sua ilha. Sempre houve vozes que, de forma mais efusiva ou
mais serena, contestaram as opções dos governos por acharem que não satisfaziam
as necessidades da sua terra. O bairrismo sempre existiu, sempre existirá.
Então, por que razão este “eterno” bairrismo provoca, desta vez, tanto
incómodo?
Na
realidade, o problema é mais complexo e, por isso, mais perigoso para a autonomia.
Para refutar este crescente bairrismo, notáveis e históricos da Região
desdobram-se em apelos à unidade dos açorianos, condenando quem supostamente
anda a dividi-los. Mas omitem sempre quem despoletou esta divisão, a saber, o
Governo Regional e o PS.
A
estratégia do PS consistiu em por os açorianos contra o Governo de Passos
Coelho e o Presidente da República, assumindo a narrativa de que eles eram os
bons e os de Lisboa os maus que só prejudicam a Região. O feitiço virou-se
contra o feiticeiro: os açorianos sentem que este Governo Regional já não é o
dos Açores, mas sim o de São Miguel.
O
PS Açores está há 17 anos no poder. Durante todo esse período, foi liderado por
Carlos César, um homem carismático e consensual para os socialistas. Ele deixou
marcas indeléveis no seu partido e nos Açores. Na altura, as possíveis divisões
entre militantes ou barões do PS eram rapidamente saneadas graças à sua
capacidade política e à sua autoridade enquanto presidente. Só agora é que se
vê como a sua saída tem sido traumática para o PS.
Atualmente,
os socialistas açorianos têm um líder eleito mas ainda não feito. Vasco
Cordeiro pode mandar no partido e no governo mas as sucessivas trapalhadas no
Parlamento e no Governo mostram como ainda não conseguiu impor um rumo e uma
liderança eficazes. Venceu as eleições, mas ainda não convenceu. Não é fácil ser-se
o sucessor de um líder tão influente como Carlos César. Só não vê quem não
quer.
A
falta de liderança é notória não só pelas políticas erráticas do Governo Regional,
como também pela questão melindrosa levantada pelo economista Mário Fortuna
quando disse que a vice-presidência – ou melhor, Sérgio Ávila – tem demasiado
poder no seio do governo. Nada disso é novo, mas a situação tornou-se caricata
porque já ninguém disfarça no executivo.
O
conceito de vice-presidência, na aceção açoriana, foi levado ao extremo, pois o
comando do governo tornou-se bicéfalo. Mesmo que na oposição a dupla liderança
seja inofensiva (veja-se o Bloco de Esquerda), no governo faz toda a diferença,
e para pior quando ela não é publicamente assumida.
Por
isso, ao sentir este sufoco e a necessidade de se afirmar - nem que seja para
convencer que tudo isto não passe de um disparate - não me admiraria nada que
Vasco Cordeiro oferecesse o cargo de eurodeputado a Sérgio Ávila. Acabava com
uma vice-presidência demasiado poderosa e conseguia um bom candidato para as
europeias. Do mesmo modo, ao colocar uma mulher como vice-presidente em sua
substituição, ganhava pontos de popularidade, afastando de vez a ameaça em que Sérgio
Ávila se transformou.
Não
passando este exercício de xadrez político como uma mera especulação, não é difícil
perceber que a ideia de remodelação governamental tenha entrado na ordem do
dia.
O
PS domina a política açoriana em todos os quadrantes. A única forma de perder o
poder é pela implosão interna. Os primeiros sinais foram dados.
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