A ditadura dos bem pensantes de Esquerda
Não há dúvida de que a sociedade
portuguesa é bastante tolerante no que respeita às questões fraturantes. Em temas
como o aborto ou o casamento homossexual, os portugueses mais conservadores defendem
as suas ideias, mas até a um certo ponto. Chega-se ao limite quando um fundamentalismo
com laivos de insultos ou até de agressividade começa a grassar. Acaba por
vencer a ideia de que cada um é que sabe de si. A liberdade implica responsabilidade,
predominando assim um sadio liberalismo nos costumes. É uma virtude nossa, uma
conquista do nosso progresso civilizacional. Comparando com sociedade
supostamente mais abertas do que nós, diria que Portugal é um dos países mais progressistas.
Contudo, do outro lado - da Esquerda
“moderna” -, não se tem visto uma atitude tão tolerante e aberta ao debate. Vimo-lo
por diversas vezes: discurso insultuoso para com aqueles que pensam de forma
diferente, nomeadamente os que defendem a família tradicional, que são contra o
aborto e que têm a ideia dum Estado menos metediço na vida das pessoas. Para essa
Esquerda bem pensante, pensar diferente deles é mau, antiquado e cheira a
Estado Novo. Quem defende outros valores que dos deles é contra a liberdade e,
como tal, é fascista. “Retrocesso civilizacional” é a expressão favorita dessa
Esquerda quando trata de rebater os argumentos dos outros, porque para ela tudo
o que possa remeter para o passado é um crime.
Basta ver como o tema da coação é
discutido na praça pública para perceber como está inquinada à partida e como é
dominada agressivamente pelos bem pensantes. Com o tempo, deviam perceber que há
matérias que não são passíveis de mudança nas mentalidades de outras pessoas. Se
alguns aderem à causa, outra parte, por razões que mais têm que ver com ideologia
ou pertença religiosa, não mudam e ponta final. Por isso é que existe uma
Assembleia com deputados para debater e legislar sobre essas matérias.
A Juventude Popular quis rever o
atual modelo de escolaridade obrigatória. Fê-lo no local ideal, um congresso
político onde, por princípio, se discute ideias políticas. Claro, do lado da
Esquerda foi uma afronta, de que a Juventude Socialista se aproveitou para
abanar com o fantasma de Salazar e insultar a JP. Até o estimável Pacheco
Pereira, que nutre um ódio de morte a este governo e aos dois partidos que o
sustentam, achou que era mais uma prova da cabala para privatizar o Estado
português. A proposta e o debate foram logo inviabilizados.
Nas
questões de sociedade, a Direita portuguesa é inábil porque perde-se entre os
valores que defende, aqueles em que realmente acredita e as jogatanas políticas
em que se vê metida. E em vez de deixar a Esquerda apresentar as propostas
fraturantes e dar liberdade de voto aos seus deputados, garantindo sempre a
pluralidade da opinião e promovendo de forma serena a discussão pública, a
Direita lembra-se, de vez em quando, de dar ares da sua “modernice”. Porém, faz
asneiras e acaba por dividir aqueles que costumam votar nela, caindo no
ridículo junto da opinião pública.
A
grande manifestação de lucidez tem vindo do Vaticano, pela voz do Papa
Francisco. É uma prova viva de que é possível conciliar uma visão católica da
sociedade com a abertura progressista da mesma. Não se trata de uma Revolução
de mentalidades, trata-se somente do respeito pela dignidade humana. E, acima
de tudo, de tolerância.
1 Comentários:
E será que devemos ser tolerantes em tudo? É a tolerância aceitável na sua totalidade?
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