Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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terça-feira, outubro 25, 2011

O dia em que o PS Açores perdeu as eleições



Domingo, catorze de Outubro de 2012. São nove e meia da noite e Berta Cabral prepara-se para fazer o seu discurso de vitória. Pela azáfama que se vê à volta da nova “presidenta”, sente-se o clima de festa vivido na sede do PSD, com buzinas e cânticos a servirem de música de fundo.

O PSD Açores ganhou as eleições. Melhor dizendo, Berta Cabral ganhou as eleições. Abre-se o caminho para uma terceira via nos Açores.

Na sala apinhada de simpatizantes e militantes laranjas, o silêncio faz-se aos poucos. A líder inicia o discurso. A transmissão passa em directo em todos os canais noticiosos do país. Como tudo na vida, quando há uma mudança, a expectativa aumenta.

O discurso é brilhante, humilde mas galvanizador. O realismo é o tema principal depois de uma campanha eleitoral renhida em que o PS Açores se perdeu em propostas demagógicas e promessas que nunca poderia cumprir. Não era de estranhar. Há um ano atrás, o vice-presidente do Governo Regional, Sérgio Ávila, dera o mote à demagogia barata quando assegurara que o desemprego iria baixar na Região em 2012.

A partir desse ponto, o PS, órfão do seu líder Carlos César, tentara tudo para não sair do poder. O PSD Açores arriscara muito ao ter um discurso realista e sincero, pautado pela cautela. Na realidade, ninguém sabia ao certo o que iria acontecer no futuro. Com a implementação das medidas de austeridade, havia uma luz mas o túnel ainda era muito fundo e o caminho tortuoso.

O lema de campanha centrara-se na poupança e na reforma da máquina do Estado, neste caso regional. A revitalização da economia regional levaria o seu tempo, mas a aposta no potencial natural do arquipélago fora a estratégia definida. A internacionalização do sector agrícola e pesqueiro, com incidência na exportação para os países emergentes, combinada com uma nova abordagem ao turismo, graças a uma redução significativa dos custos dos transportes aéreos e marítimos, tinham sido as bandeiras do programa do PSD. Afinal, para quê inventar quando se tem a solução à mão?

Nos socialistas, as tricas políticas tinham alcançado o cúmulo com a polémica de Agosto, quando vieram a público divergências profundas entre Sérgio Ávila e Vasco Cordeiro. Carlos César tivera de intervir para acalmar a coisa, mas o mal estava feito. O PS Açores cometera um erro terrível ao deixar que Carlos César se mantivesse como líder apesar de não ser candidato a nada. Na imprensa e nos blogues predominava a pergunta: “Afinal, quem manda no PS?” Em entrevista ao Açoriano Oriental, José Contente falava no seu gosto pela política e no interesse em concorrer à Câmara de Ponta Delgada. Indirectamente, percebia-se que a chama da vitória não ardia por aqueles lados. A onda laranja tinha seguido o seu caminho. Imparável.

Já a caminho de casa, depois de uma longa noite de festa e de telefonemas intermináveis, Berta Cabral, extenuada, passa de carro perto da Igreja Matriz de São Sebastião: “Que Deus me dê forças”, pensa ela.

No dia seguinte, segunda-feira, quinze de Outubro. José Parreira encontra-se no Aeroporto das Lajes com a família. Após a demora no check in, prepara-se para partir para São José, Califórnia. O irmão, emigrado na América há mais de quinze anos, arranjou-lhe um trabalho na empresa de construção civil. Depois de meses de agonia no desemprego, renasce a esperança. Apesar de tudo, o José tem de se separar da mulher e dos dois filhos, o João e a Rita. Daqui a seis meses, quiçá, a família poderá ir ter com ele. Até lá, tentará arranjar alguma coisa para a mulher. A cunhada já se comprometeu a ajudar. O embarque é iminente. As lágrimas de despedida correm na família Parreira, disfarçadas com um abraço profundo e comovente. Ontem, nem viu televisão; estava a fazer as malas. Pensava ele: “Políticos? Eles que vão todos bugiar!”.

domingo, outubro 09, 2011

Obrigado, Carlos César


Nunca tive oportunidade de falar com Carlos César, muito menos apertar-lhe a mão. Não foi por falta de vontade, mas sim por falta de oportunidade.

Sempre tive dúvidas acerca do tabu que fora criado à volta da recandidatura de Carlos César a um novo mandato. Por isso, fiquei agradavelmente surpreendido com o anúncio da sua renúncia a uma nova candidatura como presidente do Governo Regional dos Açores.

Não vou ser cínico, nem entrar com rodeios ou malevolências políticas. Vou simplesmente elogiar um homem que deu o seu talento, o seu trabalho, e realizou os seus sonhos em prol da sua terra.

Quando cheguei aos Açores em 1995, o Governo de Mota Amaral sofria um desgaste notório. Cavaco Silva era Primeiro-ministro em fase de extrema contestação popular, mas também de despedida. O PS alcançava o poder com António Guterres na República e com Carlos César nos Açores. Com ele, vinha um novo paradigma de desenvolvimento par a Região, suportado em grande parte pelos fundos europeus.

Conheci dois Açores. O primeiro, extremamente atrasado e conservador. Relembro uma campanha promocional de luta contra a SIDA em que os pacotes de açúcar, servidos nos cafés, tinham como desenho um preservativo. Mota Amaral decidiu censurar esta iniciativa. A forma como o histórico do PSD Açores deixou a presidência e votou o PSD Açores a um período de nojo político e falta de rumo prolongados, que só há pouco tempo foram superados pelo partido, marcam negativa e traumaticamente o seu consulado. O segundo foi criado por Carlos César. Com o novo Governo Regional, a Região dava um pulo em termos de desenvolvimento, abrindo-se para o mercado turístico sob o signo da ecologia e do respeito pelo ambiente. Porém, nem tudo corria como rosas.

O Governo da República criava o Rendimento Mínimo e o governante açoriano via, com essa iniciativa, uma forma de angariar ainda mais a simpatia dos açorianos. Sem querer, iria cometer um erro tremendo: nascia a pobreza endémica dos Açores e começava a caça à subsídio-dependência. Aumentava o número de boys e de empresas públicas: o governo regional substituía-se à iniciativa privada.

Entretanto, Berta Cabral tornava-se presidente da Câmara de Ponta Delgada. Começava o despique institucional; as outras ilhas iam ficando para trás. Do desenvolvimento harmónico dos Açores, passava-se a um desenvolvimento unipolar e centralizador.

Não obstante as minhas divergências políticas e ideológicas com Carlos César e o Partido Socialista, nada apaga o bom que foi feito até agora no arquipélago. Em suma, o balanço que faço dos 16 anos de poder é francamente positivo.

Ao anunciar que deixa a política regional, dá uma grande lição de Democracia a todos os políticos portugueses, sobretudo num momento em que na outra região autónoma, a Madeira, o presidente, que lá está há mais de trinta anos, ainda concorre para mais um mandato. Não tendo qualquer cultura democrática, Alberto João Jardim caminha para o descrédito total, destruindo assim toda uma carreira política que já foi, em tempos, brilhante.

E, de facto, tudo tem o seu tempo. Carlos César percebeu isso. A democracia portuguesa agradece. Para o bem e para o mal, os cargos políticos devem ser de duração efémera, dando-se oportunidades a outros para poder mostrar o que valem. Esta acepção da política devia fazer parte do bom senso, mas infelizmente não. Carlos César definitivamente entra na história da política regional e nacional, integrando a lista dos grandes estadistas da Nação.

Obviamente, que o futuro político de Carlos César não acaba aqui. Por causa da idade, por ter talento e ambições, não será de estranhar que seja convidado para outros voos de carácter nacional ou até internacional.

Há tempos, sugeri que o melhor cargo que Carlos César poderia ocupar, tendo por base o seu percurso, seria o de Presidente da Fundação Luso-Americana (FLAD), a fundação mais prestigiada e rica do país. Apesar das diferenças políticas, o Governo da República só teria a ganhar com esse convite.

sexta-feira, outubro 07, 2011

Obrigado, Carlos César


Esta imagem não é inocente.

quarta-feira, outubro 05, 2011

Premiar o demérito





1. A decisão do Ministério da Educação em anular a atribuição dos prémios aos melhores alunos do secundário a uma semana da entrega faz parte daqueles mistérios indecifráveis que abundam no mundo da ciência.


Por mais explicações que a tutela da educação tente dar, o mistério continua. Mais do que não concordar com essa decisão, a questão prende-se com o timing escolhido para a tomada da decisão: a uma semana da entrega do prémio, quando tudo estava pronto, jovens escolhidos para receberem o prémio referente ao seu desempenho escolar no ano passado. Isso não se faz. Podiam muito bem ter anunciado o fim dessa gratificação a partir do próximo ano, mas não. O Estado faltou à palavra, ao que se tinha comprometido com aqueles jovens e famílias. Esta é a primeira desilusão do Ministro Nuno Crato.


No entanto, nem tudo é mau e houve uma consequência desta acção que foi inesperada. E aposto que o Ministério não esperava isso. De repente, membros da comunidade, empresários, autarquias e particulares juntaram-se para atribuir os prémios substituindo-se, assim, ao Estado. Para quem desconfia como eu do Estado e ache a sua presença demasiado sufocante na vida das pessoas, dei por mim a emocionar-me com esta iniciativa espontânea. Por mim, é assim que a sociedade se deve reger.


Este governo tem, ideologicamente, as mesmas pretensões do que eu: menos Estado, melhor estado, mais sociedade civil, mais liberdade e responsabilidade individuais. Há quem defenda que isto é típico da Direita. Por mim, faz parte do bom senso. Mas não me importo de ser de Direita.


Contudo, por causa da crise e da necessidade em reduzir rapidamente o défice, este governo precisa de se imiscuir na vida das pessoas, aumentando-lhe impostos como nunca se viu, acabando por condicionar a liberdade das pessoas. Apoio este governo, compreendo que não tem, por enquanto, outra alternativa, mas é normal que sinta frustração pelo facto de esta estratégia contrariar a ideia de diminuir o peso do Estado na sociedade.


No caso dos prémios escolares, acho meritório que a comunidade se tenha unido, porém seria importante que esta iniciativa tivesse continuidade no futuro, cabendo-lhe, juntamente com as escolas, definir os critérios e o tipo de prémios a atribuir no futuro. Este bem pode ter sido o primeiro passo para acções de outro tipo, comprovando deste modo que o país sabe dar a volta aos problemas sem estar refém ou dependente do poder central. Isto é que é a verdadeira autonomia.


2. Por falar em mais autonomia. Há autonomias que não passaram do papel e da conversa fiada em conferências “científicas” e conversas de políticos.


Nos Açores, a autonomia das escolas não corresponde a conquista nenhuma, tratando-se apenas do simples acto de um governante definir o que é a autonomia das escolas, sobretudo aquela que lhe dá mais jeito.


Como se sabe, a autonomia atribuída às escolas açorianas vai-lhes permitir multar encarregados de educação “negligentes”, mas impede-lhes de definir as datas de reuniões de avaliações. Aqui, quem decide é a Secretaria da Educação. O argumento tem o registo literário que se atribui à ironia. Diz a tutela: “com todo o respeito pelos docentes, o sistema educativo também tem alunos e estes não podem ser prejudicados”. Supostamente, até agora os professores sempre trabalharam para si. Ainda bem que existe alguém com autoridade para repor a moral nas escolas.


Não sei em que maus exemplos se baseia a DRE para fazer tais julgamentos, mas convinha relembrar que quase todas as Comissões Pedagógicas das escolas determinaram que os alunos não podem realizar mais de uma avaliação por dia e mais de três por semana. Por isso, em termos de sobrecarga de avaliações aos alunos, estamos conversados. Como se pode depreender, não foi preciso o poder político intervir para que as escolas tomassem iniciativas de maneira a não prejudicar a aprendizagem dos alunos.


É verdade: em breve, os professores serão chamados outra vez à atenção porque não fazem nada e só têm férias. Maldita profissão. Que sorte a minha.



Correcção: Sim, o aeroporto é das Lajes. Obrigado. (tenho de me esforçar mais nas revisões de texto)