Complot

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...

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Localização: Praia da Vitória, Terceira, Portugal

quarta-feira, outubro 31, 2007

É interessante reparar na quantidade de obras publicadas sobre Salazar e o Estado Novo. É um bom caminho para desmistificar aquela época obscura e conturbada da história moderna de Portugal.

Dois livros aterradores para aqueles que ainda têm dúvida em relação ao mentor do Estado Novo e, sobretudo, para os nostálgicos do salazarismo quando se queixam do aumento da criminalidade ou da injustiça no nosso país:

A História da PIDE, tese de doutoramento de Irene Pimentel

e As Vítimas de Salazar, vários autores sob a coordenação de João Madeira.

Na minha biblioteca


Já chegou!


Au travail!

terça-feira, outubro 30, 2007

Dito por uma telespectadora francesa. No entanto, aqui, no nosso país, Santana Lopes chegou antes de Sarkozy. Estas duas situações resumem a crise de identidade por que passam os meios de Comunicação Social, nomeadamente a televisão. Pela pressão das ditas audências, pela urgência em ser o primeiro em dar a notícia, perdeu-se a razão e deixou-se de se distinguir entre o essencial e o supérfluo, o que é notícia e o que não passa de mexerico.
Tem de haver respeito pela pessoa que se entrevista mediante o que ela é e faz na vida pública. A um político interessa o que ele pretende construir para a Nação; de nada interessa falar na sua vida pessoal, sobretudo se ele próprio se recusa a fazê-lo. Falar com um treinador de futebol ou um político é muito diferente. Misturar os assuntos é cuspir na democracia. Aliás, sempre me fez confusão ver o jornalista Carlos Daniel, da RTP, moderar o Debate da Nação, com deputados eleitos, representantes dos seus partidos e na semana seguinte moderar um programa em que se discute futebol. Simplesmente, não pode ser.

domingo, outubro 28, 2007

O que é que te ensinam na escola?


Diz-se que a escola é o espelho da sociedade. Na minha ingenuidade patética, recuso esta afirmação, porque ainda acredito que a escola é o símbolo da igualdade de oportunidade concedida a qualquer cidadão que queira contribuir para o progresso do país. Mas antes de continuar é preciso clarificar duas perguntas: O que significa “espelho da sociedade”? E qual o sentido de “contribuir para o progresso do país?”.



A sociedade actual – e falo da nossa, a ocidental – tem sofrido evoluções positivas no que concerne a qualidade de vida das pessoas. No entanto, sabemos que nem tudo é perfeito e que existe grandes desigualdades sociais com destaque para a elevada pobreza. Aliada à pobreza, existe outras situações negativas como a criminalidade, a toxicodependência, a violência doméstica, etc. No espírito reformista do sistema educativo, a democratização do ensino consistia em dar a possibilidade a pessoas com menos recursos económicos em poder ascender cultural e socialmente. A escola era o sonho para aqueles que sonhavam em ser alguém na vida. A escola era tudo menos o espelho da sociedade; e todos queriam que assim fosse. Contudo, os primeiros erros que se cometeram foram no momento de elaborar os currículos e de distribuir o parque escolar.



Num pensamento igual ao do polémico cientista que fez afirmações racistas, pensou-se que os pobres eram menos inteligentes, por isso nivelou-se o ensino por baixo. Pedagogos, inspirados na nova ciência da época chamada sociologia, convenceram os governantes de que o sistema de ensino devia basear-se em factores como o ensino pela descoberta e pela atribuição e avaliação de competências de cariz social. Com o tempo, não só estas teorias continuam como agora algumas escolas promovem a junção de alunos com competências idênticas na mesma turma. Na teoria é muito bonito. Na prática veja-se: alunos repetentes todos juntos; alunos com problemas familiares ou sociais todos juntos. Alunos com bom aproveitamento todos juntos (a origem social destes alunos é, regra geral, determinante para o seu sucesso). A partir deste ponto está tudo dito. Se nos lembrarmos dos bairros sociais, dos bairros dos ricos, das sociedades privadas, de facto, a escola tornou-se mesmo o espelho da sociedade.



Muita gente tem consciência disso, mas agora que a caixa de Pandora se abriu não há volta a dar e o país enterra-se cada vez mais. A pressão das estatísticas internacionais pressiona os governantes. Altas taxas de abandono e insucesso escolares minam as ambições políticas e embaraçam qualquer responsável na área da educação. Mas o que verdadeiramente deveria envergonhar os políticos são as medidas que tomam para fazer face a esta situação. Fazem batota, a batota mais irresponsável que se viu. Criam percursos alternativos para crianças problemáticas, pagam alunos para ficarem na escola, atribuem subsídios de risco para os professores que leccionam em zonas problemáticas, multam pais se o filho faltar muito às aulas. Tudo isto em nome do quê? Da mentira disfarçada por números. Aprender deixou de ser a prioridade nas escolas. Se cada partícula viva desta Terra se rege pela evolução natural, nós, Homens, dos quais não quero pertencer, criámos a selecção social.



Todos nós queremos vencer na vida. Todavia, este vencer pode ter várias conotações. Vencer na vida pode significar trabalhar arduamente por aquilo que se deseja, como pode significar não perder o que já se tem, por muito pouco que seja, e logo que não dê muito trabalho. A sociedade espera que cada um de nós contribua para o progresso do país e, respectivamente, da Humanidade. Ao deixar esta premissa morrer, os governantes deixam o país morrer aos poucos. A competitividade é um termo que não se aplica só às empresas. Os nossos alunos já começaram a pagar estas malvadas decisões políticas. Um país que tem uma alta taxa de analfabetismo ou de insucesso escolar e que ao mesmo tempo tem mais de 40 mil licenciados no desemprego só pode encher-se de vergonha.

sábado, outubro 27, 2007

Eu sei que há uma polémica sobre o facto de um cientista de renome ter afirmado que os pretos são menos inteligentes do que os brancos. Claro que é de consenso dizer que é um absurdo, mas é também interessante reparar que nos Estados Unidos, Bill Cosby, actor preto, tem uma associação cuja finalidade é a de pressionar, motivar os afro-americanos para o sucesso, tentando contrariar o espírito de resignação e de vitimização que se verifica.
O facto de grande parte dos afro-americanos viver em condições precárias leva a que haja menos possibilidade de vencer na vida (o que pressupõe estudar). Como se diz por aí: Por serem pobres é que são menos inteligentes.

Na minha biblioteca


O Sétimo Selo, José Rodrigues dos Santos
Lê-se bem para quem gosta de passear no tempo e no espaço ficando em casa.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Sarkozy anda armado em salvador do planeta com as suas iniciativas "verdes". O que faz a inveja quando se está ao lado de Al Gore. O ambiente está na moda, dá votos e simpatias; buta apostar no discurso ecológico!
Suspender as OGM?!! É triste...
Porque não anuncia fortes investimentos em pesquisa científica para encontrar uma energia alternativa ao petróleo? Isso sim, faria dele um herói!

segunda-feira, outubro 22, 2007

Socialismo de pacotilha


Quando, no início do seu mandato como primeiro-ministro, Tony Blair lançou a sua terceira via, muitos cépticos prognosticaram a impossibilidade em coadunar os ideais de Esquerda com políticas reformistas de Direita. Segundo este prisma, o seu mandato resultaria num fracasso. Contudo, Tony Blair, inspirado no legado de Margaret Tatcher, conseguiu provar o contrário e acabou por marcar positivamente a Inglaterra. Aliás, a grande contestação à sua actuação política cingiu-se basicamente ao seu apoio incondicional aos Estados Unidos com a respectiva participação na guerra do Iraque.


Em Portugal, a terceira via seduziu António Guterres que se limitou a um certo flirt ideológico mas foi com José Sócrates que se passou a vias de facto. E, contrariamente à Inglaterra, estamos a assistir a um autêntico desastre com repercussões no futuro. Um governo socialista de centro-direita, como o actual, quer abranger o melhor em termos de políticas económicas e financeiras da Direita, tentando manter a matriz socialista que consiste no acréscimo de apoios aos mais desprotegidos do qual resulta uma maior presença do Estado em diversos sectores da sociedade. Ninguém gosta de ver pessoas pobres ou socialmente discriminadas, nomeadamente a Direita, no entanto esta última defende uma maior emancipação individual, daí a negação de um Estado demasiado interventivo na sociedade.


Ao misturar inconsistentemente estes conceitos, o Partido Socialista não só renegou o seu passado ideológico como também criou mais desigualdades sociais. De um conjunto de boas intenções e da vontade reformista resultam um país mais pobre, mais desigual, mais divergente da União Europeia. A centralização do poder no Estado, pelas mãos deste governo, reforça a ideia socialista primária que nasce do famoso Contrato Social, de Rousseau. Um erro de palmatória, pois o conceito de “o Estado sou eu” só serve para ditaduras. Os episódios recentes que mostram sinais preocupantes de prepotência por parte do governo – mesmo que a democracia não esteja em causa – evidenciam incompreensão dos dirigentes políticos para com as contestações às reformas que pretendem implementar. Pensando que aquilo que estão a fazer é certo, esses políticos não aceitam que lhes apontem defeitos, muito menos que se proteste na rua. Acusam evidentemente os sindicatos, as primeiras instituições vítimas do totalitarismo, negando os elementares direitos que a Constituição lhes confere. O fascismo e o comunismo sofreram dos mesmos sintomas. Cegos perante a sua ideologia e intolerantes relativamente a quem lhes fizesse frente, serviram-se da censura e da repressão para calar quem estorvava.


O nazismo encontrou nos judeus uma fonte de receita e de ódio para dar fruto às suas ideias nacionalistas, o comunismo impediu a criação de riqueza na sua cegueira pela luta das classes, o governo de José Sócrates aposta no extermínio da classe média chupando até ao tutano os seus rendimentos; resultado: o fosso entre ricos e pobres acentua-se. Para ganhar o apreço do povo, o governo de José Sócrates aposta na aversão aos movimentos sindicais e na incitação à inveja social quando ataca sectores profissionais como os juízes ou os professores sem querer perceber que em certas profissões as condições de trabalho diferem umas das outras. Mas ao tentar armar-se em Robin dos Bosques foi “roubar” o dinheiro às pessoas erradas. Presentemente, algumas famílias da classe média trabalham não para viver mas para sobreviver, usando o seu salário somente para pagar as suas dívidas e com o pouco que sobra para comer. Os impostos elevadíssimos que se fazem sentir na carteira servem para apoiar os mais pobres e reduzir a dívida nacional. A consequência lógica destas políticas seria a respectiva diminuição da pobreza. Mas não. A crise mantém-se e o desemprego aumenta. Inclusive, assiste-se ao aparecimento de uma nova pobreza envergonhada com jovens em situação bem precária.


José Sócrates não gosta de receber lições de ninguém, mas devia ficar mais atento às vozes que vêm de dentro do Partido Socialista. A aprovação consensual que existe no PS em relação às políticas do governo é falsa e vive pelo facto de este se encontrar no poder. Alguns notáveis do partido sabem o que realmente se passa na sociedade, porque não estão ludibriados pela nova ideologia e querem um governo de volta aos ideais socialistas.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Num dos sketches do último programa dos Gato Fedorento, eles conseguiram ilustrar muito bem aquilo que escrevi no texto anterior relativamente ao défice.
Não há melhor humor do que o cinismo!

Viver com a corda ao pescoço




O país atravessa grandes dificuldades financeiras e económicas que acabam por afectar a vida dos portugueses em geral. Esta crise parece não ter fim à vista e o actual governo, que no início do seu mandato criou grandes expectativas, optou por uma estratégia que não foge muito às políticas de restrição financeira dos anteriores governos do PSD – a única diferença foi de as ter ampliado. No Orçamento apresentado para 2008, ao contrário do que foi dito dias atrás pelo Ministro das Finanças, há um imposto que sobe: o IRS. Se que bem que localizado, não deixa de ser um aumento e por isso significa o contrário do que foi anteriormente dito.





Como tem sido referido pela oposição, a diminuição do défice público tem sido feito mais à custa do aumento dos impostos do que propriamente com o contributo da receita. E aqui os portugueses, já impacientes e com a corda ao pescoço, ficam perplexos: afinal, com tantos doutores em finanças e economia, a única forma que os governantes encontram para resolver o problema é recorrendo a medidas que qualquer contabilista médio saberia implementar? Para obter dinheiro facilmente quando se está em situação de aperto, aumentam-se os impostos. Quando todo os impostos são aumentados e não se consegue, mesmo assim, resolver o problema acaba-se com o sistema de justiça social e justifica-se a decisão em nome de uma falsa “igualdade social”. Concretizando, será mesmo justo penalizar reformados que auferem uma pensão de seiscentos e poucos euros? Será justo considerá-los de pensionistas de luxo? Se assim é, o país está mesmo muito mal.





Neste e nos anteriores orçamentos, não se encontraram medidas engenhosas que dessem conta das dificuldades. Desta forma, não há dúvidas de que mais ano, menos ano o défice será quase irradiado, porém, o país estará completamente esgotado porque os sinais que vêm do estrangeiro não são nada animadores. Existe a possibilidade de uma recessão económica. A Europa que, ainda há pouco, dava sinais de retoma recua, mantendo altas taxas de juro. O dólar está desvalorizado em relação à moeda europeia o que dificulta as transacções financeiras para a zona euro. Os índices de confiança estão muito baixos o que leva as bolsas mundiais a negociar a preços incipientes.





Portugal precisa do exterior para atrair investimento estrangeiro e para poder exportar os seus produtos. Estes são os dois factores que podem verdadeiramente ajudar o país na sua retoma; sem isso nada feito. Os resultados visíveis da actual política são o aumento do desemprego, a disparidade social, uma nova vaga de imigração, a diminuição de emigrantes que já não vêem interesse em instalar-se no nosso país e o aumento da criminalidade em geral. Este é o cenário negro ao qual assistimos e pelo qual rezamos que não nos atinge. Todavia, aproxima-se devagar.





Quando Luís Marques Mendes defendia a diminuição de certos impostos – ao contrário de Luís Filipe Menezes –, tinha razão de ser. Presentemente, com a orientação deste governo e a conjuntura internacional, a mensagem é clara: esperamos até melhor dias, por isso é favor manter os cintos apertados. Todavia, os cintos já não têm mais por onde apertar e só resta agora o pescoço. Já não se pode esperar mais. É preciso dinamizar a economia do país a partir de dentro e não com base em expectativas que dependem de factores externos.




O choque tecnológico é um princípio inteligente para dar um novo alento mas, mais uma vez, quando posto em prática é um autêntico conjunto de medidas avulso para inglês ver; a tal propaganda. A última vez que houve um choque tecnológico em Portugal remonta ao século XV com o Infante D. Henrique. E naquela altura o investimento em conhecimento e tecnologia ultrapassou em muito a actual barreira dos 3% do PIB estabelecida pela União Europeia. A falta que faz ter visionários a liderar um país…

segunda-feira, outubro 08, 2007

César candidato a líder dos "PSD Açores"

Na vida, não há probabilidade mais alta do que aquela que consiste em acertar no sexo de um bebé que ainda se encontre na barriga da mãe: ou será rapaz, ou rapariga. Quando se perspectiva o desempenho de um político o mesmo acontece: ou terá um bom desempenho, ou terá um mau desempenho.

Dito isto, os comentadores políticos de renome têm sido bastante negativos e pessimistas em relação ao destino do PSD, liderado por Luís Filipe Menezes. Por isso, têm 50% de hipóteses considerando o prognóstico efectuado. E não deve haver melhor consolo do que dizer no futuro: “Eu não vos disse!”; tal pena as probabilidades de acertar no euromilhões não serem as mesmas. No entretanto, as pessoas já quase esqueceram a pouca vergonha que foi o processo eleitoral do partido e divertem-se agora com a operação vingança dos novos pretendentes ao trono laranja contra aqueles que sempre contestaram Luís Filipe Menezes. Sem dúvida que o novo presidente vai mexer com a actual resignação do partido e do país e sem dúvida que o governo tem razões para se preocupar. O único receio é do PSD fazer oposição à esquerda do PS, irmanando-se com o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda. Se o fizer, para além dos barões perderá também a sua essência ideológica e consequente razão de existir.

Com as alterações que o partido vai sofrer, muito se fala da vontade em mudar a actual liderança do PSD Açores. Carlos Costa Neves poderá não ter o apoio de Menezes na sua recandidatura em detrimento de outro candidato. Se a posição do PSD nacional não tem grande relevância nos desígnios regionais, não é menos verdade que detém um poder de influência que condicionará o voto dos militantes açorianos. As semelhanças entre o que se passa com o PSD a nível nacional e regional são, por vezes, gritantes. Nas últimas eleições de 2005, Costa Neves e Natalino Viveiros foram os candidatos à presidência do PSD Açores. Em Novembro deste ano, adivinha-se o mesmo embate. Com Marques Mendes e Menezes, o mesmo acontecera. Talvez Natalino Viveiros acredite que os ventos de mudança que se deram no continente cheguem até às ilhas.

Esta semana, porém, um novo candidato não oficial apareceu sem que ninguém se apercebesse. Carlos César foi à Madeira fazer as pazes com Alberto João Jardim e participar na reunião das Regiões Ultraperiféricas (RUP). O encontro entre os dois foi tão mediático que os resultados da reunião das RUP passaram completamente ao lado. Não se sabe se por cortesia ou por contaminação mas Carlos César teceu duras críticas ao governo central, fortalecendo assim o suposto “namoro antigo” com o presidente da Madeira. Apesar de dias depois ter voltado atrás na palavra, afirmando que fora mal interpretado, o mal está feito e os dois arquipélagos estão doravante unidos para a vida na alegria e na tristeza. De regresso aos Açores, o presidente açoriano nomeou Álvaro Dâmaso para presidente da Agência para o Investimento dos Açores. Não estando em causa as capacidades de Álvaro Dâmaso no desempenho dessa nova função, estes dois acontecimentos ocorridos na mesma semana mostram uma estranha aproximação de César com altos membros do PSD. De facto, para assegurar uma reeleição, como não existe oposição interna no PS, nada melhor do que cortejar os adversários.

Esta estratégia política poderá minar de vez a ambição do PSD Açores em chegar ao poder em 2008. Quando as nomeações políticas chegam e sobram para colocar quase toda a gente ao serviço do governo, ninguém se atreve nem se dá ao trabalho de querer alterar as coisas. Por vezes, dormir com o inimigo é a melhor solução para o impedir de fazer mal.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Aumentar o IVA para o bem da região


Muitos criticam a demagogia e o populismo fácil. Na maior parte das vezes, é com razão porque a hipocrisia e a falsidade são termos sinónimos. No entanto, certas situações, no mínimo, escandalosas levam a uma atitude comparável, constituindo autênticas excepções à regra. Para alguns, o que defendo neste texto é demagógico e revela ignorância; para outros, poderá estabelecer um tema sério para discussão. Factos são factos e este dói; pelo menos, na carteira.


Sendo os Açores um arquipélago, as autoridades governamentais criaram formas de reduzir os custos dessa insularidade. Com incentivos e apoios de vária ordem, o conceito de discriminação positiva foi aplicado na região por forma a possibilitar uma maior igualdade no acesso a todo o tipo de bens entre os portugueses. Uma das medidas encontradas foi a de ter a taxa do IVA mais baixa do que a que vigora no continente, cabendo ao Estado suportar os custos dessa diferença. O desenvolvimento da região permitiu que o meio empresarial crescesse e uma verdadeira economia de mercado se implementasse sem depender exclusivamente do Estado. A concorrência é, actualmente, uma realidade que não tem retorno. Ainda bem.


Para os consumidores atentos – e não é preciso muita atenção, basta ir às compras, por exemplo –, a realidade não corresponde em nada às teorias sobre economia acima descritas e mais, quando se conhece o resultado da estatística do INE que aponta os Açores como a região com o poder de compra mais baixo do país, então a consternação é total. Afinal, qual é o interesse em viver na região mais cara do país e que, ainda por cima, se situa no meio do Atlântico?



Nos bens de primeira necessidade, na habitação, nas consultas médicas privadas, no acesso à cultura, nos bens de luxo: tudo está inflacionado. Ou o preço é igual ao praticado em Portugal continental ou é superior. Preços baixos? Preços acessíveis? Não há duvidas: só no continente.



As despesas de transporte poderiam servir de argumento para justificar tão elevados preços. Mas basta ir a um hipermercado de uma cidade no interior do país e verificar que o leite açoriano é lá mais barato do que aqui na região. Por que razão o custo do transporte só funciona somente para um lado? Já agora, por que será que o leite de São Miguel é mais barato na Terceira do que o próprio leite da Terceira? Continuando: por que é que uma passagem aérea Porto/Terceira é mais barata do que uma Terceira/Porto? Podia enumerar dezenas de casos semelhantes noutras coisas do dia-a-dia. A resposta soa a óbvio: é a economia, estúpido! Se a maior parte dos açorianos é prejudicada com este sistema, uma outra ínfima parte lucra e muito. Deixo aos leitores a liberdade de tirar as suas conclusões.



Ao ler este texto, o Presidente do Governo Regional alegará que devo deixar-me de choramingas e tratar de ser mais empreendedor criando uma empresa. Contudo, a minha veia altruísta leva-me a defender que, para o bem de todos os açorianos, a taxa do IVA que vigora nos Açores deva ser equiparada à do continente, pelo facto de a actual solução fiscal ser ineficaz e até, diria eu, contraproducente.



PS – A vitória de Luís Filipe Menezes poderá trazer grandes problemas para o PSD Açores. No seu discurso de vitória, ia-se esquecendo de falar das próximas eleições regionais, o que prova a importância que (não) atribui a esta batalha política. Pelo menos, irá dar alento aos adversários internos de Carlos Costa Neves. Por que não acreditar numa vitória parecida?