
Um novo modelo para as Sanjoaninas
Até agora, a cultura popular da Terceira tem seduzido açorianos de outras ilhas, nomeadamente em São Miguel, o que leva à exportação - sem franchising - de manifestações culturais como as marchas de São João em Vila Franca do Campo e as touradas à corda na Ribeira Grande. O mais estranho nisto tudo é que a Terceira tem sofrido com um certo desgaste pelo facto de as festas das Sanjoaninas terem esgotado o seu modelo quer em termos de programa, quer em termos de inovação.
No momento em que ainda decorrem as festas, algumas vozes respeitáveis têm lançado reptos e avisos sobre o assunto, apelando aos responsáveis da Câmara de Angra para que se crie um grupo de trabalho que reformule o actual modelo das Sanjoaninas. Convém, antes de mais, perceber o que já não resulta no actual modelo e assumir que o sucesso crescente das Festas da Praia da Vitória facilitou o desgaste das maiores festas de Angra por servir de comparação para a população.
Dito isto, a concorrência é sempre um elemento salutar, pois obriga a uma constante actualização e inovação sob pena de desvalorizar o produto promovido. Como melhorar o produto Sanjoaninas? Por mim, há dois elementos fundamentais que precisam de ser mudados: os espaços e o programa. Este último tem de apostar em dois vectores: qualidade em detrimento da quantidade e valorização da cultura popular local.
As marchas, as touradas à corda e de praça são os eventos culturais intocáveis que podem melhorar nos pormenores, tais como a organização, a pontualidade e a logística. Mas há outro detalhe que pode fazer a diferença: a noite das marchas deve ser a mais longa das festas por isso, as outras noites não podem ser tão compridas. Aqui é uma questão de princípio e de simbolismo, discutível eu sei. As Sanjoaninas podem também transformar-se numa amostra da riqueza do que é a cultura popular da ilha. Deste modo, permitir que os bailinhos de Carnaval voltem a actuar durante as festas com o devido destaque, em local apropriado e digno parece-me muito positivo e inovador. Promover e premiar a cultura local constitui uma aposta genuína com potencial turístico, porque se torna diferente das inúmeras festas de Verão que existem no arquipélago e no país.
O Bailão é um local que já deu o que tinha a dar. Se no passado foi uma infra-estrutura nova e eficiente, com o aumento de habitações à sua volta, este local para espectáculos transformou-se num autêntico pesadelo para quem vive lá. A um autarca, é moralmente insustentável organizar as festas da cidade sabendo que vão prejudicar a vida de um número considerável de munícipes. O futuro do Bailão tem de ser revisto. O palco tem, no entanto, de deixar de existir. Então qual alternativa?
Existe o parque de estacionamento ao pé da Praça de Toiros ou a própria Praça de Toiros para a realização de concertos. Pode-se falar também do Estádio João Paulo II. Menos concertos, melhores artistas e sobretudo entrada paga para quem quer ver. A minha perspectiva é polémica mas defendo que tudo o que vem de fora com custos elevados tem um preço que deve ser custeado pelos próprios habitantes. Os artistas locais têm de ser convidados a participar para promover os seus trabalhos, enriquecendo assim a vivacidade criativa desta ilha.
Este é um pequeno contributo que possa ser aproveitado por quem de direito, faltando propositadamente outros pontos por falta de espaço. Falar das Sanjoaninas não é só falar de Angra: é falar de todo um povo e de toda uma cultura.

A Vitória da Praia
Quando se tem dúvidas sobre a seriedade dos políticos, convém por vezes observar o concelho em que se vive para ver o que de pior se faz em política, mas também o que de melhor se pode fazer em prol dos cidadãos e da sua terra.
A Praia da Vitória encontrou um rumo, um desígnio que se, para alguns, era perfeitamente natural, levou demasiados anos a ser descoberto. O elogio que faço à actual presidência da câmara é perfeitamente sentido. A cidade está mais bonita, mais acolhedora e mais atractiva. Não sei quanta a dívidas, não sei quanto a outros caminhos que possam ser trilhados com vista ao progresso deste concelho. O que está feito é, para mim, estrategicamente correcto e adivinho que os praienses achem o mesmo.
Contudo, o poder é embriagante e ofusca os políticos da realidade. Se quem manda tem vantagem em mostrar obra feita, quem está na oposição tem oportunidade para fiscalizar e escrutinar quem manda. Uma democracia saudável baseia-se e perpetua-se com base nestes dois contra-pesos.
A Praia está ao rubro. E ainda bem; não só ganham os praienses como toda a Terceira.