Já ninguém te pode ouvir, Serginho
Na República, os sinais de
recuperação estão aí. Mas até chegarem ao bolso dos portugueses vai uma grande
distância. Nos Açores, segundo nos dizem, não há problema de défice, nem de
dívida, mas o desemprego e a miséria alastram colocando a Região numa situação
iminente de explosão social.
O
vice-presidente do Governo Regional pavoneia-se pelo Palácio dos Capitães
Generais, elogiando as finanças da Região. O Presidente do Governo diz-se
preocupado com as questões sociais. A realidade trata de mostrar como as
iniciativas governamentais deixam muito a desejar e criam uma espécie miragem
nas pessoas. É possível mantê-las ocupadas a auferir um “salário” sem, no
entanto, contribuir para a dinamização da economia. A Região vive do que o
exterior, nomeadamente a República, lhe dá. A discrepância entre aquilo que os
Açores produzem e aquilo de que necessitam torna-se insustentável. Para
reavivar a economia, o governo tem injetado capital como nunca, desde os
programas de ocupação e formação, aos cheques chorudos para fomentar o
empreendedorismo e para viabilizar empresas insolventes. Contudo, nas cidades,
nas freguesias, nas ruas e nas famílias multiplicam-se os casos de pobreza
extrema, de precariedade laboral, de desemprego duradouro, de emigração forçada
e de falta de esperança.
Não
se pode acusar o executivo de nada fazer para combater este problema. Mas o
problema reside precisamente aí. A forma como o Governo encara esse combate é que
é errada. Despejar dinheiro em cima dos problemas não é a solução. Veja-se o
caso da remuneração complementar. Até agora, nunca foi criticada porque era
considerada justa pela maioria dos açorianos. O Governo decidiu alargar esse
subsídio, criando uma fórmula de atribuição muito discutível e polémica, pois
acabou por criar situações de injustiça, instigando até a inveja social.
Que
ninguém venha com a desculpa de que este governo começou agora e que por isso
se lhe deve dar tempo para obter resultados. Este governo vem de há 17 anos.
Quer no executivo, quer no Parlamento Regional, muitos dos seus protagonistas estão
no poder há uma década ou mais.
O
sector agrícola continua com medo do futuro, apegado às quotas leiteiras e ao
protecionismo comunitário. Idem para o sector das pescas, tão vulnerável aos
malefícios da natureza. Os sectores do turismo e dos transportes aéreos e
marítimos, tão promissores e nos quais se investiram milhões, estão débeis,
ainda por definir. O sector da investigação e do conhecimento é uma incógnita e
desolador, tendo em conta o laboratório natural que nos circunda. O setor
educativo multiplica as desigualdades e a mediocridade, impossibilitando a
formação de altos quadros técnicos e académicos, impossibilitando assim a
alavanca social. A Ação Social perpetua a pobreza e a subsidiodependência sem
criar reais oportunidades.
No
plano político, a autonomia ainda está por cumprir. A falta de “checks and balances” no escrutínio da
maioria parlamentar permite-lhe brincar com o sistema. A fragilidade do
jornalismo açoriano, causada pelo polvo chamado GACS que sufoca e condiciona a
informação e quem a veicula. No plano geoestratégico, a autonomia também está
por cumprir. Reclamamos que o mar é nosso, que as boas relações entre Portugal e
os Estados Unidos advêm da existência dos Açores e da sua diáspora, mas, na realidade,
não mandamos em nada. Lisboa manda; Bruxelas comanda. Nem um canal televisivo
exclusivamente açoriano consegue este governo.
A
emancipação exige a tomada de riscos, o investimento calculado e a
determinação. O Governo Regional só sabe pedinchar à República e lamentar a sua
situação de insularidade. Quando é confrontado com os números negativos,
refugia-se nas críticas às políticas de Passos Coelho, tentando desviar as
atenções do essencial.
Por
tudo isso é que já não se pode ouvir Sérgio Ávila e a cantiga das boas contas
de merceeiro.
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