Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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terça-feira, outubro 23, 2012

A próxima liderança do PSD/Açores

O PSD/A pode orgulhar-se de ser um partido aberto à sociedade.

Ainda Berta Cabral não anunciara a sua demissão, não só a imprensa avançava a notícia como já havia candidatos ao seu lugar. 

Não me aquece nem arrefece o facto de isto acontecer, pois o resultado foi demasiado penalizador para sequer equacionar a sua continuidade na presidência do partido, por isso, o palpite da comunicação social era previsível. 

Assim como a apresentação de nomes à liderança, alguns (Duarte Freitas) mais óbvios do que outros. O discutir na praça pública o currículo e o carácter de cada um dos putativos candidatos parece-me normal numa democracia saudável e estável. Prefiro este sistema do que a nomeação e a posterior ratificação em congresso.

O que me choca é o PSD voltar outra vez à estaca zero: falta de líder, falta de ideias e falta de estratégia. Adivinha-se um congresso murcho que nos remete para 16 anos de oposição sentindo que o problema é talvez mais complexo do que uma mera mudança de presidente

Pegar agora no partido não é um desafio; é um fardo e um jogo de paciência; uma paciência que pode durar 16 anos

No entretanto, o partido vai perdendo experiência política, pois  governar é muito diferente de que ser-se deputado. As poucas câmaras municipais laranjas, onde de facto se exerce um cargo executivo, vão desaparecendo aos poucos. As próximas autárquicas serão reveladoras de como os açorianos encaram o PSD/A. 

Não estou otimista.  

Já agora, se as autárquicas correrem mal, haverá outra vez mudança de líder?

quarta-feira, outubro 17, 2012

Este homem não pára

segunda-feira, outubro 15, 2012

Ainda as eleições regionais


Num comentário ao meu texto, o Rogério parte do princípio de que todos os açorianos pensam como ele e votaram em conformidade. Há pontos com os quais não concordo. Eis a minha réplica.

Há muito que a Região deixou de ser social-democrata. Basta ver a estrutura autárquica para perceber como os socialistas estão em todo o lado (não digo que é bom ou mau; é um facto).


 
Fez-se renovação no PSD - pouca no meu ver – e Berta Cabral era a mais qualificada do partido e a que mais hipóteses tinha para vencer (acredito que se fosse outro candidato, o resultado seria bem pior).

 
A alternância interna do PS é discutível, pois Vasco Cordeiro não foi eleito; foi nomeado pelo ainda líder, ratificado pela estrutura máxima do partido. Aliás, faz-me lembrar o que Francisco Louçã propõe para o Bloco com a sua liderança bicéfala. Só que aqui nem houve discussão. Tornou-se um facto consumado. Daqui uns meses, teremos congresso regional e o Presidente do Governo dos Açores será empossado como Presidente do PS Açores. É uma situação inédita, mas pouco interessa: está ganho.

 
É verdade que a situação de austeridade prejudicou Berta Cabral que, segundo dizem, partia em vantagem. Mas não é suficiente. A crise do PSD Açores é agora existencial. Recusou a sua ideologia, transformando-se num partido ultra-socialista (a catadupa de promessas demagógicas à última da hora), e assim abdicou das suas ideias que propôs no início que tinham sido bem acolhidas. Das duas uma, ou o PSD Açores reflete seriamente sobre o que aconteceu e tira ilações ou assobia para o ar e faz de conta que nada aconteceu, mantendo tudo como está.

domingo, outubro 14, 2012

A vitória do PS: uma inevitabilidade


    Há quatro anos atrás, antes da campanha eleitoral para as eleições autárquicas, os munícipes de Angra assistiam a uma presidência da câmara paralisada, sem criatividade e envolta em várias polémicas das quais se destacou a falta de água e seu respetivo racionamento, condicionando a vida de todo o concelho. A irritação pairava no ar. Com as eleições à porta, o PS estava em maus lençóis.

    O PSD de António Ventura partia em vantagem e com uma dinâmica vencedora atrás dele. A poucas semanas das eleições, sentiu-se que algo estava a mudar; não era a intenção de votos, mas sim o desejo de deixar tudo na mesma. O PS acabaria por ganhar sem maioria e por isso fragilizado. Como sabemos, a presidente acabou por se demitir - as razões de teor pessoal invocadas ainda causam dúvidas-, e a governação da edilidade é agora da responsabilidade de Sofia Couto, a quarta da lista. A cidade património continua parada no tempo e as polémicas são recorrentes. Nada mudou.


    Com Berta Cabral, o mesmo aconteceu. Outra vez a dinâmica vencedora do início, uma lufada de ar fresco e até de esperança. Muitos, inclusive no PS, sentiram que era desta que o PSD voltava para o poder. No entanto, poucas semanas antes do ato eleitoral, o vento de mudanças rumou para o outro lado, o lado de sempre: o do deixar as coisas como estão. O PS venceu.


Realmente, nem com Berta Cabral o PSD consegue alcançar a vitória.


    Ao PSD sugeria-se agora um tempo de nojo político, de reflexão para perceber o que correu mal. Quais os erros cometidos; se foram promessas a mais; se a mensagem não foi clara; se a estratégia de campanha foi errada; se as escolhas das personalidades foram desacertadas; se a má governação da coligação PSD/CDS no continente prejudicou o partido regional, etc. Mas, às tantas, a razão da derrota é mais simples.


O PS ganha porque os Açores são socialistas. Não há volta a dar. Quer no caso das autárquicas, quer nas recentes legislativas regionais, não seria possível o partido que está no poder vencer. Por causa do desgaste do tempo e do cansaço em relação aos governantes, pelas trapalhadas e sobretudo pelo estado da Região com taxas de desemprego e de pobreza a dominar o lado negativo desta governação, isto é, pela lógica, não deveria ser possível.


Mas mesmo assim, os açorianos não deram hipóteses ao PSD.


Por seu lado, o PS pode apresentar o seu mérito, os seus valores, a sua estratégia como fatores determinantes na vitória. Nos “bastidores” pode ter havido um conjunto de promessas e favores que ajudaram a angariar votos decisivos e de que ninguém tem oficialmente conhecimento. Mas, no essencial, tudo estava predestinado: os Açores são eminentemente socialistas. O PS esteve dezasseis anos no poder procedendo a essa transformação social e ideológica. E numa terra conservadora como os Açores, o tempo não é composto pela mudança, mas sim pela permanência; os açorianos têm receio da alternância preferindo deixar tudo com está.


Com isto, não digo que venha algum cataclismo. Antes pelo contrário, pela renovação do PS, antevejo mudanças positivas - muitas delas impulsionadas (forçadas?) pelo clima de crise e pela austeridade que o país vive. O estado social que representa um monstro sorvedor dos cofres regionais terá de certeza profundas alterações, pois não é possível ter uma sociedade demasiado dependente de subsídios públicos. E acredito que haja mudanças nas políticas para o turismo e para os transportes aéreos e marítimos, bem como nas áreas da cultura e educação.


Porém, existe uma incógnita que não depende do governo açoriano. A saída da crise depende sobretudo de fatores externos, como a estabilidade e a retoma económica do país. Depende também da União Europeia e da sua estratégia para resolver a crise.


Por isso, os programas eleitorais (ou “prometório”) não valem nada. Na política, a esperança morreu. Nos Açores, mudam-se os tempos, mantêm-se as vontades.


Vasco Cordeiro é sem sombra de dúvida o nosso presidente.

quinta-feira, outubro 11, 2012

A entrevista de Paulo Campos à SIC Notícias

Na entrevista concedida ao jornalista José Gomes Ferreira, o mais triste não é o deputado Paulo Campos levantar suspeitas sobre Marques Mendes (aguardo a resposta do social-democrata), nem é o estado de negação em que continua enclausurado quando se refere às PPP ("é um bom investimento público, encorajado pelo UE e  que criou 30 mil empregos")

O  mais triste e desolador é quando o deputado socialista se queixa que a austeridade  lhe tem dificultado a vida (um deputado da República!) e que até precisa da ajuda financeira dos pais, isto para pagar os estudos dos filhos porque como diz: "quero os melhores estudos para os meus filhos".

É esta a  hipocrisia que consiste em defender o ensino e a saúde públicos para os outros, mas o privado para si; o que mostra como o socialismo é um equívoco e só tem servido muitos dos seus responsáveis  para ascender socialmente.

terça-feira, outubro 09, 2012

Afinal, já comentaram

Em relação ao post publicado em baixo. (PS e PSD já lamentaram o facto)

Seria legal se alguma rádio privada ou blogue (em vídeo) convidasse os verdadeiros candidatos à presidência para um debate?

Não há debate para as eleições nos Açores

Andamos todos tão preocupados com a nossa vida e com o nosso dinheiro que vai minguando a cada dia que passa que ninguém cometa o sucedido, muito menos os responsáveis político. Para alguns deve ser um alívio. 


Isto tudo por causa de uns partidos insignificantes que bateram o pé.  A RTP Açores esteve bem na sua decisão, apesar de, por aquilo que percebi, não tenha pretendido fazer debates a 2 com os partidos com representação parlamentar. Preferia esse esquema. Basta recordar as eleições autárquicas em que conseguiram realizar debates em todos os Concelhos da Região.



A CNE tem muitas culpas no cartório. Perde-se uma oportunidade de mostrar uma Região democraticamente saudável, aberta e dinâmica.


sábado, outubro 06, 2012

Sobre a sondagem

É inevitável que o PS esteja empolgado com os resultados da primeira sondagem oficial. É preciso reconhecer que ninguém estava à espera de tal situação e até de distância entre PSD e PS.

Colar Berta Cabral a Passos Coelho é uma estratégia acertada, mas enganadora.

Em Março deste ano, durante o congresso nacional do PSD, já o dissera oficialmente que não era uma "negociadora fácil". O presente afastamento da líder açoriana em relação ao PSD nacional não é muito diferente daquele que a maior parte dos notáveis e desconhecidos do partido vêm demonstrando nos últimos dias. 

O governo e a coligação estão completamente isolados. Neste contexto de crise, é impossível ser-se bem-sucedido. 

Os Açores, desta vez, não podem acompanhar nem pactuar de maneira nenhuma com o que está acontecer no continente.


Como este Governo deu cabo do resto que faltava


    Há pouco mais de um ano atrás, o Governo de Passos Coelho tomava conta de um país em bancarrota, que tivera de pedir ajuda externa in extremis, a tempo de os cidadãos receberem os seus ordenados, pensões e reformas. O PS de Sócrates transformava-se na razão de ser de todos os males dos portugueses. O engenheiro rumava para Paris e os socialistas preparavam-se para um longo período de nojo na oposição.

    Não restam dúvidas de que os portugueses aceitaram que a austeridade era um mal necessário. Não há dúvidas de que os portugueses sabem que o país tem sido mal gerido pela classe política, onde os favores políticos e a promiscuidade entre o poder económico e político são a praga que tem impedido Portugal de sair da miséria civilizacional em que está enterrado há décadas.

    Quando a Troika chegou, muitos portugueses acharam que era desta que o país se endireitava. E esta foi provavelmente a razão pela qual os portugueses aceitaram melhor do que qualquer outro povo a ajuda financeira vinda do exterior.

    Contudo, um ano depois, o governo não só está a falhar nas metas para reduzir o défice e reformar o Estado, como parece estar a piorar a situação, pois o desemprego e os índices de pobreza são assustadores.

    Um ano depois, o que parecia um dado adquirido e consentido – a presença salutar, mesmo que a custo, da Troika – tornou-se um pretexto para a convulsão social e para a guerrilha política. O país vai crescentemente rumando para o caos e para a revolta de rua.

    Os últimos dias serviram para acalmar a tensão existente entre o PSD e o CDS, mas é crível afirmar que, por causa das várias deslealdes cometidas, esta coligação está ferida de morte – ao contrário da anterior entre Durão Barroso e Paulo Portas – porque os ressentimentos virão ao de cima quando a pressão aumentar novamente. Ninguém sai bem na fotografia, nem nenhum é mais vítima do que o outro. E este governo só se mantém em funções porque qualquer outra alternativa pode lançar o país para uma situação ainda bem pior.

Não convém esquecer que uma coligação entre partidos é sempre uma missão arriscada, porque nela se encontram personalidades com egos muito vincados, desejo de protagonismo acentuado e, muitas vezes, cinismo e hipocrisia em doses inaceitáveis. O PSD e o CDS têm o mérito de pelo menos tentar essa possibilidade, mas, no final, a sobrevivência dos dois pode estar em risco. A Esquerda portuguesa tem revelado pouca credibilidade por se apresentar como sendo unicamente do contra e pelo facto de o PS gritar muito na oposição, mas chegado ao poder os portugueses suspeitam que irá fazer igual ou pior.

No entanto, a mágoa mantém-se. Para quem acreditou neste governo, a desilusão é total.
    Com este governo, muitos, como eu, acreditaram que a social-democracia, com pendor liberal, iria realmente vingar em Portugal. O objetivo para os próximos anos seria não só cumprir o memorando no curto prazo, mas seria, a médio e longo prazo, reformar a sociedade e o Estado de maneira a tornar o país mais competitivo, menos dependente do exterior, socialmente mais justo e empreendedor. Um Estado mínimo, mas eficaz e presente onde realmente tem de cumprir a sua missão.

    Infelizmente, o que se tem visto é uma agenda do Governo somente focada em medidas de cortes orçamentais, à custa do aumento brutal dos impostos e no condicionamento da vida das empresas. Achar, como alguns, que este governo é neoliberal, é absolutamente infundado e até insultuoso. Este governo chega a ser ultra-socialista nas medidas de cariz social e anacrónico nas reformas do Estado. Aliás, na verdade, nem sequer existe um caminho definido. Ninguém, por mais patriota que seja, consegue apoiar ou seguir um governo assim.

    É nesta mixórdia de errâncias, de contradições e de fragilidades que este governo se encontra. Há um ano atrás, parecia mais seguro de si, mais determinado e assertivo. O PS aproveitou este deslize e, de um partido moribundo, transformou-se numa espécie de Fénix renascida, completamente inocentado dos seus erros do passado mesmo que recente. O descaramento tem destas coisas. O populismo alimenta-se dos erros dos outros.

    Há urgência em que o PS se prepare para governar brevemente. A coligação não aguenta, o país já desistiu. Preferia António Costa, ao invés de Seguro.

sexta-feira, outubro 05, 2012

A geração perdida


    Este é um tema de que não me canso de falar. A juventude está na iminência de se transformar numa geração perdida, cujo destino, mesmo que incerto, a remete cada vez mais para a pobreza e a inutilidade. Sim, perdida é o termo mais apropriado; não há motivo de orgulho ou de festa para esta situação. O desemprego ou a precariedade que se arrastam e alastram não parecem ter fim. E eu a pensar que a possibilidade de uma guerra ou de um cataclismo seria o verdadeiro motivo de apreensão para o futuro.

    Na União Europeia, a taxa média no desemprego jovem atinge mais de 20%, havendo países em que ela ultrapassa os 40%. Isto significa que chega a ser três vezes mais alta do que a taxa global da população ativa. Em Portugal, a taxa está quase nos 40%; em Espanha e na Grécia, já ultrapassa os 50%; em Itália, está nos 35%; em França, nos 25% e assim sucessivamente. Somente na Alemanha, na Holanda e na Áustria é que as taxas se encontram abaixo dos 10%. Do outro lado do Atlântico, o cenário é igualmente preocupante: no Brasil, no Canadá e nos Estados Unidos, as taxas variam entre os 15 e os 18%.


    Como se pode verificar, o problema do desemprego jovem é estrutural. Algo falhou quando, há vinte e trinta anos atrás, os governos dos diversos países implementaram políticas para a educação. Os objetivos pareciam corretos: predominava o incentivo aos estudos superiores ou técnico-profissionais; democratizava-se o ensino, tornando-o acessível e até gratuito para todas as crianças, independentemente da sua proveniência social; criavam-se bolsas de estudo, alargavam-se os programas de oferta cultural e de intercâmbio escolar.


É verdade que o ensino, nomeadamente nos países democráticos, tornou-se demasiado complacente para com os alunos e pais irresponsáveis; é verdade que o ensino ministrado nas escolas ficou menos exigente, o que inevitavelmente se repercutiu na qualidade dos estudantes nas universidades; é verdade que o fenómeno de exclusão social dos jovens oriundos dos subúrbios ou de classes pobres aumentou de forma explosiva em certos países, mas, mesmo assim, como é possível que esta juventude, supostamente a mais bem qualificada de sempre, não consiga emancipar-se, não consiga obter ou criar um trabalho duradouro e pago decentemente, não consiga prosperar, não consiga, de facto, contribuir para o progresso da sua região ou do seu país?


No princípio, argumentava-se que a juventude tinha de se mentalizar de que não existiriam mais empregos para o resto da vida, de que a precariedade no início da carreira profissional seria uma inevitabilidade. Depois, argumentou-se que a globalização tinha abolido as fronteiras, proporcionando a oportunidade de os jovens concretizarem as suas ambições fora do seu país. Porém, não só o desemprego, como a durabilidade no desemprego aumentaram; mais jovens no desemprego e por mais tempo.


Não há dúvidas de que muitos conseguiram vingar e são bem-sucedidos. Mas, agora, com a atual crise, é impossível negar o que desde o início alguns observadores vaticinaram: se, por um lado, apesar dos seus altos estudos, muita juventude não tem competências técnicas nem emocionais para fazer frente a esta dura realidade; por outro, o Ocidente não se preparou devidamente para enfrentar a sua perda da hegemonia no mundo.


No final do século XX, perante o crescimento económico do Ocidente, alguns economistas e sociólogos teorizaram sobre um futuro risonho em que o cidadão não trabalharia tantas horas, teria uma vida social e familiar mais rica, onde os trabalhos manuais seriam quase todos substituídos pelas máquinas e onde as novas tecnologias dariam mais conforto à sua vida. O Estado Social permitiria viver sem preocupação em relação a doenças e reformas; o dinheiro deixaria de ter tanto valor, pois todos salários seriam na generalidade altos e os bens de consumo a preços acessíveis.


De facto, nesta utopia, fazia todo o sentido perspetivar que o mundo estaria repleto de taxistas com doutoramentos em Psicologia e empregados de restaurante licenciados em História.


Mesmo que as estatísticas mostrem que um jovem com licenciatura tenha mais probabilidades de arranjar emprego do que um com poucos estudos, o problema mantém-se: há falta de trabalho. Se ter poucas habilitações significa pobreza quase certa, muitas habilitações deixou de garantir prosperidade e sucesso.


Não consigo ser otimista. Não consigo transmitir esperança. Sinto que o desespero das famílias se adensa, que a inveja social cresce, que o individualismo aumenta, que a corrupção se estende como os tentáculos de um polvo. Os casamentos desaparecem, os divórcios multiplicam-se, os bebés são espécies em vias de extinção, a ideia de família desmorona-se, as árvores genealógicas vão sendo desbastadas para dar lugar à desflorestação social e genética. Nunca estivemos tão próximos do nosso extermínio. E, incrivelmente, sem ter recorrido ao uso de bombas atómicas.


Perante este flagelo, os governos desdobram-se em manobras políticas bem-intencionadas, mas inconsequentes. Programas de estágios aos milhares na administração pública, regional e local; uma forma enganar as estatísticas, mas desviando sempre a cara do verdadeiro problema. 

Tudo o que os nossos pais ganharam no famoso período dos “direitos adquiridos” estão agora a gastá-lo para cuidar dos filhos. Filhos com idade para serem pais. Pais que nunca o serão.