A educação pode não ser a solução

Este blogue nada tem de original. Fala de assuntos diversos como a política nacional ou internacional. Levanta questões sobre a sociedade moderna. No entanto, pelo seu título - Complot -, algo está submerso, mensagens codificadas que se encontram no meio de inocentes textos. Eis o desafio do século: descobri-las...
Costumo escrever sobre presidentes, sejam eles do Governo ou das Câmaras. Porém, desta vez, baixo a fasquia e escrevo sobre o deputado Berto Messias que é também líder da bancada parlamentar do PS e líder da JS Regional. E, por incrível que pareça, Berto Messias pertence à Geração à Rasca, ou melhor, politicamente à rasca.
O deputado escolheu o dia da extraordinária manif para anunciar aos seus camaradas que vai propor em sede de Assembleia uma iniciativa que obriga o Governo Regional a garantir emprego ou uma alternativa formativa para qualquer jovem desempregado da região no prazo de 50 dias. Também defendeu um sistema de incentivo às empresas açorianas que contratem jovens abaixo dos 35 anos. De facto, com estas medidas, denota-se uma certa preocupação com as reivindicações da juventude. Contudo, a solução apresentada é errada, perniciosa e democraticamente perigosa.
A actual crise que o país e até o Ocidente atravessam obriga a um debate ideológico sobre o Estado social, isto é sobre a presença do Estado nos diversos sectores da sociedade. Como se tem visto, os socialistas têm recusado fazer esse debate agarrando-se ao seu conceito utópico de um estado social paternalista e omnipresente. A realidade tem comprovado o contrário, mas mesmo assim continuam na sua. José Sócrates será recordado como a figura central dessa refutação obsessiva da realidade e quase patológica.
A proposta do deputado socialista açoriano continua na linha politicamente trágica que defende a obrigação do Estado em resolver todos os problemas da sociedade. O Estado não tem que garantir nenhum emprego a ninguém. Este é o busílis da questão. O Estado deve facilitar a criação de empresas (inclusive empresas de formação) e a iniciativa individual; deve garantir a defesa dos trabalhadores contra uma possível exploração por parte de empregadores; deve facilitar a mobilidade laboral e deve criar estabilidade nas regras estabelecidas para os pensionistas. Quanto ao resto, tudo é discutível. Esta, admito, é uma visão ideológica que se coaduna mais com a perspectiva liberal, mas a realidade tem-nos mostrado como o socialismo não consegue resolver os problemas dos cidadãos, e mais: quanto mais tenta intrometer-se mais se torna parte do problema.
Caro Berto, considero que as suas propostas são erradas e vão de encontro com aquilo que defendeu há tempos atrás, ao lado do filho de Carlos César, acerca do empreendedorismo jovem. Por isso, digo que está a ser incoerente e que o que propõe não responde àquilo que os jovens verdadeiramente precisam. Há muita coisa com a qual não me revejo na manif – como os cartazes “quero comprar uma casa”, “um emprego para a vida”, etc. -, mas consigo separar as águas e ter a percepção de que o Estado deixou de ser a solução para o problema da precariedade que, como vimos, vai para lá dos jovens.
Os jovens não precisaram do Estado para perceberem que, numa situação de desemprego prolongado, era preciso estudar mais ou que mais valia ter um trabalho precário do que não ter nenhum. Outros deixaram simplesmente de contar com o país para coisa alguma e rumaram para o estrangeiro. Esta é a situação que foi sendo criada ao longo dos anos. Este é o resultado. Não se trata de baixar os braços; é preciso reconhecer que perdemos (por uns tempos).
Poderei posteriormente discutir que tipo de remendos (nem me atrevo a falar em soluções perante tão grave problema) se pode fazer para diminuir este flagelo social, mas antes é preciso debater que tipo de Estado poderá corresponder a esta nova “ordem democrática”.
Pergunto-lhe, Berto, faz sentido o tipo de sistema político-partidário que compõe a nossa Assembleia Nacional? Faz sentido um Presidente da República formatado pela actual Constituição? Faz sentido que a nossa justiça seja tão morosa? Numa questão mais local, faz sentido que a maior parte das soluções que o Governo Regional apresenta seja à base do subsídio?
Continuo na minha: acredito piamente que a crise abre o caminho para um verdadeiro debate ideológico sobre como a sociedade se deve reger. Tenho pena que até o PSD Açores não o faça.
Afinal, é disto que se trata. Para muitos, a Democracia civilizou-nos. Mas na verdade, a Democracia amansou-nos.
A contestação das pessoas organizou-se, institucionalizou-se e hierarquizou-se sob a batuta dos sindicatos. O poder político tratou de acarinhar com palmadinhas nas costas a sátira social que tinha por objectivo chamar a atenção contra os males da sociedade. A comunicação social acolheu as várias perspectivas políticas e ideológicas como se de uma partida de futebol se tratasse. Entretanto, todos se foram esquecendo que por trás da opinião pública crescia uma geração esclarecida que mais tarde iria tomar conta do país.
E esse momento chegou.
Há um desalento que paira nesta geração que se vai transformando em revolta. Esta geração, que também cresceu ouvindo Jim Morrison mandar o seu pai para outro lado, agarra-se agora à família porque precisa dela e porque o seu pai adoptivo - “o Estado” - desapareceu no momento crucial da sua vida, depois de lhe ter prometido um futuro risonho.
É interessante como neste momento de profunda crise financeira seja possível identificar os seus culpados (os mercados, os capitalistas, etc.), mas ao mesmo tempo seja impossível (proibido?) nomear culpados para a situação de um país doente que não sabe cuidar nem dos velhos nem dos novos.
Sim, existe liberdade de expressão, mas dizem que não é para reclamar por melhores condições de vida, pois antigamente ia-se para a guerra e havia ainda mais miséria; sim, os movimentos cívicos são salutares, mas convém que os partidos políticos (nomeadamente os do costume) lhes dêem uma ajudinha; sim, existe uma degradação dos nossos políticos, mas só eles é que podem fazer afirmações dessas; sim, não falta quem dê a sua opinião sobre tudo e mais alguma coisa, mas só vale aquela que é dada pelos comentadores dos “quadros”.
Há quem queira transformar isto num despique entre gerações para determinar quem está pior se os novos, os velhos, os doentes ou os desempregados com mais de 40 anos. Há quem encontre pseudónimos – “geração à rasca”, “geração Internet”, “geração mileurista”, “geração telemóvel” - todas as semanas, querendo transformar esta geração em coisa nenhuma. Há quem diga que as músicas de intervenção já não existem, pois só Zeca Afonso e Sérgio Godinho é que sabem da arte e que os Deolinda – tão aclamados ainda há pouco tempo atrás – não passam de uns “rockeiros” com letras simplórias. Há quem argumente que, se estamos mal, não faltam oportunidades para lá do Mediterrâneo ou dos Pirenéus. E há quem defenda que em vez de nos queixarmos, deveríamos apresentar alternativas.
Pois é, mas num sistema democrático e multi-partidário, quem deveria apresentar alternativas são justamente os partidos da oposição. Vocês querem mesmo que sejamos a alternativa?
Aos poucos, vai-se percebendo por que a manif desta geração incomoda tanta gente.
Todos toleram a irreverência dos mais novos, só que alguns acham que, por existir a televisão e a Internet, não há necessidade de fazer tanto barulho; ou por outras palavras, o que interessa é a mansidão das pessoas. Por isso é que recentemente se descobriu que as praças das cidades não servem só de cenário para cartaz turístico (obrigado, Tunísia e Egipto). Chegou a hora de mostrar que os sacrifícios que o país está a fazer têm um preço: a mudança do sistema que nos governa.
Cara minha geração, actualmente não existe alternativa porque Portugal exige que sejamos nós a alternativa. Na verdade, o mais difícil não é organizar uma manifestação; difícil será o pós-12 de Março de 2011.