Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

A minha foto
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Localização: Praia da Vitória, Terceira, Portugal

sexta-feira, maio 30, 2008

E se tivesse acontecido?

Andei este tempo todo enganado e, de facto, as enfermeiras que me atenderam nada disseram em contrário.
Em momentos de dúvidas, a Internet é cada vez mais a solução.

terça-feira, maio 27, 2008

D'une simple pierre, je me suis transformé en un gros rocher...
Le rêveur solitaire

domingo, maio 25, 2008

Só foi cego quem não quis ver...

Escrevi isto há um ano atrás:

Declaração de interesse II

Enquanto Presidente do Grupo Amigos da Terceira (GAT), manifesto a minha profunda preocupação com a notícia da renúncia de José Pedro Cardoso enquanto Presidente da Câmara de Angra do Heroísmo. Tendo em conta a forte contestação que a edilidade da Câmara sofreu durante o seu mandato, não só vinda da oposição como também do seio do próprio Partido Socialista, é com algum cepticismo que acolho as razões da renúncia do Presidente. Visto que a Cidade de Angra tem sido ostracizada há algum tempo para cá pelo Governo Regional, com repercussões negativas para toda a Ilha Terceira, e considerando o que já escrevi no passado sobre esta governação camarária, só posso indignar-me perante esta manigância política que repugno fortemente enquanto cidadão angrense e interveniente activo numa associação cívica que luta pelo melhor para a sua terra.

As eleições servem para eleger corpos políticos, mas também para avaliar os corpos políticos cessantes. Não é de golpes palacianos e sucessões duvidosas que a democracia vive. Esta situação, com este desfecho, retrata, mais uma vez, a ingerência do poder regional sobre o poder local, o que é inadmissível.

Em jeito de conclusão, numa analogia teatral, diria que sair de cena pela porta pequena é sempre mau, mas pior é sair de cena, vaiado, a meio da peça.

Os conspiradores do petróleo


O aumento contínuo do preço do petróleo tem abalado as economias mundiais, nomeadamente as dos países mais desenvolvidos e não produtores. Este recurso energético tornou-se um bem de primeira necessidade e, diria eu, o bem mais precioso à face da terra. A sua dependência excessiva põe em causa não só a segurança nacional como sobretudo a segurança económica dos países não produtores e altamente dependentes como Portugal. Para tentar perceber o que se passa actualmente, convém fazer algumas perguntas inconvenientes, cujas respostas ou ainda não existem, ou só estão ao alcance de alguns privilegiados: Até quanto irá este crescendo do preço? Será que o preço de cada barril voltará a custar menos de 100 dólares? Quem manda neste negócio bilionário?


A propósito da situação preocupante com o aumento semanal dos combustíveis, alguns “experts” no assunto defendem que o governo não deve interferir em matéria de redução de impostos sobre os combustíveis (ISP), pois, assim sendo, caberia aos contribuintes pagar de outra forma a receita que o Estado iria perder. Segundo os dito cujos, deve-se deixar a economia de mercado funcionar e aguardar pelos desenvolvimentos da conjuntura internacional.


Contra esta posição, que não deixa de ser estranha e insensível face aos problemas emergentes, há dois argumentos que contrariam esta posição. Primeiro, convém lembrar que, para além de estas receitas serem inesperadas visto que o Orçamento de Estado não previa tal aumento, um imposto é proporcional ao preço do produto taxado: quanto mais caro é o produto, mais alto são os dividendos. Dos combustíveis dependem inúmeras actividades económicas (transportes de mercadorias e passageiros, agricultura e pescas, etc.) por isso, toda a gente fica lesada directa ou indirectamente, daí não se dever falar em única preocupação da gente comum ou em contribuintes-condutores. Os mais afectados pela escaldada dos preços são as pessoas de menores rendimentos. Qualquer diminuição no preço do combustível, que acaba por se repercutir noutros aumentos de primeira necessidade, terá sempre um impacto positivo na vida das pessoas. Neste momento de sérias dificuldades e incertezas quanto ao futuro, convém ao Estado dar um sinal preventivo que se pode concretizar por duas iniciativas: ou prescinde provisoriamente de uma percentagem das receitas sobre os combustíveis para dar mais folga aos cidadãos e empresas, ou canaliza, extraordinariamente, o ISP à taxa actual para apoiar actividades económicas que dependem grandemente do consumo de combustível. Segundo ponto. No que respeita ao negócio do petróleo, falar em mercado livre é uma pura ilusão. Economia de mercado implica concorrência livre e aberta, mas regulada e transparente. No entanto, o mercado do petróleo pertence a um grupo restrito de nações que detém as maiores reservas de hidrocarbonetos – vulgo OPEP –, e tem-se visto que essa organização tem concertado os preços com empresas poderosas que dominam a indústria petrolífera, desde a refinação até à rede de distribuição. O facto de esses países formarem uma espécie de cartel legal e intocável e de todos eles serem das nações menos estáveis no mundo confere-lhes um poder demasiado perigoso. Por isso, neste caso, a economia de mercado não funciona.



Os países não produtores devem unir esforços diplomáticos e combinar estratégias com vista à redução da dependência petrolífera em relação aos países produtores e devem também pressionar as bolsas mundiais, nomeadamente os especuladores bolsistas, para acabar com esta inflação do preço do crude. Não se compreende que, de cada vez que há um aumento, haja ao mesmo tempo a notícia da descoberta de novos jazigos de petróleo. E é de notar que, perante a actual situação, não se vê nenhum alto responsável político defender veementemente o desenvolvimento de fontes independentes de combustíveis renováveis ou totalmente alternativos ao hidrocarboneto. Esta é a única forma de nos impormos perante os países membros da OPEP e actuais novos donos do mundo.


A gente comum portuguesa ainda não percebeu bem a razão de ser bem mais barato encher o depósito do carro em Espanha do que em Portugal, porém, o problema não está no outro lado, mas, de facto, reside em Lisboa: “uma das razões para a diferença de preços entre Portugal e Espanha reside na taxa do IVA, que no mercado nacional se encontra nos 21% e ao lado nos 16%. Em Portugal regista-se ainda uma dupla tributação nos combustíveis, com o IVA a incidir sobre o preço base, que incorpora o imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP)”.

sábado, maio 24, 2008

Declaração de interesse


Está decidido e aproveito o facto de ter um blogue para divulgar a minha escolha e com ela influenciar, quiçá, o voto de outros militantes.


Pedro Passos Coelho

sexta-feira, maio 23, 2008


A partir de hoje será sempre menos um.

quarta-feira, maio 21, 2008


Cara Carolina,


Pelos vistos, andei este tempo todo enganado: os debates que são verdadeiramente interessantes incidem sobre os nossos prazeres e passatempos e não sobre questões políticas ou civilizacionais.


Só conheço a primeira temporada dessa série, por isso é-me difícil pronunciar acerca dela. No entanto, reconheço que “Donas de Casa” se engloba no novo conceito de séries televisivas americanas. Neste caso, a realização não traz nada de novo, aliás, acho que o objectivo é mesmo esse: parecer-se com as “soap opera” antigas. A novidade recai no argumento que é excelente. O sarcasmo, a própria ironia que é feita sobre as donas de casa que, preconceituosamente, são consideradas de pacatas deu a força e a fama a esta série.


Elas são bonitas e abastadas, mas, ao contrário do cliché, elas são malvadas, diria até "cabras".


Aqui, o conceito de telenovela aplica-se correctamente.

segunda-feira, maio 19, 2008

Caro Pedro,
Pela admiração e amizade que nutro por ti, enceto aqui um momento de debate e discussão de ideias, não sobre o Iraque, não sobre o governo de Sócrates, muito menos sobre se fumar num avião pode prejudicar a saúde das nuvens. Vou falar de Lost.

Previously on Lost

Já tínhamos tido essa discussão. Podíamos tê-la novamente com um charuto numa mão e copo de Whisky noutra, mas opto por te responder usando este meio. Continuo a discordar do termo telenovela conforme o defines baseando-te na definição do site que consultaste. Discordo e passo a explicar.


Qualquer história ou filme apresenta um mistério, algo cuja resolução será revelada no fim. Este princípio é óbvio e aplica-se a quase todos os filmes que vemos no cinema. As séries americanas de sucesso têm-se pautado por esse modelo de entretenimento (CSI, Prison Break, etc.). Lost, nesse ponto, não se distingue das outras séries. Discordo totalmente do teu ponto de vista sobre as personagens. Não são nada estereotipadas: o “gordo” é um homem com graves problemas psicológicos e cujo azar tem lhe feito a vida negra. O médico é o líder por acaso e por mérito mas que, na sua vida antes do acidente, sempre fora refém dos seus sentimentos e fraquezas. O caçador é uma personagem estereotipada? Não sei como.


No entanto, para mim, a novidade incide no processo de escrita do argumento. Não me digas que seguem as tendências, desejos do público porque o contrato que assinaram com a produtora é ate 2010 e isto vai ter um fim que já está previsto, acrescentando que na quarta temporada, os espectadores já sabem quem serão as personagens que sairão da ilha são e salvos (os Ocean 6).


Para organizar o seu texto e contextualizar as acções e personagens, muitos autores da literatura de ficção apostaram no recurso à analepse (salto no passado). No cinema é o chamado “flashback”. Com menos frequência, também se usa a prolepse (salto no futuro). O que eu não sabia é que no cinema chamam a este processo narrativo de “fast forward”. Isto só pode ser feito se o argumento foi já escrito pensando no que irá acontecer à acção principal e se já se determinar o futuro de cada personagem.


Há um ponto interessante que posso acrescentar. O desafio dos produtores foi provar que conseguiam criar um programa de ficção melhor do que aqueles programas de reality show, em particular o Survivor. Pois é, foi nisto que se basearam os criadores de Lost.

Podemos continuar o debate em próximos “posts” (um pouco fútil se olharmos para os problemas do mundo). Não quero deixar de te sugerir um blogue português que analisa a série e as teorias conspirativas que já deram muito que falar:

domingo, maio 18, 2008

Maldito Maio 68


É giro ver os cinquentões relembrando a sua juventude no Maio de 68, a suposta revolução que mudou a Europa e o mundo. Foi giro ver jovens da classe média privilegiada dando azo à sua veia revolucionária ecoando frases que ficaram para a posteridade como “é proibido proibir” ou “sous les pavés, la plage”. O que resta dessa revolução? Nostalgia de um dever cumprido mas não totalmente realizado. As gerações seguintes acabam por pagar o que a geração de 68 conquistou; e essa dívida não parece ter fim.



A geração de 68, cuja erupção revolucionária se deu nas ruas de Paris, promoveu o “moi d’abord”, ou “eu em primeiro lugar”, e consegui vitórias nos domínios dos direitos fundamentais e dos trabalhadores que foram importantes e determinantes par ao progresso das nações. No entanto, não deixou de ser igualmente uma revolução cultural. Volvidos mais de três décadas, o peso da mudança engendrada pelos “68” foi demasiado e as gerações seguintes, isto é os filhos e netos dessa geração estão actualmente a pagar o que eles conseguiram obter.



Demasiado receosos de uma geração inconsequente e egoísta que se permitiu paralisar vários países, os Estados da Europa livres daquela altura permitiram que a dívida pública fosse aumentando silenciosamente, que o mercado do trabalho criasse desigualdades agora vistos aberrantes, e um parque habitacional, bem como um mercado de arrendamento, completamente escandalosos. Na altura, a revolução decorria, o futuro pouco interessava porque o presente deliciava a cada minuto. Os Estados criaram os direitos adquiridos que, na verdade, como se pode verificar, não passaram de temporários. Em Portugal, o Maio de 68 não passou despercebido apesar de ter tido reflexo somente após 1974. Pode-se dizer que Abril cumpriu-se quanto à vitória da liberdade, mas, tal como nos outros países, 68 ficou-se pelas intenções de curto prazo.



A juventude teve acesso a estudos uma formação que os pais não tiveram, contudo não passam de sub-empregados com contratos a prazo. E a mão da geração de 68 está também aqui presente. Economistas explicam a acual precariedade no emprego, nomeadamente nos jovens, com a teoria do “insiders-outsiders”. Este conceito defende que os “insiders”, ou aqueles que já têm emprego são melhores defendidos nas esferas políticas e sindicais do que os “outsiders”, isto é, aqueles que não têm ainda trabalho. Sabemos que as reformas laborais são feitas sem ter muita em conta os que iniciam a sua carreira profissional. O desemprego jovem e qualificado é uma realidade relativamente nova e perturbadora que deita por terra toda a aposta educativa realizada pelos governos dos anos 80 e 90: a aposta na quantidade em detrimento da qualidade com a pretensão de tornar a sociedade mais igualitária comprometeu seriamente as actuais gerações.



Maio de 69 foi uma revolução repleta de utopias louváveis que permitiu a milhares de jovens sonhar e viver por uns tempos à custa desses sonhos. Caberá às gerações seguintes pagar a conta.

quinta-feira, maio 15, 2008

Ironia socrática II

1. José Sócrates não sabia que não se podia fumar em aviões.
2. Depois da polémica, Jósé Sócrates anunciou ao país mais uma medida estruturante para o país: vai deixar de fumar.

domingo, maio 11, 2008

Música para os meus ouvidos

Professor Satchafunkilus and the Musterion of Rock.
Joe Satriani, bien sûr!

Na caixa que mudou o mundo

Há quem diga que é mais uma telenovela com um "sem fim à vista vista".

Eu acho que é o novo conceito de séries televisivas que a indústria televisiva americana inaugurou, sendo Lost o desafio criativo mais marcante e vanguardista que vi até agora.

A técnica narrativa consegue passar para o ecrã aquilo que grandes autores conseguem fazer nas suas obras literárias.

Mais uma vez: como é que se consegue transfomar o mais absurdo em algo de tão verosímil e coerente?
A mente humana é fabulosa!

Na minha biblioteca

O Ataque à Razão, Al Gore.

Surpreendente: não o sabia tão culto e filósofo.
Este livro abalou certas convicções que tinha.
Por vezes, esquecemo-nos que a racionalidade é o melhor remédio.

Ninguém chumba

Encontramo-nos no último período deste ano lectivo. Para muitos alunos, em termos escolares, este é o derradeiro momento, a última hipótese, que irá determinar o seu futuro a curto prazo: passar de ano, ou reprovar. Muito se joga nestes meses, mas nem tudo se joga, pois o ano lectivo começou em Setembro e desde aí, com a chamada avaliação contínua, os alunos estão em prova constante mas sem pressão, porque a aprendizagem propicia momentos altos e baixos no rendimento escolar que, com a duração de um ano lectivo inteiro, permite quer aos alunos, quer aos professores, corrigir e melhorar o seu desempenho.

Ultimamente, académicos especializados na área da educação e políticos igualmente sensíveis ao tema têm questionado a pouca eficácia da reprovação. Para eles, “chumbar” é contraproducente e, por isso inútil. A própria Ministra da Educação dera uma entrevista nesse sentido, colocando a hipótese de, no futuro, os alunos não serem sujeitos à retenção em caso de maus resultados escolares. Obviamente, lida à primeira, esta possibilidade é para qualquer cidadão algo de estranho e até inaceitável. Reprovar de ano sempre fez parte da “praxe” escolar. Este conceito sempre serviu para que pais e professores pressionassem os alunos menos empenhados a estudar mais para não atrasar o seu percurso de vida. Aliás, “chumbar” é ainda, infelizmente, sinónimo de vergonha.


É lógico que se torna mais fácil defender esta revolução pedagógica quando se tem por base estudos que apontam para a ineficácia do “chumbo”. No entanto, é preciso ver o que esses estudos sugerem em alternativa – ou melhor, se sugerem. E o problema reside nesse ponto.

Nas estatísticas que incidem sobre o aproveitamento escolar, no ano lectivo 2005/2006, os Açores apresentaram uma taxa de 94,7% no 4º ano de escolaridade, 90,2% no 6º ano e 87% no 9º ano. Estes dados, vistos de forma descontextualizada, até são bastante positivos e promissores. O insucesso escolar parece não ser motivo de grande preocupação. Obviamente, era melhor se o aproveitamento escolar fosse de 100%. Mas a vida não é perfeita. Ainda para mais, conhecendo o sistema escolar de Portugal – democrático, aberto a todos (não digo gratuito porque é uma mentira) e inclusivo –, torna-se mesmo impossível conseguir um sucesso total, pelo menos logo à primeira. Aliás, muito se tem discutido sobre a “honestidade” dos números apresentados quer nos Açores, quer no continente. Quem é professor no ensino básico sabe que o processo de retenção se tornou cada vez mais burocrático e moroso. Aliás, os Conselhos de Turma têm cada vez menos poder nesse processo, pois cabe, em última análise, ao Conselho Pedagógico da escola determinar a passagem ou não do aluno. E há inúmeros casos de passagens administrativas sem o aval do Conselho de Turma.


Mas voltemos à questão principal. Acabar com a retenção tem de ser bem discutido e, sobretudo, bem explicado, nomeadamente aos pais e aos alunos. Concordo com o facto de a retenção, muitas vezes, não ajudar o aluno a suprir as suas dificuldades. Mas aqui, discordo da leitura feita pela Ministra da Educação e dos seus seguidores. O problema não está no chumbo em si, mas na forma como se tenta recuperar o aluno. O problema reside, em certa medida, na inexistência de um modelo eficaz que possibilite a recuperação rápida dos alunos com dificuldades. A prevenção é também, neste caso, o melhor remédio. O acompanhamento individualizado a esses alunos, inclusive com horas suplementares de estudo, poderá impedir que o insucesso se prolongue. As pessoas são livres de gastar o seu dinheiro onde querem, mas considero que cabe à escola proporcionar um apoio acrescido – ou em gíria popular “explicações” – gratuitamente. Também é preciso perceber que um número reduzido de alunos por turma só traz benefícios e permite ao professor uma resposta rápida quanto ao diagnóstico das dificuldades dos alunos e delineação de estratégias a seguir.



O mundo global é cada vez mais competitivo e, por isso, mais agressivo. As estatísticas portuguesas deixaram de ter tanto valor porque agora as comparações são feitas entre os países da União Europeia e do resto do mundo. No domínio da educação, o ensino de línguas estrangeiras, como o Inglês e o Francês, tem agora critérios uniformes ao nível dos conteúdos. É de esperar que a médio prazo, se tente criar exames para testar os conhecimentos de todos os alunos da U.E e que se alargue este procedimento para as Ciências Exactas. A remota possibilidade de tornar o fim do “chumbo” uma medida facilitista sem que se lhe atribua uma contrapartida pode dar um mau sinal à juventude portuguesa. Aliás, não se compreende que se tenha reformulado o processo de avaliação dos professores, tornando-o mais objectivo e consequente e ao mesmo tempo se queira acabar com a avaliação aos alunos. Porque é disto que se trata: com essa mudança de paradigma, a avaliação sumativa deixará de fazer sentido.



Para além de contribuírem para o aquecimento global (tendo em conta a quantidade de papelada que é preciso preencher), os alunos retidos custam aos cofres do Estado 600 milhões de euros por ano. Compreende-se, de certa forma, a necessidade de um governante querer resolver rapidamente o problema e a tentação que daí advenha.

domingo, maio 04, 2008

A democracia em perigo


Como está a qualidade da democracia? Mais do que analisar de ponto vista nacional, vale a pena fazer uma pequena viagem através do mundo para tentar perceber como tem evoluído a democracia nos países supostamente mais desenvolvidos. A democracia assenta em vários pilares que a tornam possível e verificável. A liberdade de imprensa e, consequentemente de expressão, é o mais valioso desses pilares. Numa tabela da responsabilidade da organização Repórteres Sem Fronteiras, quanto ao exercício da liberdade de imprensa, é interessante verificar que são os países do Norte da Europa, como a Islândia ou a Noruega, os mais bem classificados. Até os Estados Unidos estão no 48º lugar, muito abaixo de países menos desenvolvidos como Portugal. Como se mede, então, o nível de qualidade da democracia?



Com o desenvolvimento tecnológico, nomeadamente a difusão de canais por cabo e a Internet, é lógico pensar-se que a liberdade de expressão se tornou um direito adquirido e inalienável, por isso indiscutível. Contudo, a realidade, se bem que mascarada, é outra. Os governos eleitos pelo povo encontraram uma nova forma de manipular a informação a seu favor. Mas, verdade seja dita, a culpa não recai única e exclusivamente sobre eles. Há uma falha no sistema que permitiu aos governantes perceber, por vezes de forma inconsciente, como a democracia pode ser ludibriada.



O acesso à informação é uma base imprescindível para que o cidadão perceba e avalie o desempenho dos governantes. Os jornalistas e as agências noticiosas são o garante que essa informação, supostamente imparcial e objectiva, chegue a todos os cidadãos. As teorias sobre comunicação social têm defendido que a isenção total é um domínio impossível de atingir, pois a óptica de um jornalista (origens sócio-culturais e até o humor do dia) está sempre presente no que ele apresenta ao público. Por isso, é salutar que haja vários órgãos de comunicação social para que sejam mostradas diferentes perspectivas. Mas o mais grave não é o que defende essa teoria académica. O mais preocupante é quando a notícia é já de si filtrada como um funil que condensa a informação e a transforma naquilo que o mensageiro quiser, excluindo o considerado supérfluo ou inconveniente. E, se o mensageiro for um alto responsável político, podemos então perceber o alcance que esta possibilidade pode ter. Actualmente, os políticos recorrem a agentes especializados em Marketing e mestres na propaganda. Os políticos recorrem a serviços de jornalistas para que estes desempenhem a função de assessores de imprensa. Aqui, começa o problema; aqui começa a manipulação. Para contrapor este argumento, pode-se falar das empresas privadas de comunicação que não estão dependentes do poder político. Mais uma vez, neste caso, existe fortes sinais de que a democracia não está bem. Os canais de televisão vivem das receitas publicitárias. As empresas de publicidade só apostam em programas com audiências. Para perceber melhor este efeito bola neve, cito Dan Rather, jornalista da CBS: “os noticiários exigem cada vez menos da cabeça e enchem cada vez mais o olho.” Trata-se da aposta pela notícia-espectáculo. A finalidade cinge-se a aumentar as audiências e vender publicidade.



Vejam-se os casos noticiosos que se transformaram em casos nacionais. Por exemplo, será o desaparecimento de Madeleine McCan uma tragédia superior a outros desaparecimentos de crianças? Quantas crianças desapareceram desde Maio do ano passado? A comunicação social empolou as coisas de tal maneira que os portugueses deixaram de dar importância a outros aspectos da vida que lhes diz mais respeito. Quem faz a agenda não são as notícias são as agências noticiosas; e quanto mais dramático, melhor. (vejam como agora tentam transformar a notícia sobre o casal irlandês embriagado num novo caso nacional. Quantas das nossas crianças portuguesas passam por esse drama diariamente?).



Nos Açores, o governo regional criou o Gabinete de Apoio à Comunicação Social. À primeira, até parece bem intencionado. Mas com toda a sinceridade: trata-se de um atestado de incompetência a todos os jornalistas açorianos. Quem foram os funcionários contratados para trabalhar no gabinete? Jornalistas, alguns de renome, que para além de ser bem pagos – melhor do que no seu anterior serviço, deixaram de contribuir para a pluralidade e isenção da imprensa regional. Veja-se a promiscuidade desse gabinete ao promover o “sim” à despenalização do aborto, quando devia, por obrigação legal e moral, ser imparcial. A Comissão Nacional de Eleições tratou de corrigir este “equívoco”. Mas, de resto, quem controla esse gabinete a as suas pseudo-notícias?



A democracia parece estar a funcionar. Parece, mas não está. De que serve criar fóruns livres de participação se aquilo que as pessoas dizem ou de que se queixam não resulta em nada? Ao fim de algum tempo, haverá uma ruptura, pois a frustração e o sentimento de impotência aumentará de forma perigosa.