
Com tanta euforia em terras americanas, bem sei que apetece fugir para lá, mas voltemos ao nosso país, voltemos à nossa realidade. Voltemos às discussões dos nossos governantes sobre a crise, sobre o estado da nossa Nação, sobre o próximo Orçamento de Estado que definirá o rumo do dinheiro dos contribuintes. Mesmo que essa discussão - protagonizada por políticos portugueses de fraca oratória comparada com a excelência da dos políticos americanos - pareça pobre, ela acaba por influenciar a nossa vida. A oposição encontra defeitos, erros, omissões e algumas maldades intencionais colocadas sub-repticiamente em alíneas de decretos, mas é logo a seguir arrasada por um governo e um Partido Socialista prepotentes, arrogantes que estão apoiados em quase toda a linha pela Comunicação Social.
Esta última optou por defender que a oposição não presta, queimando deste modo os líderes, nomeadamente os da Direita. Por um lado, é verdade, pois a renovação de uma liderança é um elemento fundamental para a própria renovação ideológica e discursiva de um partido. E, de facto, a oposição que temos, salvo raras excepções, tem pautado por um discurso previsível e a reboque das manchetes dos jornais. Porém, as críticas certeiras que têm sido feitas ao governo de José Sócrates têm estimulado o lado demagógico do Partido Socialista, com os respectivos clichés que a Esquerda tanto gosta de se apropriar.
Entre vários, o primeiro tem que ver com a questão da criminalidade. Em 2006, o jornal Correio da Manhã noticiava em primeira página que os “Imigrantes Enchem as Prisões”. Por lapso, pois não se lhe reconhece associação com a extrema-direita, o diário em questão confundiu estrangeiros com imigrantes, O governo tratou logo de emitir um comunicado a corrigir o erro. Contudo, no final do documento, lá vinha a questão politicamente correcta que lamentava a tendência xenófoba em relacionar criminalidade e imigração. Na verdade, o governo, incapaz de antecipar o que viria acontecer, não explicara a razão pelo facto de Portugal se transformar num local propício à estadia de estrangeiros com graves antecedentes e intenções criminais. O Verão de 2008 tratou de provar que a criminalidade violenta aumentou significativamente e o tipo de crimes inovadores, como os assaltos a bancos, a carrinhas de transporte de valores ou o carjaking, comprovou a influência estrangeira no modus operandi. É óbvio que esta discussão é delicada, melindrosa porque ao falar-se disso não há a mínima intenção de apelar ao ódio racial, é óbvio que boa parte da explicação a esta vaga de insegurança tem por base a degradação das condições sociais dos cidadãos, reflexo da crise porém, não se pode negar que há um número elevado de estrangeiros (e também imigrantes) associados a ela. Quando na sequência, o deputado Paulo Portas sugeriu restrições à imigração e expulsão de imigrantes condenados pela prática de crimes, infelizmente, lá veio outra vez o discurso moral-esquerdista acusando a Direita de ser xenófoba.

Este tipo de polémica teve recentemente um novo desenvolvimento com a entrevista de Manuela Ferreira Leite acerca das futuras obras do regime. Quando disse que esses empreendimentos favoreciam o emprego de Cabo Verde e de Ucrânia e não de Portugal, lá tivemos outra vez os socialistas, pela voz de José Sócrates, a entoar o discurso moral-populista que defende a não distinção entre o trabalhador português e o imigrante. Mais uma vez, a Direita é, alegadamente, xenófoba. Mas a resposta dada por Manuela Ferreira Leite era mais profunda. No estrangeiro, os portugueses têm vencido trabalhando essencialmente na construção civil, mas em casa parece que já não vale o sacrifício. A construção civil em Portugal continua a viver no passado da mão-de-obra barata, desqualificada e explorada, fazendo com que os portugueses prefiram viver de “rendas” sociais do que sujando as mãos na massa. Os clichés não se ficam só pelo discurso de “todos racistas menos nós”. Eles abundam noutras áreas da vida pública.
No domínio da Educação, o socialismo também tem as suas predilecções. Anda-se a falar nas hipóteses de alargar o ensino obrigatório até ao 12º e de abolir as retenções em todo o ensino básico. No segundo caso, justifica-se com a ladainha da ineficácia dos chumbos, mas não se explica como o passar toda gente, mesmo aqueles que não sabem, pode melhorar a educação. O primeiro caso só se justificaria se o actual sistema fosse altamente bem sucedido. Que se saiba não. O actual sistema de ensino obrigatório e gratuito ainda fica muito caro às famílias portuguesas.
Esta enumeração de clichés socialista tem um aspecto em comum: a desresponsabilização individual. Uma sociedade que não equilibre correctamente a balança entre os Direitos e Deveres não pode estranhar tanta injustiça e impunidade.