Um paraíso em declínio

A violência tomou proporções preocupantes nos Açores. Alastra-se na sociedade como se de uma praga se tratasse. Desde os actos de vandalismo, como o incendiar de carros, à criminalidade mais violenta, que envolve assaltos em pleno dia, o arquipélago tornou-se uma das regiões mais inseguras do país. Dos responsáveis políticos não se ouve uma palavra que possa tranquilizar os açorianos. Confrontado com uma onda de violência que se verifica nas escolas da Terceira, o Secretário Regional da Educação, Álamo Menezes, limitou-se a dizer o óbvio: eram casos pontuais e identificados. O pior, nestas situações, é quando se espera que de casos pontuais se transformem em casos recorrentes para aí demonstrar alguma preocupação. Aos governantes não lhes ficava mal manifestar a sua preocupação e a sua vontade em resolver o problema. A questão da insegurança resolve-se com medidas eminentemente políticas.
Algumas autarquias decidiram criar um conselho para a segurança com o intuito de detectar a origem do problema e de o resolver. Chegaram à conclusão de que muito se deve à falta de agentes da autoridade. O próprio Presidente do Governo Regional interpelou o Ministro da Administração Interna para que destacasse mais agentes para o arquipélago. No entanto esta medida avulsa não resolve nada. A hipótese de criar uma polícia municipal para libertar os actuais agentes da autoridade para funções de campo e que tenham mais a ver com a ordem pública parece mais adequada, pois funções como as do controlo dos parquímetros, por exemplo, só menorizam os polícias.
Mas há uma questão mais delicada e mais difícil de resolver que explica, em grande parte, a razão do aumento da criminalidade nos Açores. A região tem um alto índice de pobreza. Apesar do progresso económico ser bem visível, apesar de ter um PIB muito alto para a média nacional, o arquipélago continua a ter gente em condições de extrema pobreza, a qual não se compreende nesta era socialista. Alias, cada vez que o governo socialista apresenta medidas para combater a pobreza e as desigualdades sociais, o efeito é contrário! Não faltam exemplos: rendimento social de inserção que tornou as pessoas mais dependentes e as conduziu à inutilidade; bairros sociais que se transformaram em guetos e refúgios para o tráfico de estupefacientes; combate à toxicodependência que, de certa maneira, legalizou o consumo sem diminuir o flagelo; oportunidades no ensino para os alunos problemáticos que só os isolou e os colocou à margem da sociedade.
Na minha opinião, o governo socialista não acerta uma em termos de políticas sociais. Prova disso é que agora o que se discute é o facto de algumas cidades como Nova Iorque serem mais seguras do que a cidade de Ponta Delgada. Essa dói. Dói, porque a população dos Açores não chega aos 400 mil habitantes espalhados em nove ilhas e não se vê forma de acabar com esta vergonha. Dói porque a região precisa do turismo e, com esta situação, mais vale parar de gastar dinheiro à toa em BTL ou outros eventos semelhantes. Dói, porque aqui toda a gente se conhece e sabe quem anda a dar cabo deste paraíso, transformando-o num inferno. Finalmente, dói porque os governantes preferem pegar numa pá e lançar a primeira pedra de um qualquer edifício ao invés de pegar num machado e cortar o mal da insegurança pela raiz.