Complot
Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...
Acerca de mim
- Nome: Paulo Noval
- Localização: Praia da Vitória, Terceira, Portugal
domingo, março 31, 2013
A União Europeia está desmoronar-se.
Esse desfecho é cada vez mais provável mas a sua origem não é de agora. Remonta
aos seus primórdios, quando se criaram as regras que definiram o
estabelecimento do Euro e aquelas que alargaram a União Europeia aos países de
leste. A Europa vai-se tornando o epicentro dos problemas financeiros mundiais,
mas cujas repercussões ainda não atingem as outras nações, a tempo de se
protegerem. Contudo, o retrocesso civilizacional está em curso: a queda da
Europa, tal como a queda da Roma Antiga, tem a mesma causa: a impossibilidade
de conciliar as diferentes culturas dos seus países-membros.
Quando Espanha e Portugal entraram
na CEE, havia o perigo de não acompanharem o ritmo de desenvolvimento dos outros
países. A vantagem era a proximidade com o centro da Europa e o facto de os
índices de corrupção serem relativamente baixos e as instituições políticas e
judiciais confiáveis, com uma separação de poderes bem instituída. No entanto,
houve erros inaceitáveis. A atribuição de milhões em fundos estruturais de
desenvolvimento sem a devida fiscalização e monitorização contribuíram para
assimetrias sociais e regionais. Apesar das diferenças fiscais, laborais e
sociais que existiam entre os países que constituíam a CEE, a prioridade foi
dado ao apetrechamento de infraestruturas. Ninguém queria ouvir falar em
federalismo; o dinheiro é que importava.
Com o tempo e a evolução de CEE para
UE, o processo parecia imparável, mesmo que lento à luz dos cidadãos. Porém, o
discurso oficial falava em “política dos pequenos passos”. Depois do
desmoronamento da URSS, os novos países do leste batiam à porta da Europa,
pedindo para os deixar entrar. Abria o debate sobre o que era a UE, sobretudo
quando a Turquia manifestou grande interesse em nela aderir. Afinal, os
pequenos passos davam lugar a uma corrida desenfreada para unificar
politicamente uma Europa profundamente dividida e assimétrica. Compreende-se
que a boa vontade dos governantes se sobrepôs ao bom senso político. Contudo, os
países de leste eram diferentes entre si, o que obrigaria a um processo de
adesão diferente do que fora feito com Portugal e Espanha. Mas não interessava:
em 2004, aderiram de uma só vez 10 novos países.
Se a República Checa e a Polónia
adaptaram-se e cresceram, a Bulgária e a Roménia foram o oposto. Outro erro de
visão estratégica. Nunca deveriam ter aderido à UE sem primeiro fortalecer as
suas instituições políticas e judiciais e criar um rumo sustentável para as
suas economias. Com a abolição das fronteiras, incentivaram ao fluxo migratório
e, com ele, as redes mafiosas alimentadas pela pobreza desses países. A
xenofobia europeia instala-se novamente - ilustrada pelos tristes episódios dos
“Rome” em França.
Com a atual crise, os governantes
europeus andam desamparados. Uns dividem esta União em duas categorias: os
países do sul, laxistas e preguiçosos; e os países do norte, espartanos e
sensatos. Dizer, como o Ministro das Finanças alemão, que temos inveja do
sucesso da Alemanha traduz a inconsciência de quem devia zelar pela Europa como
um todo. A secessão está em vias de acontecer porque a Europa já não faz parte
da solução, mas sim do problema, enquanto vigorar a filosofia política que
defende o ajustamento como um castigo a ministrar a quem não anda à mesma
velocidade dos grandes.
Chipre foi mais uma vítima do
pensamento alucinado e vingativo que paira em Bruxelas e na Alemanha. Quando a
ilha aderiu à UE e ao Euro já era um paraíso fiscal. A sua posterior adesão somente
serviu para alimentar a ganância dos grandes depositantes russos. Na altura, nenhum
governante europeu se queixou desse problema, demonstrando, pelo contrário, falta
de coerência e de respeito pelos ideais democráticos da Europa. A Europa
enterrava os seus valores com a premissa de que bastava integrar qualquer país para
que a transformação ocorresse como que por magia. Como se vê agora, um tremendo
erro.
Mais uma vez, o problema das discrepâncias
inconciliáveis entre os países da União. Sejam elas, políticas, sociais,
económicas e até culturais (ou sobretudo culturais), é impossível unir países
sem antes ter dirimido essas diferenças. O facto de os países terem culpa pelas
suas crises domésticas tornou-se irrelevante para o grande problema que a
Europa doravante enfrenta.
terça-feira, março 26, 2013
Comentadores nouvelle vague
Se a moda pega na Região, lá teremos a RTP Açores a convidar Carlos César para comentar a atualidade açoriana, tendo como entrevistador o seu principal fã Rui Goulart.
Do lado da oposição, para haver contraditório, chamaria Berta Cabral. Assim, as duas principais lideranças partidárias ficariam sob um escrutínio apertado para não dizer sob fogo cerrado.
Também aqui faz falta algum picante na nossa política.
domingo, março 24, 2013
A escola é minha mãe
E
o governo é meu pai. Perante o estado de crise em que vivemos assolados, os deputados
regionais servem-se da fome nos Açores, mais precisamente da das crianças, como
arremesso político, como se o crescente descrédito que os cidadãos nutrem pelos
políticos não abrangesse os Açores. No entanto, se levarmos a discussão para um
nível mínimo de seriedade, a necessidade de recorrer às escolas para colmatar a
fome em casa de certas crianças mostra o falhanço das políticas sociais do
Governo Socialista dos Açores.
Com
o tempo e a democratização do ensino, a esfera de atuação das escolas tem
aumentado substancialmente, e com isso o poder de intervenção dos professores,
que não passa somente pelo ato de ensinar, mas também atender aos contextos
sociais e familiares dos alunos, por forma a responder melhor às suas
necessidades e anseios.
Apesar
de todas as políticas de apoio social desenvolvidas na última década, a miséria
nunca deixou de existir no arquipélago. Com a atual crise, o problema
agudizou-se e a forma como os responsáveis políticos respondem a essa situação
passa por responsabilizar cada vez mais as escolas, obrigando-as, por exemplo –
e a meu ver mal -, a facultar pequenos-almoços aos alunos carenciados. Apesar
da insistência do Bloco de Esquerda para que o mesmo suceda na atribuição de
almoços em período de férias, o Secretário da Educação tem sabiamente refutado
esse pedido. Na verdade, até onde deve ir a escola na sua missão de educar
crianças e jovens? Não estará ela a ir já para lá das suas competências?
Resolver
o problema da fome nos Açores é fácil. Não estamos em África onde há escassez
de bens alimentares e de água. Mas, para tal, há que fazer escolhas. Os políticos
não podem fazer de conta e usar a velha máxima do pão e do circo para entreter
o povo. Como se viu nesta última semana, quem nos representa prefere usar os
seus dotes circenses ao invés de resolver os problemas dos açorianos, sobretudo
mais carenciados. Quem governa não pode andar com a consciência tranquila
quando é confrontado com a miséria vivida por algumas famílias açorianas.
Assumam-no de uma vez por todas: se há pais que não sabem cuidar dos seus
filhos nas coisas mais básicas como dar de comer, então retirem-lhes a custódia.
Afinal, para que servem os milhões gastos em apoios sociais? Para que serve a
construção de bairros sociais ou a concessão de rendas sociais se há famílias
inteiras a dormir no mesmo quarto ou em condições deploráveis?
Tenho-o
defendido há muito: enquanto houver fome nos Açores, não há condições para o
governo ou as câmaras andarem a gastar o dinheiro dos contribuintes em festas e
efemérides culturais. Não há moral em pertencer à União Europeia, mas haver
cidadãos a viverem como se estivessem no terceiro mundo.
A
escola açoriana tem falhado redondamente na sua primordial missão que é a de
instruir e formar crianças e jovens. Não pode haver melhoria dos resultados se
a escola faz tudo menos combater o insucesso escolar. A escola não deve ser o
espelho da sociedade; antes pelo contrário, deve acautelar que todos tenham as
mesmas oportunidades de vencer na vida a partir dos estudos e da aprendizagem. Na
escola, se for digna desse nome, não interessa a origem dos alunos; interessa é
para onde vão e se esta os prepara devidamente para trilhar esse caminho.
E
a fome, nem devia ser motivo de discussão nas escolas. A não ser para os
palhaços da política.
segunda-feira, março 11, 2013
A Cimeira Atlântica – 10 anos depois
Estava uma manhã ventosa e
fria no Domingo 16 de Março de 2003.
A pista da Base das Lajes tinha ainda pouco movimento, contrastando
com a azáfama vivida nos seus bastidores, mais concretamente no Clube dos
Oficiais Americanos, local onde se reuniriam os líderes da Cimeira.
Às 11h30, chegava o Falcon da Força Aérea, vindo de Lisboa
que transportava o Primeiro-ministro português. As cerimónias protocolares, à
chegada de cada líder, foram apressadas e simples. Os quatro líderes da Cimeira
levaram poucos minutos a fazer o trajeto entre o avião e o Terminal Militar. O
último avião a aterrar, o Air Force One,
chegara a horas (15H50). A meio caminho entre o Terminal Militar e o avião
presidencial, estava Durão Barroso para receber George W Bush como o fizera
anteriormente com José Maria Aznar e Tony Blair.
Durante o trajeto, George W Bush
acenou para os manifestantes que se situavam fora da base, a cerca de 500 metros do local onde
se encontrava. Ainda no exterior, nas escadas de acesso ao edifício, os quatro
líderes cumprimentavam-se, possibilitando uma breve “foto de família” que iria
imortalizar o dia da Cimeira.
Os quatro líderes
reuniram-se à porta fechada com os seus principais colaboradores. George W Bush
iniciou as conversações resumindo as razões por que se encontrava nos Açores:
“Talvez se faça luz e Chirac concorde com a nossa resolução apadrinhada
conjuntamente, mas não haverá negociações”, disse ele. O presidente americano
deixava assim claro a sua posição de que a guerra era inevitável e teria início
numa questão de dias. Tinha perfeita consciência do risco da sua decisão: “A
opinião pública não ficará mais favorável e até piorará nalguns países, como no
caso da América.” Tony Blair tomou a palavra informando os presentes de que
Chirac através de uma entrevista dada à CBS, no programa 60 MINUTES, que iria ser transmitido nessa mesma noite, pediria que
fossem dados mais 30 dias no Iraque aos inspetores de armas da Nações Unidas.
Bush recusou veementemente, justificando que era uma tática de protelação.
Segundo ele, a França recorria a todos os meios para adiar a guerra. Na sala,
todos pareciam concordar. Fazendo um balanço dos esforços diplomáticos feitos
até então, os quatro líderes concordaram em dar mais 24 horas à diplomacia
embora tivessem consciência de que qualquer progresso nesse sentido seria muito
improvável.
Reviram a Resolução 1441 da
ONU para decifrar um ponto que lhes desse legalidade na entrada em guerra e
consideraram que, em caso de incumprimento das suas obrigações perante a
organização mundial, o Iraque sujeitava-se a sofrer “graves consequências”, o
que, neste prisma, lhes dava autoridade em optar pelo conflito bélico. Em
seguida, consideraram a hipótese de a França ou a Rússia apresentarem uma
contra-resolução para adiar a sua proposta de guerra. Tony Blair estava
incomodado, pois, segundo a sua perspetiva, um país que apresentasse uma nova
resolução com essa pretensão só podia encarar esse ato como diplomaticamente
hostil. Bush sorria porque nada o deteria das suas intenções e o encontro só
servia na verdade para informar os seus parceiros mais chegados de que a
decisão já tinha sido tomada. Para ele, o trabalho diplomático fracassara e até
adiantara-se dizendo que seria preciso planear o futuro do Iraque após a guerra
com as ajudas humanitárias e aproveitando o programa da ONU “oil for food”, que, como agora sabemos,
foi um autêntico desastre com atos graves de corrupção no país e na própria
organização. O encontro caminhava para o fim George Bush encerrava a discussão finalizando:
“Temos de construir um consenso internacional para o Iraque, um novo Iraque, em
paz com os seus vizinhos, e regressaremos às Nações Unidas para uma nova
resolução, depois da guerra. A ONU pode ajudar em muitos aspetos mas não deve
governar o país.” Deixava assim claro que seria a coligação a gerir o Iraque
depois do conflito. “Vou ter de discursar”, continuava, “Vou ter de lançar um
ultimato a Saddam”. O ditador teria assim 48 horas para deixar o Iraque.
A guerra durou nove anos. Depois
da morte de 4.500 soldados americanos, 30 mil feridos, pelo menos 100 mil
iraquianos mortos e um número incalculável de vitimados pela guerra por outras
formas, em outubro de 2011, o presidente Barack Obama declarou o fim do
conflito e anunciou a retirada dos soldados americanos ainda remanescentes.
Presentemente, o Iraque
ainda continua instável e perigoso, mas já não é problema da América.
Naquele dia, todos os olhares se fixaram
na Terceira com a transmissão de emissões em direto nos principais canais de
televisão do globo. Numa altura de profunda consternação por causa da redução
da presença americana na ilha, evocar este acontecimento dez anos depois serve
sobretudo para relembrar a importância geoestratégica dos Açores, nomeadamente
da Ilha Terceira.
domingo, março 03, 2013
Empreendedorismo e Agricultura Farmville
Muitos se indignaram quando o
Primeiro-ministro sugeriu a emigração como uma alternativa ao desemprego e à
precariedade dos jovens. De facto, este governo tem sido exímio em declarações
provocatórias. Há, contudo, políticos mais subtis. Quando um político desafia a
juventude a ser empreendedora, no atual contexto social e económico, só está a
reconhecer que nada pode fazer por ela.
Circula uma ideia errada acerca do
que é ser empreendedor. Empreender não é só abrir uma empresa ou trabalhar por
conta própria. Empreender é arriscar, é lutar pelos seus objetivos sem depender
de alguém ou de uma entidade para os concretizar. Por isso, não há sombra de
dúvidas de que quando alguém decide emigrar está a ser empreendedor. E esta
geração é a mais empreendedora de sempre. Sair do país é uma decisão extrema
que comporta riscos fáceis de imaginar. Mas basta um pequeno contacto no
exterior, o domínio do inglês, e um CV bem elaborado, e a juventude portuguesa
parte sem remorosos e, sim, com alguma esperança. “Mais vale a miséria de lá,
do que a de cá”: este lema, cada vez mais repetido, ilustra bem a situação
dramática a que chegamos.
Questiono-me se, mesmo sem crise, o
movimento migratório que se verifica na juventude não teria lugar na mesma,
pois a precariedade nos jovens tornou-se um fenómeno europeu. Esta geração, a
mais bem preparada de sempre, não pode esperar por dias melhores para
concretizar aquilo que sempre desejou ao longo dos seus estudos.
Outra situação digna de registo é o
chamado regresso à agricultura. O Ministério da Agricultura indica que mais de
200 jovens voltam para a terra todos os meses. Este é mais um exemplo de
empreendedorismo que não espera pela sugestão de um político. No entanto,
também aqui manifesto as minhas dúvidas. Haverá assim tanto jovem que de um
momento para o outro se tornou especialista na arte de cultivar? Ainda há
pouco, o que vinha logo à mente das pessoas quando se falava em cultivar era o
jogo Farmville. Pela primeira vez,
passou-se do virtual para o real, e não o contrário.
O desespero e a impaciência têm
levado a juventude portuguesa (e europeia) a tomar medidas difíceis e
arriscadas. Muitas delas têm sido felizes. Infelizmente outra parte da
juventude - de que ainda não se fala, mas que em breve será alvo de notícias - é
aquela que saiu do país, mas que voltou de mãos a abanar. São cada vez mais as
empresas estrangeiras, pressionadas pelos respetivos governos numa tentativa
demagógica de controlar a xenofobia, a recusar trabalhadores estrangeiros
qualificados.
Não consigo ver solução para este
problema. Penso que a sociedade europeia- e, em particular, a portuguesa - está
a sofrer transformações cujos resultados ainda não são percetíveis. Mas que Portugal
não voltará a ser igual, isso não.