Cartão amarelo para Vasco Cordeiro
Sempre
me fez confusão misturar a gíria futebolística com a oratória política. No
entanto, vou tentar demonstrar como a declaração de Berto Messias (a de que os
açorianos deviam mostrar um cartão vermelho a Passos Coelho) é tão absurda como
achar que a crise termina no dia seguinte à saída da Troika.
Por óbvias razões, não disponho da
mesma cobertura mediática que o líder parlamentar do PS, Berto Messias. Contudo,
aproveitando a indignação do deputado, vou fingir que os açorianos são uma
cambada de atoleimados e pedir-lhes para que nas próximas eleições europeias
deem um cartão amarelo, mas desta feita, ao Governo Regional dos Açores.
António Guterres, enquanto
Primeiro-ministro, cometeu a insensatez de se demitir devido ao mau resultado do
PS nas eleições autárquicas de 2001. Abriu um precedente grave, porque uma
democracia madura não mistura as consequências resultantes de umas eleições, muito
menos as transforma em referendo. A não ser na ótica dos partidos mais radicais,
ou então na de Berto Messias.
Fica
mal a um político supostamente responsável acusar os outros de fazer politiquice
e vir depois atiçar as pessoas para que sancionem nas eleições europeias um
governo ou uma determinada política. O sufrágio deste mês de maio tem o simples
propósito de eleger deputados europeus - no qual faz todo o sentido discutir,
isto sim, a Europa e o seu desígnio. Tudo o resto não passa de um embuste,
porque, na verdade, mesmo que o PSD e o CDS percam estas eleições, Passos
Coelho não se demitirá. E ainda bem.
Depois
do sacrifício dos portugueses, sabendo nós que, independentemente da saída “limpa”
do Programa de Assistência Financeira, a Europa e os mercados manter-se-ão
vigilantes em relação a Portugal, pergunto: faz sentido despoletar uma crise
política neste preciso momento?
Como
disse atrás, cada eleição tem um objetivo preciso. E uma democracia madura, no
quadro da sua Constituição, não pode contribuir para a instabilidade de quem
obteve um mandato para cumprir até ao fim. Não obstante essa premissa, provocar
eleições antecipadas deitaria por terra todos estes anos de sacrifícios.
Mas
vamos partir do princípio de que sim, de que os açorianos são bem capazes de
cair na artimanha do cartão vermelho. Já que as eleições europeias servem para
avaliar o governo, avaliemos então o nosso governo: o de Vasco Cordeiro.
Nos
Açores, está tudo bem? O emprego, a precariedade, a mobilidade, a pobreza?
Todos os problemas da Região são da única e exclusiva responsabilidade de
Passos Coelho? Nada a apontar ao Governo Regional? Parece-me que sim. E acredito
que não faltam açorianos zangados com Vasco Cordeiro. Vamos então castigar os
socialistas nestas eleições. Já agora, caros leitores, aproveite este sufrágio para
mostrar cartão ao seu presidente de Junta de Freguesia ou ao edil da sua Câmara
Municipal.
Pois;
só se quisermos transformar a Democracia numa palhaçada…
Por
isso, tenho um problema de consciência. Acho exagerado apelar ao cartão vermelho.
O Governo Regional tem muita coisa má, mas também alguma positiva. Por isso, peço
um cartãozinho amarelo, nem que seja para tirar do cargo o atual líder do grupo
parlamentar socialista. A seriedade agradece.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial