Depois das recentes derrotas eleitorais do PSD Açores, a líder Berta Cabral encontra-se numa fase complicada, o que acaba por colocar o seu partido entre a espada e a parede. Dos resultados, perceberam-se duas coisas: primeiro, que o PSD subestimou o poder dos socialistas a nível local; segundo, que a sua presidente não esteve à altura dos acontecimentos nem durante a campanha nem no discurso de derrota.
Se no primeiro caso podemos dar o benefício da dúvida, o segundo desperta uma preocupação evidente: será que a líder do PSD tem estofo para o cargo que exerce dentro do partido? Como Presidente da Câmara de Ponta Delgada, tem tido inúmeros sucessos e a sua reeleição confirma a aprovação e simpatia que os munícipes têm por ela. Enquanto líder do partido, tem, pelo contrário, actuado de forma mais contraditória porque confunde o seu sucesso em Ponta Delgada com o que ainda não conquistou nas outras ilhas, isto é, a confiança de todos os açorianos. Noutras circunstâncias, o PSD poria em causa a continuação de Berta Cabral na direcção e exigiria a convocação de eleições antecipadas, de resto como acontece no PSD a nível nacional. Mas ninguém o faz porque assumiu-se que é a melhor candidata e, como tal, nenhuma voz se atreve em público a questionar a sua liderança.
É verdade que o partido precisa de estabilidade interna, mas as próximas eleições são daqui a quatro anos. Deste modo, o desgaste da direcção vai ser enorme e quiçá fatal. Não se vislumbrando – por enquanto - uma alternativa viável, a actual direcção tem forçosamente de rever a sua forma de actuar e de fazer oposição. Nos últimos tempos, o governo regional, nomeadamente o seu presidente, tem dado mostras de alguma prepotência que está a desalentar alguns cidadãos ou associações fora do âmbito partidário. Será preciso capitalizar este descontentamento emergente da população mas fora do registo da maledicência. O que não se entende é que o PSD Açores não marque um congresso para, pelo menos, redefinir a liderança de certas comissões políticas de ilha. Num partido, quer as derrotas, quer as vitórias são de todos. Por isso, há que tirar ilações consequentes do que correu mal nas últimas autárquicas.
No princípio do próximo ano, o PS Açores realizará o seu congresso que é aguardado com muita expectativa. Irá Carlos César anunciar a sua recandidatura a um próximo mandato no governo regional?
De tabus os portugueses estão fartos. Entremos então no jogo da especulação e no domínio da futurologia política. A política é uma actividade nobre porque se baseia na premissa de que serve para ajudar o próximo. Carlos César ficará na História da política portuguesa como uma personalidade que desencadeou o progresso dos Açores enquanto presidente do governo, e como um estratega nato e perspicaz enquanto líder político. César não ficará somente registado nos livros de História; ficará, sim, destacado de entre as diversas figuras políticas deste mudar de século. Não estou a fazer um elogio. Estou simplesmente a reconhecer o óbvio e o justo.
O espírito de missão tem de fazer parte da agenda pessoal de cada político. Por isso, há missões que terminam porque a política, numa perspectiva do regime democrático, é um cargo, uma função que se desempenha temporariamente. Ao contrário da monarquia ou dos regimes totalitários, o poder não deve ser prolongado ad aeternam. Para o bom e para mau, a renovação e a alternância são elementos indissociáveis do processo político.
É normal que Carlos César queira assustar o seu adversário ao deixar pairar no ar a possibilidade de se recandidatar a um novo mandato. Isto, mesmo depois de ter afirmado que não o faria e que até defendia a limitação de mandatos. Verifica-se que a sua a sua jogada é certeira, pois as hostes laranjas mostram já alguma preocupação. Pelo menos, o congresso centrar-se-á na figura de César e criará uma grande azáfama à sua volta.
Sair pela porta grande é bom para qualquer político. O problema é definir quando esse tempo chega. No final desta legislatura, a não recandidatura de César resultará numa saída gloriosa, isto na condição de ele e o seu governo não caírem na tentação da prepotência total e do autismo político (eu sei; esta expressão é feia, mas continua a ser a melhor que conheço).
Assim sendo, segundo esta lógica, o próximo congresso serviria para clarificar as coisas: Carlos César anunciando que não continuará e que o PS Açores precisa de encontrar o seu sucessor. Existem algumas personalidades com potencial que desempenham funções de relevo na política regional. Mas será a sucessão pacífica e consensual? Estará mesmo Carlos César preparado para não disputar eleições contra Berta Cabral?
Se houver uma derrota do PS nas próximas eleições, esta não advirá só do desejo de mudança por parte dos açorianos. Ela poderá justificar-se pelo facto de o PS não ter sabido escolher um bom sucessor ou este não ter tido tempo suficiente para mostrar o que vale aos açorianos. Agora é importante que Carlos César defina o seu futuro o mais depressa possível. Mas se César acha que o seu PS não tem quem lhe suceda, então cometerá o erro típico dos déspotas: pensar que só ele é que é bom.
O próximo congresso do PS Açores pode transformar-se numa montanha que pariu um rato. Por outras palavras, nada de novo acontece, algumas mudanças de lugares muitas palmas, aclamação do líder e todos voltam para as suas casas com a mesma dúvida.