Os açorianos são um povo violento?
Nos mais recentes dados fornecidos
pela APAV, os Açores colocam-se nos lugares cimeiros no que concerne a
violência sobre crianças e idosos. Todas as semanas vão surgindo notícias de
crimes e furtos ligados ao tráfico e consumo de drogas, violência doméstica e negligência
parental de carácter grave. Sei que a imprensa regional não gosta de pôr estes
horrores nas suas páginas, mas, como o meio é pequeno, as pessoas comentam e,
infelizmente, acaba por haver versões dos acontecimentos deturpados que denigrem
a honra de certas pessoas. Não obstante, o essencial mantém-se: nos Açores, a violência
tem contornos muito específicos que obrigam a uma profunda reflexão.
A crise não ajuda mas ela não é também
o único fator que explica a razão de tanta criminalidade num meio tão pequeno
como a Região. Há, de certeza, fatores sociais, mas há também fatores culturais
que explicam parte dessa violência intimamente ligada à pobreza.
É verdade que a segurança dos cidadãos
é da responsabilidade da República, mas o que tem a dizer o nosso Governo Regional,
cujo primeiro dever é zelar pelo bem-estar dos açorianos? Como vão as políticas
de apoio social e de inserção promovidos pelo atual Governo? Como vão as
políticas relativas à toxicodependência, nomeadamente o fornecimento da
metadona que agora até é feito praticamente a domicílio e onde mães vão
acompanhadas das suas filhas tomar a “meta”, como se fosse a coisa mais natural
do mundo?
Onde estão os valores da
fraternidade e do respeito pelos mais velhos, pelas autoridades e pela
hierarquia social? Existe solidariedade para além da que existe pontualmente nos
dias de recolha do Banco Alimentar? Será que a justiça deixa de existir quando
nos incomoda? Serão o egoísmo, o imediatismo e a superficialidade os novos mandamentos
do ser humano?
É preciso lançar este debate, pois
as reformas de que Portugal e os Açores precisam não podem ser só económicas; devem
ser civilizacionais.