Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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Localização: Praia da Vitória, Terceira, Portugal

domingo, outubro 27, 2013

A Europa não chega a tudo




            Em Portugal, andamos tão obcecados com a crise, de tal modo angustiados por não saber como será o dia de amanhã que quase não nos apercebemos de como a Europa se vai definhando de dia para dia. E não é pelas razões mais óbvias.

            Pela sua proximidade com o continente norte-africano, a ilha italiana de Lampedusa tem sido o porto de chegada de dezenas de embarcações naufragadas, de migrantes fugindo de guerras, da miséria dos seus países de origem, e que arriscam a vida e dos seus no meio do mar mediterrâneo com a ínfima esperança de que a Europa lhes dará uma vida melhor.

            Este êxodo, que muitas vezes resulta em tragédia e ao qual ninguém fica indiferente, tem levado a opinião pública a indignar-se face às políticas europeias de imigração. 

            Na sua ânsia de expandir o seu território, de abrir as suas fronteiras, de unificar nações social e culturalmente diversas, a Europa acumulou tantos problemas que já não consegue dar resposta a nada, perdendo-se nas suas contradições e ruturas internas. 

            São bem notórias as divisões entre o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia e países como a Alemanha ou a França. Com a crise das dívidas soberanas percebeu-se que a União Europeia é mais um conceito do que uma realidade, pois os países afundam-se e, com eles, as suas populações. 

            Bruxelas tanto quer imiscuir-se na vida dos agricultores exigindo um tamanho mínimo para as gaiolas das galinhas, como quer salvar a vida de milhares de imigrantes clandestinos como se não existisse o problema do desemprego jovem ou a precariedade laboral. Que não haja ilusões nem utopias: a Europa já não consegue tomar conta dos seus. Não pode de maneira nenhuma tomar conta dos outros.

Perante a subida dos nacionalismos, das tensões fronteiriças, das desigualdades económicas e sociais e das fragilidades da moeda única, vislumbra-se uma nova Idade das Trevas.

E que tal processar a EDA?





Há tempos, escrevi que a EDA é inimiga da Terceira por causa dos prejuízos que tem causado aos seus empresários e particulares com os sucessivos cortes de energia. Inimiga sobretudo na forma como tem lidado com o assunto – com um desprezo insultuoso -, que só se dignou em reparar após pressão dos agentes políticos e da Câmara de Comércio de Angra. 

            Soube-se que a DECO - Associação de Defesa do Consumidor – processou a ANACOM pelas falhas na implementação do sistema TDT, exigindo a quantia de 42 milhões de euros pelos prejuízos causados sobretudo localizados no interior do país.

            Esta ação judicial bem pode ser um exemplo a seguir pela nossa ACRA se pretende dar utilidade ao recém-inaugurado gabinete jurídico que tanta lhe fazia falta.

            Compreendo a diplomacia da Câmara de Comércio de Angra na sua iniciativa de recolher informações junto dos empresários prejudicados pelos frequentes apagões para posteriormente apresentar a fatura à EDA, mas considero que a ideia do tribunal deve estar em cima da mesa.

domingo, outubro 20, 2013

Absentismo e indisciplina nas escolas


            Continuo a achar que entre alargar a gratuitidade no ensino e alargar a escolaridade obrigatória é preferível a primeira opção. Contudo, a decisão foi tomada e os alunos portugueses são agora obrigados a frequentar a escola até aos 18 anos de idade. 

            Desde alguns anos para cá que as universidades portuguesas têm sido obrigadas a criar estatutos do estudante – pasme-se - por causa do aumento da indisciplina no Ensino Superior. São vários os professores universitários a queixarem-se da imaturidade e da falta de preparação dos estudantes. Este problema não é exclusivamente português: em França, várias faculdades foram obrigadas a criar cursos de ortografia. 

            Apesar de os governos serem pró-ativos no combate à indisciplina e ao absentismo escolares, acabam por ter parcos resultados, pois partem da premissa errada. O ónus da culpa recai sempre sobre os pais quando, a partir de uma certa idade, deveria recair unicamente no aluno. 

            A sociedade não se pode queixar da falta de valores quando os seus decisores políticos infantilizam os jovens, alimentando a desresponsabilização e a inconsequência dos seus atos. 

            Defendo que, a partir dos 16 anos, qualquer aluno deve ser o único responsável pelo que faz dentro do espaço escolar. Parece uma redundância, mas a realidade mostra o ridículo da atual lei quando esta obriga a que os pais sejam responsabilizados pelas faltas ou pelo mau comportamento do filho, mesmo que este tenha 17 anos de idade. Esta regra não faz qualquer sentido numa sociedade que se quer altamente competitiva. O rigor no ensino não se pode cingir somente à multiplicação de exames e avaliações. 

A exigência não se coaduna com a falta de responsabilidade. O sucesso escolar não combina com a falta de valores. A falta de valores inviabiliza a prosperidade de um país.

Fantochada no Parlamento Regional




        Nesta nova legislatura, os Açores têm pela primeira vez - tal como acontece no continente - uma mulher como Presidente da Assembleia Regional. Sendo o segundo cargo com maior relevo político na Região, espera-se que a escolha se tenha regido por critérios de experiência e competência políticas e não por uma cedência tonta ao politicamente correto. 

            Ana Luís foi a escolha do Partido Socialista para presidir à Assembleia Regional. Não foi, estranhamente, uma escolha consensual dentro do partido que sustenta o governo de Vasco Cordeiro. Com o tempo, percebe-se a razão de tal incómodo. 

            Quem tem a possibilidade de assistir aos plenários na cidade da Horta, fica com a sensação de estar dentro duma sala de aula onde a professora perdeu o total controlo sobre os alunos. A Presidente do Parlamento Regional não tem conferido dignidade ao cargo que ocupa quando se torna refém – ou, pior, cúmplice – da maioria parlamentar e dalgumas figuras do governo.

            As constantes interrupções dos socialistas às intervenções da oposição, a dualidade de critérios no trato aos deputados da maioria e aos da oposição são inadmissíveis, pois transformam a Assembleia Regional numa fantochada. 

            Se a autoridade e a imparcialidade da Presidência do Parlamento Regional não forem devidamente repostas, Ana Luís dificilmente terá condições para se manter no cargo. 


domingo, outubro 13, 2013

Os inimigos da Terceira




Ao longo dos anos, as duas maiores empresas dos Açores com capital público - SATA e EDA – têm demonstrado pouca consideração para com a Ilha Terceira. A companhia aérea nunca manifestou grande interesse em explorar o potencial económico da Terceira e em responder às pretensões da sua população e agentes económicos. Por seu lado, a companhia elétrica parece ter desinvestido na ilha, tornando os seus equipamentos obsoletos ou desatualizados. Resultado: apagões frequentes, com o consequente prejuízo para cidadãos e empresários.

            A SATA sempre foi criticada pelos preços proibitivos que pratica não só para os açorianos, como para os turistas. No entanto, na Terceira, a questão é mais profunda, prendendo-se com uma política centralista em prol de São Miguel, prejudicando os interesses e desvalorizando a importância da ilha Terceira. Desde a pernoita de aeronaves na Base das Lajes, dos horários de voos para o continente, das rotas para fora da Região, até à exploração das escalas técnicas, a SATA sempre despoletou desconfiança nos terceirenses. 

            Enquanto o governo Regional diz que aguarda e desespera pela decisão da República relativamente às obrigações de serviço público de transporte aéreo, a SATA lá vai sugando todos os tostões dos açorianos ao abrigo de uma coisa chamada “estatuto de residente”. Levar entre 300 a 400 euros por uma deslocação ao continente ou mais de 200 euros para ir para ir da Terceira para o Pico tornou-se tão rotineiro que já nenhum governo ou político se dá ao trabalho de dar um murro na mesa, exigindo o fim desta indecência.

A EDA é outra empresa que está na mira dos terceirenses pela sua ineficiência. Para além da tentativa fracassada na exploração geotérmica, temos agora os apagões que muitos achavam ultrapassado. Perante o prejuízo dos empresários e o descontentamento dos terceirenses, aparece um responsável da companhia a reconhecer os problemas estruturais dos equipamentos e redes e a necessidade de os renovar. No entanto, refere que os investimentos a fazer terão um custo para os cidadãos. Não deixa de ser estranho, pois a EDA é uma empresa com obrigações de serviço público e uma delas, talvez a mais importante, é fornecer eletricidade. Parte do dinheiro que lucra das faturas elétricas e de outros serviços prestados deveria servir justamente para a manutenção e o investimento nos equipamentos necessários. 

            A EDA anunciou que os recentes apagões se devem à requalificação da central de Belo Jardim, admitindo, por isso, mais cortes nos próximos meses. É de supor que, quando a obra estiver pronta, haverá mais falhas no fornecimento de energia por causa dos testes e pelo material ser novo e precisar das devidas adaptações. E, se essas desculpas esfarrapadas não servirem, há sempre o argumento de que os cortes de energia se devem a “eventos distintos”. Os terceirenses que tenham paciência ou que mudem de ilha.

            O facto destas duas empresas deterem o monopólio nas respetivas áreas de atividade constitui o motivo principal pelo péssimo serviço prestado aos açorianos, e terceirenses em particular. O Governo Regional demitiu-se do seu papel de mediador e regulador do mercado.

domingo, outubro 06, 2013

A idade de ouro da televisão




            O setor da televisão está a viver um período de ouro por duas razões: a primeira prende-se com a qualidade e a diversidade da oferta de programas; a segunda tem que ver com a revolução tecnológica dos últimos anos da qual a televisão tem sido a principal beneficiada. 

            A televisão por cabo teve um início tímido na década de oitenta do século passado. Considerado elitista por passar quase exclusivamente em centros urbanos e pelo seu preço pouco convidativo, o cabo tinha uma fraca presença junto da generalidade dos telespetadores. Com a evolução tecnológica, nomeadamente nos Estados Unidos com o advento da tecnologia Tivo, estavam lançados os primeiros dados da revolução televisiva que agora se encontra no seu esplendor.

            Vivemos o século dos nichos graças aos novos meios de comunicação e interação social. A televisão por cabo adequou-se na perfeição a este novo paradigma graças à explosão dos canais temáticos. A televisão generalista só tem mantido a sua predominância pelo facto de estar em sinal aberto. Quem pode aderir ao cabo, entranha essa nova forma de ver televisão e não mais a quer largar. 

            A programação nunca foi tão rica e diversificada como agora - não me atrevo em dizer quais os programas que prestam e aqueles que enojam, pois a variedade tem exatamente o propósito de satisfazer os gostos de todos e de cada um. A esse respeito, a supremacia norte-americana vem de uma longa tradição e de uma diversidade cultural e social notáveis. 

            Presentemente, ver televisão em direto é mesmo no sentido literal. Eventos desportivos, telejornais, edições especiais como entrega de prémios ou debates políticos são aqueles programas que requerem a simultaneidade entre o acontecer e o assistir. Tudo o resto, graças à tecnologia, pode ser visionado a qualquer hora – e aos poucos em qualquer lugar. 

            Ver televisão numa televisão já não uma redundância. Smartphones e tablets são os novos dispositivos que abraçaram esta revolução tecnológica. Muito se fala na caixa que mudou o mundo, mas, na verdade, ela mudou a maneira de olhar para esse mesmo mundo.

            Paradoxalmente, apesar das suas estrelas, dos seus respeitadíssimos realizadores e orçamentos colossais em blockbusters, o cinema não acompanhou esta revolução. Um exemplo: o cinema ainda se encontra em pé de guerra com os downloads ilegais - ao contrário das produtoras televisivas que elogiam os sites destinados à piratagem e até se aliam a eles, como o Netflix

            São várias as estrelas de cinema seduzidas pelo potencial da televisão, pela excelência dos seus conteúdos e pela estabilidade que esta lhes confere. São vários os realizadores de cinema que se aventuram nas séries televisivas por causa da amplitude na construção e exploração de argumentos e personagens. 

Hollywood já não encara a ficção televisiva como um género menor, mas sim como uma respeitosa rival. 

            Ecrãs plasmas gigantes, sistema de som Home Cinema, óculos 3D, sofá confortável, e comando numa mão, pipocas noutra. Não há sala de cinema que compita com este novo luxo caseiro. Os videoclubes foram os primeiros a cair. Hollywood só abraçará esta revolução quando fizer estreias mundiais nas nossas casas.